Capítulo 17: Visito o calabouço lá de baixo

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      — Esse é o momento mais propício para salvarmos Halley — disse Gabriel, olhando para dentro do poço e apoiando o queixo com a mão. — Com Halley no calabouço, Lilith não saberá se nós a tirarmos de lá agora.

Os legionários presentes, ainda em silêncio, começaram a se entreolhar, exalando alguma dúvida pelos olhos. No fundo, todos sabiam que estavam se perguntando a mesma coisa: como eles entrariam no inferno sem serem notados? Seria possível? E como eles chegariam lá? Ariel, então, rapidamente virou-se para o arcanjo Gabriel, com o cenho franzido e a boca de certa forma torcida em sinal de indagação, e perguntou:

— Mas meu irmão Gabriel, como entraremos no inferno para resgatar Halley? O portão do inferno está fechado há séculos e não temos permissão nem de encostar nele.

— Há também a porta dos fundos do inferno, a cratera de Darvaza que pega fogo continuamente — disse Noah, o canadense, dando um passo na direção de Gabriel, mas ainda com a cabeça baixa, em sinal de respeito — porém, nossos poderes angelicais não são capazes de nos levar até lá pelas viagens através das sombras. Nossos poderes se enfraquecem no território dos demônios.

— Além disso — completou Ícaro — precisamos ir agora. Não temos tempo de viajar até Darvaza e entrar no inferno pela cratera.

Gabriel, então, passou seus dedos longos pelos finos cabelos loiros, colocando-os para trás das orelhas, e abriu um enorme sorriso. Seus olhos brilhavam de alegria, sinal este que anunciava a todos que o anjo estava prestes a se vangloriar novamente. O que não era nenhuma novidade esplêndida.

— É por isso que eu, o amabilíssimo arcanjo Gabriel, sou o arcanjo mensageiro. Eu sou capaz de atravessar todos os mundos, sejam eles céu, terra, inferno, limbo, purgatório ou qualquer outro mundo, pois visito-os quase todos os dias para entregar todos os tipos de mensagens. Dessa forma, creio que vocês precisarão da minha solene ajuda.

 — Não só da vida de carteiro de orações vive um anjo — sussurrou Solo, com a voz cheia de cinismo — Mas de cada mundo que ele visita para ajudar a pobre legião.

Ao ouvir a piada de Solo — que fora dita quase que em volume inaudível — Gabriel virou-se bruscamente na direção de Solo, com os olhos ardendo em chamas e gritou:

— Mais respeito por mim, mixticius! Se eu quisesse, eu poderia te incinerar aqui e agora diante de todos os teus companheiros.

— Tenhas calma, irmão — disse o pretor Raphael, tocando o ombro de Gabriel e fazendo com que as chamas nos olhos do arcanjo mensageiro diminuíssem de tamanho — Solo é só um garoto, não leves a sério suas travessuras.

Gabriel, respirando fundo, como se contasse de um até um milhão em rápidos cinco segundos, olhou para o pretor, ainda com a sua pupila soltando pequenas brasas, e disse:

— Tudo bem. Agora tenho trabalho a fazer, do contrário, a nefilim filha de Ephizael permanecerá eternamente no calabouço do inferno. Adeus — e olhando para Solo, ainda com os olhos semicerrados, Gabriel retomou — e adeus para você também, mixticius.  

E o arcanjo, por fim, abriu suas enormes asas brancas e alcançou o voo como uma águia nos céus. Gabriel parecia um cisne voando, tão gracioso e de movimentos tão leves que o vendo parecia conduzir sozinho as penas de suas asas. O arcanjo, então, envolveu-se com suas próprias asas e, fechando-as ao seu redor, foi consumido por uma enorme luz azul que o fez desaparecer no ar, deixando para trás apenas um rastro de poeira azul, indicando que ele já havia se teletransportado para o inferno.

*   *   *

         Halley acordou com suas costas doendo e com a cabeça tonta e um pouco dolorida; por algum motivo, ao despertar, a nefilim percebeu que havia sido aprisionada por grossas correntes douradas, semelhantes às correntes que Lilith usara para prendê-la em seu salão real, e que mal podia se mexer, a não ser que quisesse ter seus pulsos perfurados outra vez. A primeira coisa que Halley pensou em fazer foi tentar puxar seus braços de dentro das correntes, mas nada adiantava; ela não conseguiria se livrar daquelas correntes, não daquele jeito. Porém, enquanto tentava livrar suas mãos das correntes, Halley percebeu que, naquele lugar escuro e úmido, um ranger de dentes e choros sussurrantes podiam ser ouvidos com facilidade, vindos de todos os cantos. Certamente Halley não estava sozinha naquele calabouço, mas ela não sabia se aquilo era reconfortante ou se a deixava ainda mais assustada.

A Última Nefilim - Livro I (EM REVISÃO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat