Capítulo 22

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Por mais que o mais sensato fosse procurar a polícia naquele momento, Brenda estava ansiosa demais para isso. Ela mesma tratou de descobrir o endereço de onde ficava o orelhão e ir até lá no mesmo dia. Apenas teve a cautela de não ir com seu veículo. Decidiu por um táxi. Quando o taxista comentou que a deixaria próxima do local, confirmou sua suspeita: era um local perigoso. Mas não se amedrontou. Saber notícias do seu filho havia despertado nela uma coragem que nem sabia existir.

Já anoitecia quando desceu do táxi. O local estava meio deserto, havia apenas alguns transeuntes. Percebeu destes um olhar de "você não é daqui" devido às suas roupas de grife. Brenda sabia que tinha que ser rápida para o que já era perigoso não se tornar ainda mais. Teve o cuidado de abordar uma senhora que dava a mão a uma criança com uniforme colegial.

— Oi, boa tarde.

A senhora quase não parou, mas Brenda entrou na frente dela e disse:

— Oi, eu queria saber onde fica a rua Alameda.

A senhora pensou um pouco e respondeu:

— Tá vendo uma subida no final dessa rua? Você vai subir até o final e depois virar à esquerda. Mas... — a senhora olhou Brenda de cima a baixo e depois completou: — Você vai lá sozinha?

Mais um aviso de que o lugar era perigoso.

— Vou, sim. Vou visitar a casa de uma amiga — mentiu.

— Ah, tá.

— Obrigada, viu?

— De nada.

Brenda imediatamente começou a se dirigir ao local. Na subida do morro, percebeu um menino de uns 16 anos munido de uma arma, ele a olhava. Decidiu falar com ele para despistar. Aproximou-se e disse:

— Oi.

— Fala, tia.

— É que eu vou visitar uma amiga na rua Alameda. Você sabe onde fica?

O menino estudou Brenda por alguns segundos e, não achando nada de suspeito, respondeu:

— Tia, fica no final desse morro. Depois você vira na esquerda. Mas da próxima vez, pede para a sua amiga vir buscar você. Aqui o bagulho é doido.

— Tá. Vou pedir. Obrigada.

Com certo medo, subiu o morro e dobrou à esquerda. Avistou o orelhão de longe. Passou em frente a uma pequena mercearia e resolveu entrar. Havia somente um homem assistindo a TV e descascando uma laranja. Indagou:

— Oi, boa tarde, quer dizer, boa noite já.

O homem estudou Brenda de cima a baixo como todos da favela. Respondeu:

— Boa noite.

— Essa rua se chama Alameda?

— Sim, senhora.

— Eu acho que você pode me ajudar. Por acaso recentemente alguém comprou um cartão de orelhão aqui?

— Isso existe ainda? — indagou o homem, rindo.

— Existe. Existe, sim — forçou uma risada. — Meu filho arranjou uma namoradinha aqui na favela e tenho quase certeza que ela ligou do orelhão no final dessa rua. Sabe como são esses garotos. Saiu de casa e nem avisou. Deixou o celular. Liguei para saber e descobri que ficava aqui. Quero encontrá-lo. O senhor pode me ajudar?

O homem fechou a cara e disse:

— Sabe o que é, dona? Acho difícil a namorada do seu filho ter ligado de lá. Quase ninguém usa aquele orelhão. Ele está direto. Não precisa usar cartão. Por aqui nem sei quem vende isso. Aquele orelhão é usado muito pelo assistente do dono da boca, entende? Aqui na comunidade, acho que só ele usa aquele orelhão.

— Ah, tá. Eu acho que sei quem é. É o... Ih, agora esqueci o nome dele.

— É o Rolha.

— Então tá. Eu pensei que a namorada dele ligou daquele orelhão. Deve ser de outro então. Obrigada mesmo assim.

— De nada.

Brenda saiu assustada da mercearia. Olhou a hora em seu relógio e se informou que já eram 18h. No entanto, precisava confirmar apenas uma coisa. Aproximou-se do orelhão e, como não havia ninguém próximo, pegou o fone e discou o próprio número do celular.

Curioso, o dono da mercearia fingiu estar colocando lixo na frente do estabelecimento a fim de ver o que Brenda fazia.

A bina do aparelho de Brenda acusou o número que havia ligado para seu filho. Agora ela tinha certeza. Era dali mesmo que haviam ligado para Lucas. Brenda tinha pelo menos um suspeito. Chamava-se Rolha e, pelo visto, era uma pessoa perigosa. Entretanto, não podia se arriscar mais naquele dia, precisava pensar em um modo de entrar ali e investigar o que acontecia de forma mais discreta. Ligou para o táxi que a trouxera e marcou de encontrá-lo no mesmo ponto em que descera. Iria para casa decidir o que fazer.

...

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