Capítulo 5

21 3 1
                                    

Rio de Janeiro, 2014

NA loja, O expediente iniciava às 9h. Porém, Brenda, metódica incorrigível, chegava todos os dias uma hora antes de abrir com o intuito de averiguar tudo na loja, que deveria estar em completo controle. Quando percebia algum problema, na maioria das vezes, tinha tempo para resolver o que fosse antes mesmo de abrir as portas ao público. Todo esse cuidado era para garantir o atendimento mais primoroso ao cliente.

Naquele dia, faltando vinte minutos para abrir a loja, percebeu que estava tudo em ordem. As funcionárias começaram a chegar, e Monique, a gerente, também. Todas rapidamente vestiram seus uniformes no provador e aguardaram o horário da loja abrir. Cinco minutos antes das 9h, Monique percebeu a ausência de Renata, a funcionária que frequentemente estava se atrasando. Sabia que mais uma vez ela se atrasaria. Aproximou-se de Brenda para comentar sobre o problema:

- Hoje eu vou ter uma conversa séria com a Renata - disse Monique.

- Não, Monique. Pode deixar que eu mesma falo. Eu vou para o escritório. Assim que ela chegar, pede para ela me encontrar lá.

Monique assentiu com a cabeça.

Renata só deu as caras na loja por volta de 9h30. Chegou como sempre apressadamente, pedindo desculpas à gerente. Esta deu o recado de Brenda. Renata gelou. Quase que a voz não saiu para responder:

- Tá. Vou lá.

Dirigiu-se até o escritório com os pensamentos mais negativos possíveis. Os olhos queriam lacrimejar, no entanto, controlou-se. Meu Deus, não posso ser mandada embora agora. Não agora.

Brenda cuidava da contabilidade da loja no computador, sentada à mesa do escritório, quando ouviu as batidas na porta. Deduziu ser Renata.

- Pode entrar, Renata.

A funcionária entrou branca como se tivesse visto um fantasma. Brenda fez sinal para que ela se sentasse. E, desconfortavelmente, sentou-se. Brenda ajeitou a cadeira mais para frente e, olhando firme para a funcionária, começou:

- Renata, há um bom tempo venho percebendo que você não está bem. Anda chegando atrasada, não se concentra direito no trabalho, faltou algumas vezes nesse mês.

Ai, meu Deus, vou ser demitida mesmo.

Brenda continuou:

- É claro que deduzi que você devia estar passando por um problema. Porém, você nem me procurou para dizer o que era. Lembra que assim que te contratei, eu disse a você para contar comigo quando estivesse com algum problema? Mas você não fez isso. Fui obrigada a investigar a sua vida. Quis saber o que tanto te incomodava. Confesso que eu errei em ter feito isso. Sei que nenhum chefe tem o direito de investigar a vida de seus funcionários. Mas juro que só queria ajudar. Eu acabei descobrindo algo que não devia.

Renata não entendia mais nada. Pensava que seria demitida, entretanto, o rumo da conversa tomava uma direção que ela jamais esperava. Se antes estava preocupada com o emprego, agora a preocupação era outra. Estava quase deduzindo o que a chefe pretendia dizer, no entanto, torcia para que estivesse errada. Não queria ouvir o que tinha medo de ouvir.

Foi então que Brenda, falando em um tom mais baixo, indagou:

- Renata, por que não me contou que recentemente descobriu que seu filho é soropositivo?

Renata ficou mais branca ainda. Estava estupefata. Infelizmente, Brenda usara a palavra que ela jamais desejava ouvir; o assunto que nunca quis comentar; o segredo que não queria compartilhar. Porém, agora, não tinha escolhas. Precisava responder. No mesmo tom baixo, falou:

Reféns do MedoWhere stories live. Discover now