- Onde vovó está? – Questiono curiosa.

- Com sua tia Marta. – Franzo o cenho – Seus tios estão empacotando as coisas da casa e sua avó está contando qual quer doar e qual quer dar para alguém da família. – Concordo com a cabeça.

- Converse com ela, Laur, sua avó anda muito mal. – Minha mãe pede com a voz meio tremula.

- Ela não tem conversado com você? – Questiono baixinho.

- Com ninguém, não atende telefonemas e faz questão de quase enxotar quem a visita. – Comprimo meus lábios, eu jamais iria imaginar minha avó fazendo coisas do tipo.

- Seria bom se você tentasse convence-la de que morar conosco vai ser muito melhor do que ficar ali sozinha. – Meu pai sugere e eu concordo com a cabeça – Ela não está muito feliz com a ideia de ter que deixar a casa. – Cruzo os braços, respirando fundo diversas vezes.

- Pode deixar, acho que já sei o que vou conversar com ela. – Sussurro passando a mão pelo rosto, levemente nervosa em vê-la - Nós podemos todos irmos em seu carro? – Concorda com a cabeça – Preciso tirar a camionete da garagem dela e leva-la para a minha casa.

- Aquela camionete feia continua lá? – Encaro minha mãe incrédula – Eu achei que você tivesse tirado na primeira vez que a visitou. – Revira os olhos – Por que não fez isso anos atrás?

- O vovô gostava de dirigir a camionete, ok?! – Resmungo ofendida, caminhando em direção a porta – Agora vamos logo para o carro, antes que Dona Clara resolva falar ainda mais mal do meu bebê. – Minha mãe bufa e meu pai ri baixinho, saindo logo atrás de nós de casa.

Metade do caminho foi comigo tagarelando sobre lembranças de família que nós tínhamos na casa dos meus avós, não demorei nada para notar minha mãe com os olhos cada vez mais marejados, o que nos fez parar de tocar no assunto e consequentemente tudo ficar em silencio.

Meu avô sempre foi um pai maravilhoso, assim como foi um marido, sogro e avô incrível, ele sempre foi o tipo de pessoa que contagiava de alegria a pessoa que estava por perto e fazia questão de garantir uma memória inesquecível para quem quer que fosse. Se para a minha pessoa doía pensar em sua morte eu não conseguia imaginar a dor que minha avó e minha mãe sentiam ao lembrar dele, mas definitivamente deveria ser uma dor dilacerante.

Estacionamos o carro e antes de descer olhei a casa pela janela, não conseguindo evitar o suspiro agoniado e decepcionado escapar da minha boca. A pintura da casa estava desgastada, o jardim estava completamente morto e a grama um pouco alta, refletindo o descuido da dona consigo mesma e com suas coisas.

Era deprimente, uma casa antes que reluzia aconchego e alegria, agora refletir apenas tristeza e frieza.

Descemos do carro e caminhamos lentamente em direção a casa, que tinha a porta aberta mostrando a enorme quantidade de caixas já empilhadas ao lado da escada, assim como quatro malas. Continuei entrando na casa e sorri timidamente quando escutei a voz de minha avó vindo da cozinha, assim que entrei pude vê-la sentada no acento de meu avô com um vestido verde simples e sapatos que não eram da mesma cor, mas combinavam com sua roupa.

Assim que minha avó me viu o seu rosto, antes triste, se iluminou. Dona Grace fez questão de se levantar da cadeira para me abraçar apertado e lotar o meu rosto de beijos demonstrando todo o seu amor e carinho por mim através daqueles gestos. Ajudei-a se sentar e então entreguei o seu presente, vindo diretamente da França, seu sorriso quase não coube no rosto e isso fez eu me sentir bem por faze-la sorrir verdadeiramente. Sentei ao seu lado, pegando meu celular para mostrar minhas fotos com Camila na lua de mel, as que não haviam sido enviadas para ela ou para a minha mãe, também informei que minha esposa havia mandado um beijo e pedido desculpas por não poder vir ajudar com a mudança.

Letters To Camila - Segunda TemporadaWhere stories live. Discover now