P.O.V Pedro

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-Bom dia. - Meu pai abriu a porta do meu quarto com uns papéis na mão.
-Bom dia - falei me levantando ainda sonolento.
-Vamos ver quando você vai aprender à acordar cedo... - meu pai falou colocando os papéis em cima da minha cama.
-Hoje é domingo - "E meu aniversário" tive vontade de completar.
-Pouco importa. Quero que leve esses documentos no meu escritório hoje, vou ficar metade do dia no Buffett e não vou ter tempo. - concordei com a cabeça e ele saiu do quarto.
Eu sei que no último mês meu pai tem trabalhado feito um louco já que além de cuidar do buffet da minha mãe, trabalha no seu escritório de advocacia. Mas custava me dar uma folga? É meu aniversário! Eu só queria ficar jogando vídeo game na hora do almoço com o Dudu, depois dar um rolê de skate com a galera, ver um filme com Márcia, Zoar Daniel e passar um tempo com a Bella. Era tudo que eu precisava.
Tomei banho, escovei os dentes e fui tomar café. Meu pai estava falando no celular quando a companhia tocou.
-Parabéns!!! - Márcia me abraçou assim que abri a porta.
-Só eu mesmo para te fazer acordar nove da manhã em um domingo.
-Eu já estava acordada faz tempo tá?
-Tá bom... Quer entrar? - perguntei.
-Não, só vim te dar parabéns e o seu presente! - ela estendeu uma sacola para mim.
-Carai! O boné que eu queria, você é a melhor! - coloquei o boné com a aba reta virada para trás.
-Eu sei, eu sei. - jogou o cabelo pro lado. - Bella já te ligou?
-Ainda não. Deve tá dormindo sei lá.
-Tá andando demais com ela já até pegou a mania do "sei lá" - Márcia disse fazendo aspas no ar e eu sorrir.
-Pedro venha logo tomar café! - meu pai gritou da cozinha.
-Já vou! Meu pai tá um saco hoje...
-Desculpa mas ele é um saco todos os dias... Vai fazer alguma coisa hoje?
-Acho que não, se der passo na sua casa mais tarde - Dei uma abraço em Márcia e entrei.
Tomei café rápido, joguei os documentos em uma mochila e peguei meu skate. Já estava saindo quanto meu pai me chamou.
-Parabéns, aqui seu presente - me deu uma abraço sem jeito.
-Obrigado. - respondi abrindo o presente. Não fiquei supreso quando vi que o presente era uma carteira.
-Para você aprender a administrar seu dinheiro, afinal você já é um homem.
-Só tenho 16 anos.
-Com essa idade eu trabalhava, estudava e ainda ajudava em casa! - esse discurso de novo... Mereço.
-É melhor eu ir. Tchau.
-Não vá de skate, aqui o dinheiro pro táxi.
-Tá. - pensei em pegar o dinheiro do táxi para mim e ir de skate mas tive uma idéia melhor.
Pedi pro táxi parar no hospital, e fui ver Dudu. Depois vou pro escritório de skate.
-Bom diaaaa - entrei no quarto de Dudu.
-Parabéns! - ele e minha mãe me abraçaram.
-Obrigado. Como você tá?
-Um pouco enjoado.
-Passei rápido já estou indo.
-Não! Fica só mais um pouquinho...
-Tá bom.
Eu e Dudu ficamos brincando e minha mãe estava mais abatida que o normal. Ela precisa descansar mas não quer sair um minuto de perto do Dudu. Olhei pro relógio e me assustei ao ver que faltava quinze minutos para onze horas!
-Tchau Dudu! Preciso correr! - dei um beijo nele e em minha mãe e corri pro escritório.
Eu estava tentando ir o mais rápido que eu podia no skate, atravessei na frente do carro e o motorista me xingou. Quando cheguei na porta do escritório era 11:02. O carro de meu pai estava na porta. Fu*#%.
-Onde você estava seu irresponsável? - meu pai perguntou assim que entrei na sua sala.
-Eu passei no hospital para ver o Dudu.
-Você saiu de casa nove e pouca da manhã! Sabe que horas são?
-Desculpe, e que ele pediu para eu ficar mais um pouco e eu acabei perdendo a hora.
-Sabe o que eu quase perdi? O cliente! Por sua culpa! De onde você acha que vem o dinheiro pro tratamento de Dudu? Do céu? Vem do meu trabalho! - quando ele começa falar assim, é melhor ficar calado.
-Você não consegue fazer nada certo né Pedro? Fica o dia todo andando nessa porcaria com aqueles pivetes!
-E você? Eu sempre te respeitei e fiz de tudo pra te agradar! Me matei de estudar pra prova do intercâmbio para fazer SUA vontade e quando passei nem um "Parabéns" você me deu! Mas quando desisti de ir por conta do Dudu você estava lá para me julgar e jogar um monte de coisa na minha cara! - falei tudo que estava entalado. Meu pai virou as costas e quando virou para frente de novo me deu um tapa no rosto.
-Você está ficando maluco igual a sua mãe! Quando o Dudu morrer só eu vou está normal nessa família!
-O Dudu não vai morrer! - meus olhos já estavam marejados, a ideia de perder Dudu me assusta mais que qualquer outra coisa.
-Ele só tem 8 meses de vida! - gritou com lágrimas nos olhos. O tapa doeu menos. Meu mundo se despedaçou em um segundo.
-N-não, ele está bem!
-Ele parece bem mas seu organismo quase não reage ao tratamento.
-Por quê não me contaram?!
-Sua mãe não deixou. - abri a mochila e joguei os documentos em cima da mesa e sai.
Quando já estava longe do escritório parei no passeio de uma casa, sentei no skate e chorei como uma criança de três anos. Peguei meu celular e liguei para Bella, só ela podia me acalmar. Tentei duas vezes e ela não atendeu, vi meu reflexo no celular e o lado direto do meu rosto estava super vermelho por causa do tapa. Levantei e fui para casa.
Me joguei na cama e fiquei ouvindo música até meus ouvidos doerem.
Márcia apareceu no meu quarto sorridente e falando um monte de coisa. Continuei parado, sem ouvir nada por causa do fone.
- Pedro?- Ela falou enquanto tirava o meu fone- O que aconteceu?
- Eu não quero ficar aqui, vamos para a sua casa.
Chegando na casa de Márcia eu me sentei no sofá e continuei parado, olhando para um ponto fixo.
- O Dudu vai morrer- Digo interrompendo alguma história que ela estava contando.
- Não Pê, vai ficar tudo bem- Ela disse sentando do meu lado e segurando a minha mão.
- Márcia, dessa vez é definitivo, ele só tem mais oito meses de vida- Olhei para Márcia e vi que ela estava chorando. Sem fazer nenhum barulho ou careta, com a cara séria.
- Eu sinto muito, de verdade- Ela falou com a voz fraca.
Meu celular começou a tocar e um número da Bella com uma foto de nós dois apareceu na tela. Já tinha duas chamadas perdidas. Atendi.
Oi - Falei tentando disfarçar minha tristeza.
-Me desculpa Pê!!! Estou me sentindo horrível!
-Ah... Não tem problema.
-Parabéns meu amor! Te desejo tudo de mais lindo que você continue sendo essa pessoa maravilhosa que tem o melhor abraço do mundo.
-Obrigado Bella. Por tudo.
-Como eu queria te ver, tô com saudades.
-Eu também... Tô na casa de Márcia mas daqui a pouco vou pra casa.
-Vai fazer alguma coisa hoje?
-Acho que não, mas qualquer eu te digo.
-Ok, beijos.
-Beijo. Não esqueça mais de mim.
-Nunca.
Desliguei e quis chorar ainda mais, eu queria tanto ver a Bella. Falei para Márcia que ia na casa do Daniel e que depois ligava. Peguei meu skate e fui ultrapassando todos os carros.
- Oi Pedro- A mãe dele falou sorrindo ao me ver e abrindo mais a porta.
- Oi- Falei dando um pequeno sorriso. Era o máximo que eu conseguia. Entrei e me sentei do lado de Daniel no sofá.
-Parabéns!!!!- Ele levanta e me abraça- Agora me fala, o que aconteceu?- Daniel perguntou, parando de sorrir.
- Nunca vou descobrir como você reconhece tão facilmente o sentimento das pessoas.
- E eu nunca vou descobrir o motivo para você não dividir seus sentimentos comigo. Sou o seu melhor amigo!- Ele exclama, parecendo chateado, mas logo sorri.
- E o seu papel como meu melhor amigo é fazer com que eu fique feliz... eu acho.
- Tá, a gente podia chamar alguns amigos seus e ir para aquela balada, comemorar o seu aniversário.
- Gostei da ideia! Me empresta uma roupa que eu me arrumo aqui mesmo.
Nos arrumamos, chamamos a galera e fomos pra lá.
- E aê Pedroca!!- Felipe me cumprimentou, acompanhado de Fábio e Presunto (o nome dele mesmo é Claudenilson, mas ele não gosta muito).
A balada estava lotada. Eu e Daniel sentamos em um banquinho em frente ao bar.
- Trouxe pra vocês- Presunto falou, trazendo dois copos com bebida.
- O que é isso?- Eu perguntei pegando o copo e olhando o que tinha dentro- Cerveja? Desculpa, mas eu não bebo.
- Bebe um pouquinho Pedroca, é bom que esquece dos problemas- Presunto falou e me deu um tapa nas costas, saindo.
Comecei a lembrar dos "problemas" que eu queria esquecer. Lembrei da minha mãe chorando escondida no banheiro do hospital todas as noites, do meu pai gritando comigo e me batendo, e principalmente de Dudu, a beira da morte sem nem mesmo saber. Quando eu vi já tinha bebido o copo todo.
- Tá ficando maluco?- Daniel perguntou tirando o copo na minha mão.
- Foi mal.
- Foi péssimo! Você conhece o Presunto, ele deve ter batizado isso aqui- Ele falou sussurrando e eu comecei a ficar realmente preocupado.
Daniel ligou para a Márcia e chamou ela para vir. Ele não falou o que tinha acontecido, mas o importante é que ela estava vindo. O problema é que tudo estava ficando tão colorido.
As vozes das pessoas estavam mais distantes e com eco. Andei até um sofá que estava no canto. Tinha casais se beijando por toda parte. Tudo estava girando, mudando de cor, as vozes do meu pai e os pedidos de socorro de Dudu me atormentando. Olhei para o chão tentando me estabilizar.
- Oi Pedro- Alguém falou se aproximando- Tá tudo bem?
- Oi, tá, tudo ótimo. Tá tudo ótimo. Ótimo- Disse tentando acreditar.
- Humm... Gostei do seu All Star- A garota falou.
Levantei o rosto imediatamente e olhei nos olhos da única pessoa que poderia me acalmar no momento. A Bella.
Ela estava diferente dos outros dias. Sua roupa estava colada e curta demais, estava usando salto alto, e estava muito mais baixa do que eu mesmo usando salto, o que é estranho já que normalmente ela é quase do meu tamanho.
Mas eu não estava nem aí para isso, eu só precisava beijar ela, abraçar ela, porque só em olhar para ela eu já me sentia melhor.
E foi isso que eu fiz, beijei ela como se não beijasse a anos. O beijo dela também estava diferente, mas eu não ligava, o importante é que era ela. Abri os olhos sentindo que tinha alguém olhando para mim e não acreditei no que estava vendo.
Um pouco longe dali estava a minha Bella. Com All Star preto ao invés de salto, um vestido azul com bolinhas um pouco rodado e não um vestido colado e curto e do seu tamanho normal. Mas a diferença que mais me abalava era ver que ela estava me olhando com tristeza e desprezo ao invés de estar me beijando.
Me afastei do beijo da "Bella" e vi que na verdade ela era a Jéssica, uma garota loira do meu grupo de skate que vive dando em cima de mim. Sai correndo em direção a Bella original. Ainda tonto. Ainda vendo as coisas coloridas. E ainda ouvindo o meu pai, rindo do meu erro.
- Me solte agora! Seu idiota!- Bella berrou se debatendo quando eu finalmente alcancei ela.
- Calma Bellinha- Eu disse sorrindo, pelo simples fato de olhar para ela, de sentir a pele dela, o cheiro dela.
- Você bebeu?- Ela perguntou, chorando. Doia tanto ver ela assim.
- Como você é inocente... Entenda: Eu não tenho mais catorze anos!- Digo lembrando de como era fácil quando eu tinha essa idade. O Dudu estava bem, meu pai não me batia e minha mãe era feliz. Enrolei uma mecha do cabelo dela.
- Por quê? Por quê?
- Eu tive um dia horrível. Me deixa!- Falei com o queixo tremendo, porque o meu dia tinha acabado de piorar. A Bella nunca vai me perdoar.
- Me solte! E-eu nunca mais quero te ver!- Bella berrou o que eu já sabia.
Soltei ela e me sentei no chão.
Márcia apareceu e tocou no meu ombro, ela perguntou alguma coisa mas eu não consigi escutar. Como ela está me puxando imagino que ela quer me levar para casa. Eu não vou pra lá.
- Eu não quero ir pra casa!- Falei choramingando.
- Pedro, onde está a Bella? Você bebeu??? Me da isso aqui- Ela disse tentando tirar a garrafa da minha mão.
- Não! É só meu e eu não divido! Vai buscar a sua! Bruxa do Oeste!- Fiz um bico e bebi um pouco mais. É estranho, aquela bebida parecia até viciante.
- Pedro, vamos para casa- Márcia implorou.
- Tá bom- Levantei e fechei meus olhos- vummmmmmmm.
- O que você tá fazendo?- Márcia perguntou assustada.
- Voando pra casa- Disse batendo os braços- Vamos logo, eu quero meu elefante, mas a África tá longe, vamos de moto.- me agaixei e coloquei meu capacete.
- Tira esse balde de lixo da cabeça, Pedro!- Márcia gritou tirando meu capacete.
- Ciclope maluco! Vão invadir! Fuja para as colinas! Koalas voadores nadam pelo bosque!- Sai correndo fugindo dos canibais.
- Pedro para! O que tá acontecendo?- Márcia me perguntou. O estranho é que ela estava com quatro cabeças.
- Vou dormir- Digo percebendo que estou caindo.
.........
-Acordei!- Disse levantando e vendo que estava na casa de Márcia- Marcinha.
- Oi- Ela disse desligando a TV e olhando pra mim.
- Quero cagar- Falei tentando abaixar a bermuda.
-NÃO- Ela corre e me impede de abaixar a bermuda- Vai fazer isso lá no banheiro!- Ela diz com cara de nojo.
- Isso o que?
- Cagar.
- Caçar? Tem coelhos aqui? Vamos Alice! Para o País das Armadilhas! Ou será Gargantilhas?
- Pedro, senta aqui do meu lado.
- Márcia, tem estrelas na sua testa- Digo empurrando as estrelas.
- Deixa elas aí- Márcia diz sorrindo- Pedro, o que você bebeu e quantos copos?
- Cerveja. Cinco, vinte, oitenta copos!- Digo gargalhamdo e então fico sério de repente- É ruim, mas estava viciante.
- O Presunto estava lá?- Márcia perguntou parecendo preocupada. Presunto é o apelido de um amigo meu.
- Sim, ele que me ofereceu o copo- Eu digo de olhos arregalados, não sei extamente porque.
Márcia mandou eu ir dormir e eu obedeci, porque não gosto de brócolis, porém chove no verão.

Autora:
O capítulo ficou enorme! Eu não conseguia parar de escrever.
Coitado do Pedro, está sofrendo tanto. Mas será que foi o suficiente pra perdoar ele?
Beijocas, espero que tenham gostado do capítulo.
Ass: Márcia/Bella.

5 Amigas, 4 amores e 1 história inesquecível <3Where stories live. Discover now