Capítulo 31

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B⃣R⃣Y⃣A⃣N⃣

Estive a ponto de contar tudo para Micaella. É quase surreal o poder que os seus olhos têm de arrancar toda a verdade de mim. Mas eu não podia vacilar mais, não podia correr o risco de contar toda a verdade sobre mim e perdê-la. Não sei se haveria um momento certo, mas aquela com certeza não era a hora de revelar meus segredos.

Deixei Micaella sozinha por uma hora inteira, quando entrei no quarto a encontrei dormindo agarrada a um travesseiro. Caminhei fazendo o mínimo de barulho possível até a cama e sentei ao seu lado. A ver machucada fazia eu me sentir impotente. Não pude protegê-la daquele desgraçado do beco e nem do miserável do Edgar. O ódio que sempre habitou em mim agora parece ter o dobro de tamanho e está destinado a mais uma pessoa. Minha lista de pessoas para matar só aumenta.

Eu falava sério quando disse que não deixaria Micaella voltar para o apartamento de Edgar. Não precisávamos ter nenhum tipo de relação amorosa, ela não precisava retribuir ou se sentir em dívida comigo. Eu só quero cuidar dela. Posso finalmente cuidar de alguém, porque pela primeira vez tenho alguém com quem me importar.

A campainha soou. Deixei Micaella dormindo e me dirigi até a porta. Meu maxilar trincou quando vi Edgar parado do lado de fora. Precisei respirar fundo para não estourar os miolos dele quando abri a porta.

— Onde ela está? — perguntou Edgar quase que me empurrando para entrar. Respirei funda mais uma vez.

— Onde está quem? — pergunto indo atrás dele. O mesmo olha em sua volta, procurando por Micaella, obviamente.

— Não se faça de idiota, sei que você foi no meu apartamento e a levou — disse ele vindo até mim para me encarar. O grande erro desses mafiosos idiotas era de achar que eu tinha medo deles. — Onde ela está?

— Ah, sim, você está se referindo à sua sobrinha que encontrei inconsciente no seu apartamento — digo displicente. — Onde mais estaria uma pessoa machucada e inconsciente? Talvez no hospital? — meu tom é reflexivo e debochado.

— E por que não me ligou para avisar? — perguntou ele e soltei uma risada sem humor.

—  Acho que não entendi — digo me fazendo de sonso. — Eu preciso te avisar que você bateu na sua sobrinha?

— Ponha-se no seu lugar! — ele aumentou o tom de voz.

— Eu não tenho medo de você, Edd — digo devolvendo seu olhar frio. — Então ao invés de você encher a porra do meu saco, por que não vai ver o estado em que deixou sua sobrinha? Ou quer que o hospital chame a polícia pela falta de um responsável presente?

Fez-se alguns segundos de silêncio.

— Em qual hospital ela está? — perguntou Edgar ainda me encarando.

— O que fica próximo ao seu apartamento.

Edgar passou por mim e saiu. Soltei um suspiro exasperado. Agora eu tinha menos de vinte minutos para encontrar um lugar seguro para Micaella. Entrei no quarto e a encontrei sentada na cama. Ela parecia assustada com os olhos levemente arregalados e os braços abraçando as pernas.

— Você ouviu? — perguntei e ela balançou a cabeça positivamente. — Então sabe que não podemos ficar aqui. Edgar vai descobrir que você não está no hospital e vai voltar furioso cheio de caras armados. E eu juro que não me importo de entrar em uma guerra com a máfia nova-iorquina por você, mas preciso te manter segura.

Micaella concentrou seu olhar em mim. Ela parecia pesar minhas palavras para saber o quanto delas eram verdadeiras. E todas eram.

— E para onde vamos? — perguntou, sua voz soando um pouco mais séria do que o habitual.

Atração FatalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora