Capítulo 24

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M⃣I⃣C⃣A⃣E⃣L⃣L⃣A⃣

Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver Bryan beijando uma mulher. Os dois usavam apenas roupas íntimas. A mulher estava apoiada em uma mesa virada de costas para a porta e Bryan a beijava como um louco, parecia até que estava com raiva... ou com muito desejo. É claro que ele se interessaria por ela. Ela era mais velha, mais experiente e poderia dar a ele, literalmente, o que eu não estava preparada para entregar. Ela também era alta e magra, com certeza cabia num jeans 36. E seu cabelo era bem hidratado, dava para ver o brilho de longe. Todas as minhas inseguranças vêm à tona como um monstrinho devorador de carne que não come há dias.

Não sei dizer se eu fiz algum barulho ou se meu ódio naquele momento era palpável, mas seja lá o que fosse, fez Bryan olhar para mim. Nossos olhares se encontram e como uma torrente rompendo uma barragem, a raiva devasta tudo pela frente. Mas não era só raiva, havia decepção e um monte de sentimentos emanando de mim, todos ruins. Eu queria dar um soco nele, queria chutar suas bolas e o ver cair de dor. Enxugo algumas lágrimas e fecho a porta com toda minha força, passo pelo corredor pisando forte e desço as escadas. Meus olhos estão embaçados, a raiva é quem me guia pelo caminho de volta ao camarim.

— Aonde você estava? — perguntou Edgar assim que entrei. Merda!

— No banheiro — respondo rápido. Ele estreita os olhos para mim.

— Não quero você andando por aqui sozinha, entendeu?

— Queria que eu mijasse no chão? — pergunto irritada. Edgar ri sem nenhum humor.

— Você está brincando com a sorte, Micaella — disse ele e olhei para cima displicente. Estalei a língua.

— Estava me procurando? — pergunto com as mãos no quadril.

— Sim, é hora do show — diz e seus lábios ganham um sorriso maléfico.

Minhas mãos caem ao lado do meu corpo e engulo em seco. Quando Edgar percebeu que eu não ia me mexer, ele segura meu braço e me puxa para fora do camarim. O palco estava escuro, mas quando chegamos perto o bastante, duas luzes fortes foram projetadas para o centro dele.

— Vai lá e não me decepcione... ou você já sabe... — sussurra Edgar em meu ouvido.

Respiro fundo e subo os poucos degraus do palco. Quando me posiciono no centro do palco, onde fica o poste de pole dance, todo barulho que havia no lugar se esvaiu. Todos ali direcionaram a atenção para mim. Senti meu estômago embrulhar com todos aqueles olhares, mas respirei fundo e pensei no que estava em jogo... A vida dos meus amigos.

Uma música começou a tocar. A letra e a melodia eram totalmente propicias para aquilo. Olho de relance para Edgar que tem um olhar ameaçador. Respiro fundo de novo e começo a tirar o sobretudo. Ouço assobios. Jogo o casaco no fundo do palco e seguro no frio metal. Sigo o embalo da música e mexo meu quadril de acordo com o ritmo. Um nó se forma na minha garganta, lágrimas ameaçam cair. Eu não queria estar aqui.

Faço alguns movimentos no poste e alguns homens se levantam e se aproximam. Não demora muito para que se forme um mar de homens na frente do palco, a maioria jogando dinheiro aos meus pés. Meu estômago se revira mais, começo a suar frio. Minhas pernas querem ceder, mas eu reluto e continuo dançando. Como se um imã atraísse minha atenção, conduzo meus olhos pela boate, e longe daquele mar de homens alvoroçados e nojentos, avisto Bryan me observando.

Raiva e tristeza inundam meu peito e sinto uma única lágrima rolar pelo meu rosto. Fecho os olhos e continuo os movimentos lentos. Passo as mãos pelo meu corpo e as subo para o cabelo. Meus dedos se perdem entre os fios e os puxo com força. Minha cabeça dói. Deslizo as mãos pelos meus braços e cravo as unhas na minha pele. Outra lágrima cai. Viro de costas para todos. Seguro forte o poste de metal. O aperto com toda minha força para reprimir o desejo repentino de me machucar. A música acaba. Abro os olhos de repente e vou até sobretudo. O coloco como se o mesmo fosse uma armadura capaz de me proteger contra tudo.

Atração FatalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora