Pressão e noite estranha

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Mário se agarrou na barra da camiseta de Erick e o olhou com firmeza.

— Acho melhor irmos embora daqui.

Naquele exato instante, ouviram um barulho. Olhando para trás, perceberam que vinha de um quarto com a porta fechada que ficava ao lado daqueles onde acordaram. Aquilo os deixou tensos. Ouviram de novo. Parecia alguém tentando forçar a porta. Mário preparou-se para sair, mas Erick segurou-o pelo braço.

— Espera!

— O que foi?

— Manhê? Pai?

Era uma voz bastante conhecida. Reconhecê-la, fez com que Mário olhasse para a porta com muito ceticismo a respeito de suas conclusões. Só podia estar ouvindo coisas. O amigo, demonstrando espanto igual ao dele, o perguntou se pertencia a quem ele estava imaginando, o que afastou a ideia inicial de um delírio qualquer, já que não tinha sido somente ele a ouvi-la.

— Não é possível. O que ela está fazendo aqui? — queria saber, mas Erick deu de ombros.

Correu para a porta que, por sorte, mantinha grande chave de ferro enfiada em sua fechadura simplória. Girou-a com pressa e até certa desordem nos dedos, mas não demorou a destrancá-la. Empurrou a porta com impetuosidade e viu, dentro do quarto pouco decorado que ela encerrava, sua namorada encolhida sobre uma cama, amargando uma expressão de choro e terror.

― Mário? ― ouviu-a perguntar numa voz tão enfraquecida quanto surpresa.

No entanto, bastou uma fração de segundos para que as linhas duras do rosto dela tornarem-se suaves e aliviadas. Ofegante, ela pulou da cama, correu e se atirou para cima dele. O abraço foi tão efusivo, que quase o derrubou. O rapaz manteve-se inerte, buscando uma lógica que lhe dissesse o que Suzane estava fazendo ali.

― Suzane? Mas... como?

Ela estava tão feliz que nem respondeu à sua pergunta. Apertou-o, beijou-o no rosto, beijou-o nos lábios e beijou-o na bochecha repetidas vezes. Tanto que as lágrimas que ensopavam sua bochecha passaram a ensopar as bochechas dele também. A euforia da namorada era tamanha, que obrigou Erick a dar um passo para trás com a intenção de providenciar mais espaço aos dois. O rapaz, no entanto, assistia todos seus esforços para deixa-la longe dos problemas oriundos do sequestro da irmã desmoronar diante de seus olhos. O bilhete dos sequestradores solicitava sua presença, junto à de Erick e Suzane. Mário tentou negá-los esse desejo, mas, no fim das contas, eles tinham conseguido o que queriam.

― É você, amor! É você! Graças a Deus!

Ela soltou-se dele e abraçou Erick também. Foi exatamente quando percebeu que ela estava vestida com um pijama de alça fina e short curto que não fazia o mínimo esforço para tampar suas belas pernas brancas e seus outros predicados femininos. Dado o passado romântico dos dois, aquilo o deixou desconfortável.

― Vocês me deram um baita susto!

— Demos? — perguntou, seco — Erick, eu não disse pra você não falar nada pra ela?

― Mas eu não falei nada — respondeu o amigo, coçando a cabeça.

― Do que vocês estão falando? — Suzane pausou dois segundos para raciocinar — Foram vocês que me trouxeram pra cá?

― Nós não! ― defendeu-se Mário.

― Não? Quem foi, então?

― Não sabemos. Provavelmente a mesma pessoa que nos trouxe também... ― que eram bandidos perigosos, mas aquilo Mário preferiu não falar.

― Mas... se não foram vocês...

Suzane estava confusa e Mário podia jurar que estava se sentindo angustiada. Com toda a razão. Colocando-se por um segundo no lugar dela, estando vestido como ela estava e sabendo que alguém a tirara de sua casa para aquele lugar, imaginava que também estaria considerando ter sofrido violação no meio do processo. E isso era, talvez, o pior dos castigos para uma mulher. Considerar aquilo o deixou com ainda mais raiva daquela situação. Independente da dificuldade de afastar a frieza de seu coração em relação àquele relacionamento, ela ainda era sua namorada e devia a ela algum tipo de responsabilidade.

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