Sim, eu pertenço a Apollo. Somente a Apollo.

Ele entra em meu carro, assumindo o lado do motorista. Calada, sento no lado do carona sem questionar. Estou muito nervosa para dirigir e estou grata por não precisar fazer isso agora.

– E seu carro? Vai deixar no estacionamento mesmo?

– Eu estava com Nicholas quando decidi te encontrar na saída do trabalho. Pensei que pudéssemos sair juntos esta noite. Seria uma grande oportunidade de você conhecê-lo. Ele pode levar o carro.

Lembro dele ter comentado sobre esse amigo. Agora não estou no clima para conhecer ninguém. Quem sabe outro dia?

– Acho que devo agradecer ao destino então, por tê-lo enviado. Apollo, eu preciso te explicar o que aconteceu... – Ele me interrompe.

– Você vai, Kim, mas não aqui. Quando chegarmos ao meu apartamento, faço questão de ouvir tudo o que tem a dizer. Não estamos no lugar certo para esta conversa.

– Tem razão. Eu preciso beber um pouco de água e me acalmar antes de explodir tudo o que tenho guardado a sete chaves.

Ele apenas assente com o olhar vidrado na direção. Imagino o mundo de possibilidades que passa por sua cabeça. Eu, em seu lugar, também estaria pensativa. Não posso culpá-lo.

Estralo os dedos devagar, como se quisesse sentir o alívio que cada barulho me traz. Eu estou protegida. As investidas de Alexandre não podem mais me atingir. Não estou só agora. Penso nisso e tento me acalmar.

Chegamos ao apartamento dele e o ouço falar ao telefone com o amigo. Logo entramos na sala de estar e me dou conta de que minhas pernas estão tremendo.

Não sei explicar o motivo. Pode ser por conta do susto de rever Alexandre ou por saber que estou prestes a abrir o livro da minha vida para Apollo.

Ele vai até a cozinha e traz duas taças de vinho rosé. Penso que é tudo o que preciso para tomar coragem de uma vez quando sinto o líquido doce e gelado descer por minha garganta. Eu nem havia percebido o quanto minha boca estava seca.

– Quer falar agora, minha linda? Se não quiser, podemos apenas dormir e amanhã conversaremos.

Quase o interrompendo, tomando coragem.

– Não. Eu preciso te contar tudo agora. Ninguém conhece o meu passado além de Nina e as pessoas que estiveram envolvidas nele. Pensei que poderia conviver com esse segredo só para mim, que seria uma parte da minha vida que não compartilharia com mais ninguém.

– Entendo. Todos temos segredos. Ele disse que você pertence a ele. O que ouvi foi um homem apaixonado a reivindicando ou um maluco lunático dizendo coisas sem sentido?

Duas piscinas azuis não desviam do meu rosto. Ele mede cada reação minha, mas passa confiança apesar disso.

– Está mais para a segunda opção. Alexandre sempre foi uma espécie de psicopata. – passo a mão pelo rosto. – Cristo, eu nem acredito que estou trazendo esse passado imundo à tona de volta.

Apollo segura o meu rosto, tomando toda minha atenção.

– Eu não estou brincando, Kimberly. Você é a mulher da minha vida, aquela com quem pretendo viver, compartilhar minhas alegrias e tristezas, formar uma família. Não pode haver segredos entre nós. No momento certo, você conhecerá os meus. Agora, eu preciso que se abra e não me poupe qualquer informação.

É o que estou tentando fazer, mas é tão difícil.

– Não sei se você ainda vai manter seus planos depois de ouvir o que tenho a dizer... – fecho os olhos e respiro fundo. – Eu fui estuprada por Alexandre quando eu tinha doze anos, Apollo. Eu fui sua bonequinha até os quatorze quando decidi me rebelar. E o pior era que tudo acontecia com o consentimento da minha própria mãe.

Apollo: Quando o Amor está em Jogo À venda na Saraiva e Qualis EditoraWhere stories live. Discover now