Fantasmas do passado

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- Vo-você me conhece? Como sabe o meu nome?

Tenho certeza de que pareço um fantasma de tão assustada. Apollo Assunção, a maior celebridade esportiva do momento, sabe quem eu sou? De onde ele poderia me conhecer?

Apollo me dá as costas e, mesmo em uma hora tão tensa, meus olhos não conseguem deixar de fitar sua bunda se movimentando firmemente a cada passo que ele dá.

Minha festa acaba a partir do momento que ele pega um roupão pendurado na parede e cobre toda a visão paradisíaca que tanto me distraía. Talvez agora eu consiga me concentrar melhor no objetivo que me levou a aquele lugar.

- Você não acha que o único que tem direito a fazer as perguntas aqui sou eu? Como conseguiu entrar em meu vestiário?

Pisco os olhos dezenas de vezes em busca de uma resposta menos direta. Não encontro nenhuma. Eu e minha mania de sempre ir direto ao ponto. Eu nunca consigo ficar divagando, enrolando ninguém, mas também nunca precisei fazer isso.

Passo a língua pelos meus lábios secos e percebo quando duas piscinas azuis acompanham meu movimento. Seu olhar agora é de um homem cafajeste diante de uma presa a ser conquistada. Eu poderia me derreter em sua inspeção. Eu poderia, se a minha missão ali não fosse maior que a luxúria.

- Apollo, pelo visto não vai dizer de onde me conhece, mas já que é assim, deve saber que sou jornalista. Não foi fácil, mas dei o meu jeito de despistar os seguranças. Preciso muito de uma entrevista exclusiva com você.

Pulo de susto com a reação dele. Ele se aproxima ainda mais de mim e me encara com olhos determinados e um sorriso torto em seus lábios. Segura meu queixo com o dedo indicador, me obrigando a fitar seus olhos azuis. Por um segundo, tenho medo de me perder neles.

- Quem te vê falando acredita que foi preciso muito esforço para chegar até aqui. Eu sei quem você é, Kimberly. A filha de Eduardo Nóbrega. A filhinha favorita do homem que se acha o dono do mundo. Não precisa fingir que precisou se tornar uma James Bond para entrar no vestiário.

Acho que já deu para perceber que meu pai é isso tudo que ele está falando e muito mais. A única pessoa tratada diferente sou eu. Mais ninguém. Até com Eros ele tenta ser mandão. Mas meu irmão também é osso duro de roer e não aceita os mandos e desmandos do Sr. Eduardo Nóbrega.

- Confesso que precisei da influência do meu pai para entrar no estádio, contudo, se estou aqui é porque tenho um motivo muito forte para isso. A emissora RNC está ameaçando fechar suas portas caso o departamento esportivo deixe de atrair parceiros e você deve saber que...

- A parte de esportes é a mais importante da emissora. E o que eu tenho a ver com isso? Por que você não conversa com seu amável pai e pede para ele resolver os seus problemas?

- Apollo, você pode não acreditar, mas eu nunca precisei pedir um favor a meu pai até hoje. Se eu fiz desta vez foi porque havia outras vidas em jogo. Não apenas a minha. Eu só preciso que tope me dar uma entrevista e pronto. Você nunca mais precisará me ver novamente.

Ele pega um uniforme dentre vários perfeitamente dobrados dentro de um armário e tira o roupão sem qualquer pudor na minha frente. Minha atenção começa a se dissipar novamente como se um imã me atraísse a aquele corpo com uma força que eu não consigo controlar.

Ele sabe que está sendo observado, mas não me olha de volta. Pelo contrário. Se veste vagarosamente, me provocando pouco a pouco até que esteja completamente coberto.

Definitivamente, esse homem sabe como encher um uniforme.

Como posso me sentir atraída por um cara que representa tudo o que eu mais odeio? O que está acontecendo com você, Kim?

Apollo: Quando o Amor está em Jogo À venda na Saraiva e Qualis EditoraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora