Breno

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Ficar sem ver Lesly em todas as aulas de matemática foi torturante.
Ficar sem vê-la mexendo no lindo cabelo e a observar, tentando ler escondido sem que o professor visse, foi uma espécie de jogo que eu teria que me manter intacto por mais alguns dias.

—Breno, o senhor ainda não respondeu a minha pergunta.— o professor Henrique que estava na minha frente, com o cavanhaque liso me perguntou.Olho para Ronan, que está prestes a rir e vejo que toda a sala me cerca com olhares também.

—Hipotenusa dividido pelo cateto oposto?— murmurei saindo do devaneio.

—Fique mais atento, — o professor Henrique fala. — Mas incrivelmente a resposta está correta.



                                                                                    ****


—Realmente não sei como você é bom em matemática, sem nem prestar atenção na aula. — Ronan fala durante a troca de aulas. Ele desfila pelos corredores com sua adorada blusa do Batman.

—Por que não avisou que ele estava me olhando?— retruco.

—Cutuquei você duas vezes. Seu touch é meio falho, colega.

—Suas piadas são horríveis. — falo e parto na frente nos corredores. Passamos acompanhados com os mesmos olhares dos alunos de sempre, mesmo depois do vídeo exposto, parecia que a dose de pena, havia aumentado mil vezes mais. Paramos no armário de Ronan que destranca rapidamente.

—As pessoas dessa escola me dão nojo. — ele fala logo depois, batendo a porta do armário forte, fazendo com que um som metálico vibre por segundos torturantes.

—Hola chicos! — alguém fala logo atrás de mim. É Daniela e ela dá um sorriso bobo quando cruza os olhares entre Ronan e eu.

—Seu espanhol continua uma porcaria. — Ronan diz sorrindo.

—Que coincidência, eu ia dizer o mesmo do seu estilo de se vestir. — ela retruca, enquanto curva as sobrancelhas bem definidas.

Não resisto a uma risada alta, o que faz Ronan me dar um soco no ombro.

—É incrível a sintonia de insultos que vocês trocam entre si, quando estão no mesmo ambiente. — digo depois de me recuperar do riso e da dor no ombro.

—É ele. É sempre ele. — Daniela diz com um suspiro.

Prevejo uma nova linha de insultos, mas por sorte maior, o sinal toca, avisando que os últimos períodos começaram.

—Eu adoraria continuar acompanhando, mas meu espanhol é agora. — falo rodopiando as rodas da cadeira. — Adiós, amigos.

Pode ter sido apenas uma má impressão, mas vi uma dupla de risadas animadas e em sintonia, quando virei o corredor. Eles se amavam, mais do que se odiavam.



                                                                                      ****


Atravessar os corredores com Ronan, era como se eu tivesse o Superman empurrando minha cadeira com uma cara de mal, mas passar por tudo aquilo sozinho, era como se eu fosse um fatia de torta, em meio de varias pessoas famintas. Não cruzei o olhar com ninguém até chegar a sala.

Fui pro meu lugar já marcado, sem cadeira alguma, e ajeitei a cadeira de rodas até o restante dos alunos entrarem.

—Estão todos aqui? — uma voz doce fala. É nossa professora, a Sra. Ávila. Ela era a paixão de todos os garotos da escola até o primeiro ano, quando as lideres de torcida surgiram e ela perdeu o posto. — Bem, hoje vamos fazer algo diferente. Teremos uma conversação em espanhol.

Droga. Isso significa que trabalharemos com outras pessoas, ou seja....

—Formem dupla com a pessoa que está ao seu lado direito. — ela diz e ouço xingamentos de alunos que andam em grupinhos. — Assim, não há como alguém ficar sem um parceiro. Ahora, chicos!

Viro pro lado com um sorriso simpático, para a possível pessoa que está ao meu lado, mas logo o sorriso desaparece quando vejo o vulto de um cabelo ruivo.

Olho para o lado e vejo quem será minha dupla. Hugo.


Amor Sobre RodasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora