Amor Sobre Rodas

Lesly

Saí correndo da casa de Breno em direção a casa de Sandra. Sabia que encontraria Hugo na festa e precisava ter uma conversinha com ele. Corri tão rápido que tropecei por conta do salto alto. Me sentei na calçada e arranquei do meu pé os pares de saltos e continuei correndo.
Estava decidida a falar algumas verdades para Hugo na frente da escola inteira.

Virando a esquina para a casa de Sandra dava para ouvir a música alta e milhões de carros estacionados. Havia algumas pessoas rindo e bebendo na frente da casa, passei por elas que nem me notaram e entrei na casa. A festa estava lotada de adolescentes bêbados e suados, costumeira festa de Sandra. Vi garotas dançando, casais namorando e nada de Hugo.
Fui até a cozinha onde vi Tiffany, Marina e alguns amigos do Hugo bebendo. Tiffany me viu e veio correndo me abraçar.

—LESLY! Você disse que não iria vir sua maluca! — Tiffany estava nitidamente bêbada.

—Me solta— falei delicadamente. — Hugo veio para a festa? Preciso falar com ele.

Antes de Tiffany me responder, ela se virou e acabou vomitando.
Ouvi gritos e resmungos de todos os lados. Marina se aproximou.

—Alguém leva essa menina pro banheiro.

Um dos amigos de Hugo pegou ela pelo braço e a levou com esforço para o banheiro da casa.
Marina se virou para mim olhando para o traje que tinha escolhido para ir a festa.

—Não sei se alguém te informou, mas isso aqui não é uma festa do pijama. — seus olhos castanhos me olhavam com reprovação.

—Eu sei. Não vim para a festa, vim falar com o Hugo. Você sabe onde ele está?

Marina pegou mais um copo de bebida que me ofereceu e eu recusei.

—Ele deve estar no porão onde; a festa está mais quente.

O rapaz que tinha levado Tiffany para o banheiro chegou para falar com Marina. Aproveitei a distração e fui em direção ao porão, na parte de baixo da casa. No subsolo, a festa estava realmente mais quente e escura. Vi mais casais namorando e pessoas dançando uma música agora mais lenta. Andei na procura de Hugo que parecia que tinha sumido, até que vi Sandra sentada beijando um garoto. Esse garoto tinha singelos cabelos ruivos. Era Hugo. Senti um nó na minha garganta e para mim, o tempo havia parado ali.
Fiquei parada na frente deles. Quando Hugo me viu se distanciou rápido de Sandra e se levantou na minha direção.

—Lesly? Meu amor. O que você está fazendo aqui? — ele falou ficando na minha frente.

Sandra não se assustou com a minha presença. Clássica Sandra.

—Amor? — repeti alto. 

—Não é nada disso que você está pensando...

—Sai de perto de mim! — a festa tinha parado e todos olhavam para mim e Hugo.

—Lesly, me escuta!

—Me escuta você! — falei olhando para ele. — Você é uma pessoa horrível! Como teve coragem de fazer aquilo com Breno?

Hugo parecia surpreso.

—Calma, você quer falar mesmo daquele cara? Você se preocupa mais com ele do que com nosso relacionamento? — ele gritou e vi seu punho se fechar. Havia mais pessoas agora no porão. Sandra se levantou e ficou ao lado de Hugo.

—Querida, sem escândalo na minha festa. 

—Você! — falei apontando o dedo para ela. — Não dirija a palavra nunca mais para mim. 

—Por quê? Só porque seu namorado trocou você? Só porque sou melhor que você? Só porque tenho coisas mais importantes do que me preocupar com um sujeito que não pode andar? — mesmo no escuro, vi os olhos de Sandra brilharem de satisfação.

—Não fale dele assim.

—Olha só, Hugo. — falou Sandra — Alguém estava gostando do Breninho.

—Cale a boca Sandra! — gritou Hugo. — Lesly, vamos conversar.

As pessoas ainda olhavam para nós e agora o público havia aumentado. Pessoas que estavam no andar de cima, vieram ver o tumulto no porão. Respirei fundo e passei as mãos suadas no cabelo.

—Não. Não precisa e eu não quero! Sabe, você sempre gostou de ser discreto do seu modo, gostou das coisas do seu jeito, mas agora isso acabou. Pelo menos comigo.— falei não deixando um sorriso de deboche de fora. — Estou terminado na frente da escola inteira com você e mostrando que você; Hugo, não passa de um traíra que eu carreguei por anos! — e antes de me virar e sair do porão, dirigi a palavra para ele mais uma vez: — Breno deveria ter feito seu olho ficar mais roxo.

Hugo parecia paralisado ao lado de Sandra. Sai do porão passando por milhares de pessoas e fui na direção na porta de saída. Sai correndo voltando para casa, agora descalço e livre. Enquanto corria senti lágrimas correndo meu rosto. Não lágrimas de tristeza, mas sim de alívio.