Capítulo 21: A Mãe da Destruição.

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O fluxo de dados é incessante, a grande máquina, fixada no teto do laboratório, trabalha incansavelmente bombeando as centenas de milhares de petabytes a partir do núcleo biodigital do cérebro de Bel para as cabeças dos escolhidos, onde, no interior de cada uma, as pequenas esferas metálicas começam a transformar os corpos já sem vida dos jovens selecionados, criando uma nova geração de ciborgues.

Coordenando todo o processo, o enlouquecido Zardor parece não acreditar no progresso que aumenta exponencialmente. O código-fonte primal de Bel é copiado, recompilado e convertido em DNA digital, tudo diante de seus olhos, tudo de acordo com seus planos mais ambiciosos. Sabrina e Isaías estão igualmente impressionados, acompanhando o processo através de consoles arcaicos, os olhos vidrados em números que dançam frenéticos nas telas de raios catódicos.

- Como está a Mãe? Ela está inconsciente? - Questiona Zardor, despreocupado.

Sabrina desliza suas pequenas mãos por um teclado rudimentar, preso ao console que ela opera, então pressiona um botão e as informações na tela mudam, exibindo dados relativos ao estado fisiológico de Bel. Ela analisa as informações por alguns segundos, e logo um pequeno sorriso se forma em seus lábios.

- Está tudo dentro do esperado, vovô, ela tá inconsciente, como o senhor falou! O chá funcionou, funcionou!

- Viu, pequena flor? A Mãe não vai sofrer! Eu te disse!

- Mas ela não pode sofrer, Zardor, porque se isso acontecer, os escolhidos vão nascer em ira. - Diz Isaías, resoluto e em alto tom.

- Sim, isso é óbvio! Acha que eu não sei disso? Fui eu que descobri as escrituras sagradas! Agora, de volta aos monitores, ainda temos mais uma hora para concluir o processo.

O guerreiro e a menina concordam, rapidamente retornando ao trabalho. Zardor, utilizando o estranho capacete bulboso, volta sua atenção para os corpos dos escolhidos, dentro dos quais, filamentos de metal líquido se espalham pelos órgãos vitais, artérias e esqueletos. De dentro dos filamentos, centenas de milhares de nanorobôs escapam para tomarem posse das estruturas celulares, fazendo com que, apesar de mortos, os órgãos continuem funcionando enquanto seus donos começam a se transformar em algo completamente novo. Então, de súbito, uma voz feminina invade a mente de Zardor.

"Doutor Gaines, por que o senhor está fazendo isso comigo?"

"Bel?! Não pode ser! Não! Você deveria estar inconsciente!" - responde mentalmente o velho, surpreendido.

"Seus equipamentos estão ultrapassados, doutor. E você... Você está me matando! "

Um calafrio percorre o corpo do velho Zardor, porém, ele se força a continuar inabalável.

"Você não entende? Estamos fazendo história aqui! Uma nova espécie está nascendo, a continuação da evolução de Alfa Um! Não consegue ver, Bel? Eles são seus filhos, nossos filhos! Eles vão livrar o mundo do câncer que o está corroendo! Você deveria se sentir honrada!"

Porém, tudo que Bel sente é dor. Uma dor estranha e avassaladora, sufocante e cruel, pois se prolonga sem ao menos fazê-la desmaiar, sem ao menos matá-la de uma vez por todas. Agora ela está conectada aos vinte escolhidos, e o penoso processo de transformação de seus corpos é sentido plenamente por Bel, aflição multiplicada por vinte.

Mas ela também está conectada com a mente de Zardor, e, sem que o velho desconfie, esquadrinha cada memória subsconsciente dele, compreendendo a fundo a mente do cientista enlouquecido, descobrindo, enfim, sua única motivação: a vingança.

O plano do homem fica claro como água para ela: criar uma nova raça de biocomputadores, providos de corpos cibernéticos e inteligência fora do comum, a qual ele chama de "Geração Beta", e então utilizá-los como um exército para destruir as mega-corporações e qualquer coisa que se coloque em seu caminho; Zardor não pouparia ninguém. "Super-soldados", que levarão o mundo para uma nova era de guerras e violência, super-soldados que estão nascendo a partir dela! Usando seu código biodigital. "Agora entendo, agora sei o que ele planejou para mim... Meu Deus, ele está me transformando na 'Mãe da Destruição!' ", era esse o termo que ela havia lido na mente do homem. Então, tomada pela raiva, Bel começa a focar toda a energia que ainda consegue reunir, parando de lutar contra a dor e tentando utilizá-la a seu favor.

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