Capítulo 4: A Hora do Caçador.

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[Nota: clique no video acima para ouvir uma trilha sonora sugerida para o capítulo, depois, me falem o que acharam, beleza? Abraços!]

Duas horas da tarde, Zona de Exclusão IV. Três fugitivos, dois homens e uma mulher, correm por uma ruela repleta de sucata eletrônica e lixo biológico. O chão é de terra batida com uma escassa vegetação, e a ruela é ladeada por um emaranhado de construções miseráveis, algumas com vários andares, mas todas com as paredes cheias de buracos e rachaduras, passando a incômoda impressão de que vão desmoronar a qualquer momento.

O solo é estranhamente quente e repleto de pequenas poças formadas por óleo lubrificante e chorume, erroneamente chamadas pelos habitantes de poças de piche. O ar é pesado, abafado e fiel à paisagem, apresentando um odor de carne putrefata e aromas de ferrugem; não há o menor sinal de vento, nem sequer de uma leve brisa. Em total contraste, o céu está aberto e azul, bonito de se ver, porém, o sol castiga toda a região aumentando ainda mais o insuportável calor e fazendo ferver as poças de piche.

As poucas pessoas que estão na ruela ao perceberem os fugitivos correm para suas casas rudimentares e se trancam nelas, observando o trio através das rachaduras. Em uma das casas, um homem ativa um terminal de computadores bastante rudimentar. Ele digita alguns comandos e em seguida desliga o equipamento, um pequeno sorriso se destaca em sua face, pois conseguiu assegurar mais alguns meses de comida na mesa.

Dos três intrusos o que chama mais a atenção é o que segue à frente: alto e forte, parece ser o líder. Ele veste um sobretudo negro feito de tecido térmico, o que mantém seu corpo livre do calor exterior, calça botas militares de aspecto pesado e tem o cabelo raspado; várias tatuagens em sua cabeça sinalizam que ele possui vivência nas ruas, é um samurai urbano, o tipo de profissional em que se pode confiar tranquilamente pois eles são movidos pela honra. Neste momento, sua missão é levar o casal até um ponto seguro, de onde poderão fugir das autoridades. Ele também possui um implante ocular rudimentar, que projeta um monóculo metálico para fora de seu olho direito; carrega uma mochila nas costas e porta uma arma de aspecto intimidador, algum tipo de fuzil.

Mais atrás, correndo de mãos dadas com a mulher, segue o outro homem. É o menor dos três, magro, usa roupas caras em tons sóbrios, porém próprias para aquele tipo de terreno. Seu cabelo é negro e bem tratado, cortado à moda empresarial. Seus trejeitos e vestimentas o denunciam como um membro da elite rica de Vix, é um executivo. A mulher ao seu lado é esbelta e atraente, possui cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, usa uma jaqueta azul também feita com tecido térmico e que possui a logomarca da VNR estampada nas costas. No rosto, um caro óculos de sol com lentes vermelhas inteligentes completa o visual da jovem engenheira.

Indiferentes aos olhares dos miseráveis habitantes do lugar, os três aumentam o ritmo e correm rapidamente para o final da ruela. Após alguns metros, a inclinação do terreno muda para uma subida quase íngreme, de forma que é impossível ver o que existe mais à frente. O samurai acelera e deixa os outros dois para trás. Ele sobe a inclinação com muita facilidade, denunciando que provavelmente usa algum tipo de implante cibernético nas pernas.

Depois de alguns minutos, o casal alcança o companheiro, chegando ao final da inclinação onde eles podem ver que ela termina em um terreno plano; enfim param para tomar fôlego. Então percebem um estranho fenômeno: uma imensa nuvem de fumaça roxa, semelhante a um nevoeiro, se ergue como uma muralha na frente dos três foragidos. Ela parece ter centenas de metros de largura por dezenas de metros de altura, e fica estranhamente parada, flutuando no ar abafado. O executivo, com grande perplexidade e bastante assustado é o primeiro a falar:

- Mas que porcaria é essa?

A mulher tira os óculos de sol e se aproxima um pouco da nuvem, após alguns segundos observando o fenômeno ela se vira para o namorado:

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