Capítulo 9: I. M. A.

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A mulher se movimenta pelo terreno devastado com extrema cautela, a cada passo, examina friamente as ruínas próximas, rechaçadas por disparos de fuzis. Seu uniforme tático, levemente reforçado, branco e azul com placas reluzentes de metal, a deixa em destaque frente à paisagem desolada das ruínas centenárias e do chão de asfalto corroído.

Avançando com o rifle em posição de tiro, alerta a qualquer som ou movimento hostil, ela ativa seu scâner biológico e começa a examinar os corpos à frente, buscando um sinal de vida. A sua direita e a sua esquerda, a dez metros de distância, outros oficiais da UNI-Tron também esquadrinham a área, procurando pelos agentes da VNR e por foras da lei sobreviventes. A maioria dos flymobs da organização partiu em perseguição aos veículos dos terroristas, que rapidamente fugiram após a ação de ataque contra um transporte médico da corporação global.

Através do scâner, cada corpo no chão é contornado graficamente por uma linha digital brilhante, os mortos devem aparecer em vermelho, os que vivem, até o momento nenhum, serão contornados em verde e os feridos em amarelo.

Bem distantes dela e de seus companheiros no terreno desolado, em um grande cordão de isolamento, dezenas de jornalistas e repórteres tentam obter respostas do comandante da operação, enquanto nos céus, em volta da área, centenas de drones-câmeras, impedidos de se aproximar, aplicam o zoom de suas filmadoras tentando obter as melhores tomadas do cenário, retransmitindo tudo em tempo real.

A cadete em treinamento, TX542-5n, interrompe os movimentos por um breve instante, parando para respirar, afinal, está em sua primeira missão de campo. A tensão é forte. Ela aguarda alguns segundos e então é acometida por uma calma avassaladora; a dose de Veradrum fez efeito. Administrada de forma inteligente pelo CND conectado ao traje tático, a droga sintética é um composto preparado para eliminar o estresse e aguçar os reflexos, deixando mente e corpo operarem friamente; se tornou obrigatória para todos os agentes da UNI-Tron.

Bem mais calma, ela adentra mais alguns passos na recente zona de guerra, agora transformada em cemitério. Os corpos espalhados são fáceis de serem classificados usando-se apenas a identificação visual. De acordo com o banco de dados da cyber polícia, os samurais de aluguel usavam roupas negras protegidas por cotas de kevlar, penteados discretos, não gostavam de chamar a atenção, já os blood punks ou soldados das ruas, apreciavam um estilo mais espalhafatoso, não poupando em moicanos exagerados e cores fortes, no entanto, outros também se valiam do mesmo estilo por ser um visual da moda entre os criminosos de rua.

Então, uma imagem se destaca frente a cadete, embora o scâner indique que o homem está morto, ela prontamente reconhece um dos agentes de segurança da VNR. Entusiasmada, entra em contato com seu superior:

- TX542-1, achei um alvo primário, você tem visual? Vou me aproximar para verificar o estado do CND, confirma?

Distante dela, o experiente sargento não estava gostando nem um pouco de ter que entrar no meio daquela chacina. Normalmente, eram os drones ou robôs que faziam aquele tipo de serviço, mas uma ordem superior exigiu que, naquele caso, usassem uma equipe humana, que não poderia gravar nada e deveria estar totalmente desconectada da Hypernet, usando apenas a rede local, fechada e somente acessível pelos membros do time. Eles receberam códigos especiais para extrair a "caixa-preta" dos agentes da VNR, que nada mais é do que uma parte oculta do CND, um bioprograma exclusivo que registra tudo que eles viram e fizeram nas últimas horas.

Junto com a equipe de quatro oficiais e uma cadete, um drone de combate paira nos céus, pronto para dar cobertura para o pessoal em terra caso algo de errado aconteça. Somente o sargento tem acesso ao aparelho, que possui armas potentes e câmeras digitais fixadas na parte de baixo do casco, mas é um modelo antigo e não possui um scâner biométrico, infelizmente.

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