Até o Amanhecer - Parte 1

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Karine se arrasta para fora de debaixo da mesa

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Karine se arrasta para fora de debaixo da mesa. Seu coração está acelerado e sua garganta está seca. Está desnorteada.
- Okay - diz para si mesma, respirando fundo. - A irmã recortada da foto é a tal Diana. Carla sabe que Marlene empurrou Ellen da escada e Marlene acha que pode me calar com uma ameaça de morte.
Ela solta um muxoxo de escárnio e olha em volta. O mundo está perdido.
Decide voltar para seu quarto e lá, antes de dormir, lê alguns versículos da bíblia.

Karine acorda de repente, fitando o teto. Algo em seu interior diz para ela pegar uma caneta e anotar tudo que sabe:

noite da morte de Iris
• Marlene chegou primeiro na cena do crime, mas seu quarto fica longe
• Vi Claudette perambulando pelos corredores minutos antes de achar o corpo de Iris
• Carla estava no convento naquela noite e não foi ao local

informações extras
• Carla já foi de Roosewalt
• A irmã das fotos se chama Diana
• Algo aconteceu envolvendo Diana, Marlene e Carla que elas querem esquecer
• Há algo incriminador no jardim
• Marlene matou Ellen temendo que tudo que ela vinha descobrindo fosse "ferrar" tudo
• "Irmã da irmã está de volta"

Karine vislumbra o pedaço de papel em que escreveu tudo. Sorri. Ela o dobra e guarda no bolso interno das vestes.
Quando sai do seu quarto para o corredor, a luz do sol penetra as janelas, lançando quadrados claros no chão.
Karine vai até o refeitório, onde várias irmãs já tomam o café da manhã. Dá pra sentir a tensão. Ela pega algumas torradas e uma xícara de café com leite e senta-se ao lado de Wanda.
- Bom-dia irmã.
- Bom-dia.
- Noite conturbada, não? - Wanda beberica seu chá.
- Bota conturbada nisso.
- Devíamos chamar as autoridades e relatar essa invasão e vandalismo.
- Pois é, mas parece que os policiais não seriam muito bem-vindos aqui.
- Como disse? - pergunta Wanda, repousando sua xícara.
- Nada não - Karine sorri e morde sua torrada.
Assim que termina a refeição, Karine vai até a área externa, onde senta-se num banquinho embaixo de uma árvore pequena e fita o convento de Roosewalt, com seu aspecto velho e fantasmagórico, seus segredos pairando acima do teto.
Está ali há mais ou menos sete anos. É quase uma das mais novas no mosteiro, não sabe nada da história do lugar. Mas há irmãs que estão em Roosewalt a bem mais tempo, e é para elas que Karine irá perguntar sobre Diana.
A primeira que ela enquadra é Sophia, uma irmã alta, de cabelos ruivos e nariz avantajado. Ela pergunta em que ano Sophia entrou para Roosewalt: 1999.
- Você sabe alguma coisa sobre Diana?
- Diana? - pensa por um instante. - Não, não, nunca ouvi.
A próxima é Katia, irmã já na casa dos cinquenta anos, rugas e cabelo branco. Chegou em Roosewalt em 1995. Também nunca ouviu falar sobre Diana.
Olívia. Em Roosewalt desde 98 e, assim como as outras também não sabe sobre Diana.
Karine resolve então perguntar para Lizzie, quando entra na sala de artes e a vê sozinha no lugar, arrumando tintas e pincéis.
- Hã... Irmã Lizzie?
- Sim querida.
- A irmã já está aqui em Roosewalt a bastante tempo?
Lizzie olha para Karine, o cenho franzido.
- Hã... Até que sim. Desde 92. Por que irmã?
- Não, é que... Por acaso você já ouviu falar sobre Diana?
Lizzie deixa o pote de pincéis cair no chão. Karine é surpreendida quando o olhar de Lizzie fixa-se ao seu.
- Onde ouviu sobre isso irmã?
Karine escolhe as palavras, está confusa.
- Eu... Eu apenas ouvi. Não sei muito bem o que... Não sei nada na na verdade.
Silêncio.
- Não sei se é do conhecimento da irmã, - começa Lizzie. - mas irmã Carla já fez parte do nosso convento. Quando eu cheguei aqui ela já estava por aqui por bastante tempo. Ela e Diana, sua irmã gêmea.
Karine abre a boca em O, chocada.
- Irmã gêmea?
- Sim - responde. - Mas Diana era especial, era portadora da síndrome de Down. Lembro-me que Carla era muito rude com ela, não tinha paciência, sempre lhe dava uns petelecos, na frente de todas. Até que numa noite ela... Desapareceu. Creio que fugiu, não aguentava mais a irmã. Uma semana depois Carla também se foi, foi embora para França. Na época nosso convento estava meio esquisito, uma irmã tinha desaparecido alguns dias antes de Diana, uma serpente apareceu no nosso banheiro...
E Lizzie pontua sua história pondo uma tela em branco em cima de um cavalete.
- O que está acontecendo irmã?
Karine olha para Lizzie, mordendo o lábio.
- Não posso te dizer agora irmã - responde Karine. - Mas você vai saber.
E sem dizer mais nada, sai da sala.
- Ai meu Deus, é óbvio, elas mataram Diana!

Karine encontra Marlene e Claudette conversando num corredor vazio. Ela caminha determinada até elas, o queixo levantado e o maxilar enrijecido.
- Com licença irmã Claudette, mas preciso falar com irmã Marlene a sós.
Claudette lhe lança um olhar confuso, mas se distancia.
- Eu já sei de tudo! - Karine diz logo que Claudette se vai. - Lizzie me contou. Sei o que vocês fizeram com a pobre Diana.
Marlene apenas a encara com o semblante imutado.
- Por que vocês a mataram? - pergunta, arfando de fúria.
- Não matamos ninguém - diz com veemência. - Você está paranoica irmã.
- Vocês a mataram e agora estão matando pessoas que sabem ou estavam prestes a saber disso. O que Iris sabia? Foi por isso que Carla voltou não é? Você a chamou por que sabia que Iris estava descobrindo ou descobriu alguma coisa. Vocês são sujas...
- Você está louca...
Karine hesita por uma pulsação, mas então acerta um tapa em Marlene, que a joga contra a parede. Quando olha para o fim do corredor Wanda está lá, o semblante chocado.
Karine gira nos calcanhares e sai dali, adrenalina fervendo em suas veias, o semblante diferente, talvez com triunfo.
Sua cabeça está num turbilhão e ela sente suor brotando no rosto.
- Foi preciso Karine, foi preciso... - murmura para si mesma.

Karine passa o restante do dia em seu quarto, lendo a bíblia e pedindo perdão ao Senhor. Quando olha para o relógio acima de sua cabeça vê que já são dez horas da noite.
É quando nota algo. Um silêncio estranho. Um clima diferente.
Com o cenho franzido ela caminha até a porta e sai no corredor, o silêncio incomum parecendo se acentuar, e ela gela quando vê a cena...
Lizzie caminha em sua direção, curvada, a barriga sangrando e o sangue pingando pelo chão. Ela estende o braço pedindo por ajuda, voz alguma conseguindo escapar de sua garganta, e Karine se adianta em sua direção, mas para quando algo surge atrás dela. O Cara Pálida. Veste um capuz negro até os pés e segura uma faca manchada de sangue na mão direita. Karine recua.
Lizzie então se estatela no chão, e Karine sabe que morreu.
E então ela corre...

O Grito das FreirasWhere stories live. Discover now