Madre Marlene da Trintade

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Paris, 1984A jovem Marlene caminha por uma rua de pedra, o salto alto fazendo barulho, a lua iluminando seu cabelo cumprido e amarelo

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Paris, 1984
A jovem Marlene caminha por uma rua de pedra, o salto alto fazendo barulho, a lua iluminando seu cabelo cumprido e amarelo. Ela tem os braços cruzados enquanto caminha; sua pele está arrepiada pela brisa fria.
Risadas de rapazes chegam a seus ouvidos e Marlene olha para trás. Três homens, visivelmente bêbados, percorrem a ruela em sua direção a passos trôpegos. Marlene aumenta o passo.
- Ei! Delicia! - grita um deles.
Marlene apenas caminha rapidamente. Homens! Há pouco tempo terminou um relacionamento de três anos com Demetrio e definitivamente quer manter distância de testosterona por algum tempo.
Marlene olha para trás outra vez, mas os rapazes sumiram.
Ótimo, pensa.
Porém, quando está chegando ao fim da ruela, os rapazes saem das sombras, de um beco, caminhando em sua direção, os sorrisos maliciosos na face. Marlene para e recua alguns passos.
- Ah... O que faz sozinha a essa hora madame? - pergunta um deles num tom estranho, como se falasse com uma criança, e lhe dá um tapa na bunda. Marlene o empurra.
Está começando a ficar apavorada. O rapaz revida com um tapa em seu ombro que a derruba no chão.
- Sou eu quem manda aqui boneca - e junto dos dois amigos, ri.
Marlene se coloca de pé, lágrimas presas nos olhos. Só quer ir embora e comer a macarronada requentada que fez para o almoço.
- Me deixe ir para casa - ela diz, amedrontada, e tenta passa por eles, mas um deles, um rapaz careca e de dentes tortos a empurra para o companheiro. E assim eles ficam por alguns segundos, jogando-a de um lado para o outro, todas as vezes apalpando-a, como se ela fosse um brinquedo qualquer que eles acharam no fundo do baú.
Num surto de pânico Marlene chuta a virilha do rapaz que havia lhe dado o tapa no ombro, e quando ele se curva para gemer de dor, ela corre, como nunca correu antes. Os outros dois vão atrás dela.
O salto de seu sapato chafurda em uma maldita fenda do chão de pedra e Marlene cai de quatro no chão, ralando as palmas da mão e o joelho direito. Arch!
Marlene começa a soluçar.
Uma dor aguda atravessa sua barriga quando o outro rapaz chuta seu rim, e ela cai de lado, gemendo. Por um segundo tudo sai de foco. É como se sentisse vinte cólicas ao mesmo tempo. Se encolhe num gesto de desespero para tentar conter a dor, mas ela corre por seu esqueleto dos pés a cabeça como o veneno de uma serpente.
- Vadia - diz, gotículas de saliva carregada de álcool voando de sua boca.
O homem careca a vira de barriga para cima. Senta-se em cima dela, acentuando a dor.
- Você até que é ajeitada - e começa a apertar os seios de Marlene.
A moça cospe em seu rosto. Enojado, o homem limpa a face e escarra em sua cara. Enfurecido, e andando com as pernas tortas, o rapaz que Marlene chutou se aproxima e empurra seu amigo para o lado. Logo em seguida começa a desabotoar o cinto, o pavor crescendo em Marlene conforme ela ouve o tintilar do metal da fivela. Ela mal pode respirar. A dor atravessa seu corpo.
- Vagabunda - diz o homem, com a calça já baixada até os joelhos. Ele segura o cós da calça de Marlene, mas ela começa a se debater e ele segura seu pescoço, imobilizando-a. Faz um sinal para um dos amigos, que Marlene não consegue ver qual, e ele então termina de baixar a calça até os tornozelos. A brisa fria arrepia sua coxa. O homem então solta seu pescoço e Marlene desata a gritar: "socorro!", e é brutalmente calada quando um murro na diagonal corta sua boca, fazendo sua nuca esfolar-se no chão.
O rapaz careca e de dentes tortos então se posiciona em cima dela. Ao longe, a cena é silenciosa e estranha. Mas dentro de Marlene, é barulhenta, grotesca e apavorante.

Paris, três semanas depois
Marlene anda pelo corredor de uma pensão. Seu maxilar está enrijecido e ela segura uma arma.
Quando chega no 14B, bate na porta. O careca, com seus dentes tortos, abre, resmungando. Sua cabeça é jogada para trás violentamente quando Marlene atira.
Os outros dois rapazes surgem logo em seguida. Marlene passa por cima do cadáver e crava duas balas no peito de um deles. Vira, então, o cano da arma para o que lhe abusou e atira três vezes no peito e uma na cabeça. E, quando já está no chão, a vida se esvaindo do corpo, Marlene atira em sua virilha.

O Grito das FreirasWhere stories live. Discover now