A Carta

145 32 9
                                    

Sábado

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Sábado. O garoto que trás o leite vai chegar em poucos minutos. Karine está sentada nos degraus da frente do convento, ansiosa, uma brisa leve fazendo algumas mechas do seu cabelo tremular ao redor de sua cabeça. Jonny vai mandar outra carta.
A pobre moça nunca se envolveu em um romance, talvez esse seja o motivo de estar tão afobada. Na verdade, na época de escola se engraçou com um jovem duas séries acima da sua, mas Karine logo cortou a relação, pois a mão do garoto sempre vivia em lugares inapropriados quando ficava perto dela. Desde então, Karine nunca se envolveu com mais ninguém. Beijou só duas vezes: a primeira foi com o primeiro "romance", enquanto ele apalpava sua bunda, e a segunda foi numa festa de aniversário na casa da tia, onde acabou beijando o primo Rick sem parar por longos três minutos. Pode-se dizer que depois daquele beijo um desejo impuro de fazer sexo cresceu no interior na irmã, mas ela nunca chegou a praticar tal ato.
Quando a porta dupla se abre, e irmã Marlene sai de dentro do convento, Karine enrijece.
- Bom-dia irmã Karine.
- B-bom-dia irmã Marlene.
- Estou indo até a cidade - Marlene começa a descer os degraus. - Se ver algo errado, me comunique quado eu chegar.
- Pode deixar.
O coração de Karine gela quando vê o pequeno Hitler atravessar o portão. Minha carta está ali em algum lugar, pensa.
Para completo desagrado e infelicidade da moça, o garota deixa a carta, que segurava pressionada contra a base da caixa de leite, cair no chão. Irmã Marlene, que passa a seu lado, aponta e se agacha-se para pegar. Quando lê o que está escrito no envelope, olha para Karine nas escadas, que encolhe os ombros.
Mas que... Merda!
Marlene guarda a carta nas vestes, ralha com o garoto e ruma para o portão.
Karine balança a cabeça com indignação a todo momento.
- Desculpe... - o jovem diz, quando se aproxima, entregando a caixa de leite.
- Tudo bem - Karine se põe de pé e pega a caixa de leite do garoto.
- Ela disse pra eu não voltar mais.
- Eu escutaria, se fosse você - Karine sorri tristonha para o jovem e entra no convento.
- O que eu falo para o Jonny? - Karine ouve o garoto gritar do lado de fora.
- Fala... Fala que eu terminei com ele! - responde.

Quando a sol já está a duas horas de se pôr, Karine recebe a notícia de que irmã Marlene chegou e a espera em sua sala.
Ótimo, pensa consigo. É claro que não ia deixar a carta passar.
Quando chega a porta, hesita por um instante. Tem medo do que Marlene irá fazer. Será que seria capaz de machuca-la ali, a luz do dia? Não... Certeza que não. Respirando fundo, abre a porta e, assim que entra, Marlene, que está sentada numa cadeira acolchoada atrás de uma mesa, pede para ela fechar a porta.
Karine senta-se diante dela. Marlene põe o envelope em cima da mesa.
- O que mais me preocupa é o fato de você ser uma pedófila - diz a irmã, com os dedos entrelaçados em cima da mesa, um olhar indecifrável estampado em seu rosto.
- O que? Pedófila?
- Sim. É o nome que pessoas de sua idade ganham quando molestam ou abusam indivíduos da idade do entregador de leite.
- Ah... Não. Não! Você entendeu errado irmã. A carta não é dele é... É do Jonny. Ele é dois anos mais velho que eu.
Marlene a fita por um instante.
- Deus! Como preferiria agora que você fosse pedófila - ela diz. - Ao menos o pobre garoto não tem a grande capacidade de te penetrar.
Karine arregala os olhos e sente a face enrubescer.
- Nós... Nós não fizemos sexo irmã...
- Ótimo - Marlene pega a carta e a rasga, sem tirar os olhos de Karine, que sente o corpo todo formigar. - O que deu em você? Está brincando com o Senhor sua louca! Prometeu a integridade de sua castidade...
- A maioria das irmãs já transaram...
- Até o linguajar está corrompido! - dispara irmã Marlene, que se põe de pé. - Não tolero esse tipo de coisa em meu convento irmã Karine. A última vez que algo sujo aconteceu expulsei aquelas duas lésbicas nojentas daqui. Não me faça fazer o mesmo com você. A sorte é que achei essa carta antes desse rapaz cumprir sua missão.
- Ele não é desses...
- Todos são! E não me interrompa...
- Ele é um cara bom! - Karine se põe de pé, os olhos marejados. - Já estou cheia disso tudo irmã Marlene. Das mentiras, dos assassinatos. Estou farta.
- Sugiro que se controle...
- Eu a vi empurrar Ellen dá escada.
Marlene engasga e arregala os olhos. Por um momento parece estar prestes a liquidar a irmã, mas apenas diz:
- Esse ultraje é muito grave irmã.
- Não banque a desentendida - Karine esboça cara de nojo. - Você matou a irmã Iris e a irmã Ellen. Eu já sei disso. Sei de todos os seus segredos com a irmã Carla. O que vocês esconderam no jardim? Dinheiro que roubaram? Uma joia preciosa? Quem sabe... Oh... Quem sabe um corpo!
Marlene lhe vira um tapa. Karine cambaleia e se escora a uma estante. Com a mão na face, a bochecha ardendo, diz:
- Eu vou descobrir tudo. E vocês duas vão pagar caro.
E sai da sala, deixando uma irmã Marlene desolada e enfurecida.

O Grito das FreirasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora