- Aquilo que te disse. Ela fugiu novamente, dizendo que tinha que fazer um exorcismo. E que tinha que ser de dia. Antes da noite. Acho que é porque de noite, ela fica daquele jeito. - Olhei para o banco preto e assenti.

 - E pretende procurar ela aonde? - Perguntei. O rapaz deu de ombros.

 - Ela pode estar em qualquer lugar. Até na escola, se formos pensar. Mas como ela falou, estou pensando na possibilidade de ela estar na casa do próprio Logan. - Respondeu, prestando atenção na estrada.

 Senti um arrepio na espinha, e gani, sem nenhum motivo aparente. Arya se virou para mim, com expressão confusa.

 - Aconteceu alguma coisa? - Perguntou. Neguei com a cabeça, e gaguejei:

 - Não... Não, eu apenas não quero ir na casa dele. Por favor, se vocês forem, me deixem aqui. - Pedi, sem saber porque de tanto. Ok, ele já tinha quase me matado, mas não era por isso que eu tava om medo. Era por... outra coisa. Nem era medo de verdade, estava mais para nó na garganta, estômago embrulhado toda a vez que eu ouvia seu nome. Como se eu soubesse que algo iria acontecer. Algo ruim.

 Luke franziu a testa, dava para ver que iria contestar, mas parou, lembrando talvez do que tinha acontecido.

 Assentiu e disse:

 - Tudo bem, eu deixo você e a Arya no carro, e vou perguntar ela está lá. É rápido. - Os olhos do garoto se ergueram no espelho, a fim de me ver, e afirmei com a cabeça.

 - Mas e se ela estiver mesmo exorcizando o homem? Vai atrapalhar o satanismo? A louca - Arya disse, gesticulando com a mão e se virando para a janela, arrancando gargalhadas minha e de Luke, que lançou um olhar de admiração para a mesma.

 Arya retribuiu o olhar, levemente constrangida, logo desviando os olhos para os pés, fazendo o outro dar um leve sorriso e voltar sua atenção para o semáforo que acabava de abrir.

 Sorri e me voltei para a janela, olhando a estrada que passava como borrões pela janela.

 Vendo assim, me lembrei do dia que a assistente social me levou até o orfanato de Claridina.

 Ergui uma sobrancelha. Agora, ao pensar bem, tudo aconteceu estranhamente rápido. O guarda nem ao menos perguntou se eu tinha alguém mais para ficar. Apenas me mandou para adoção.

 Bufei, olhando para o teto escuro do carro. Era claro que tinha dedo de Alyce e Jack. Desde o começo. Não me espantaria se descobrisse que foi ela quem mandou o guarda me levar para aquele hospício. Mente de assassino é impressionante.

 ¨Júnior¨

 Rosnei e voltei frustrado para o sótão.

 De qualquer jeito, não dava para sair dali. A praga que aquela mulher botou em mim, é... IRRITANTE! Me deixa com mais ódio cada vez mais.

 Quando eu pegar aquela monstro! Quando eu por as mãos nela... Ela só está brincando com a morte. Se ela gosta tanto assim disso, ótimo, também vou brincar, mas isso não vai passar por brancas nuvens. Pelo contrário, eu vou MATAR aquela desgraçada, infeliz!

 Grasnei e tentei dar um soco na parede. Mas minha mão apenas a atravessou, me deixando mais irritado.

 Parei, sentindo a energia daquela cozinheira imbecil se aproximar.

 Me virei para a porta, esperando ela a atravessar.

 Dito e feito. Aquela maluca adentrou o sótão.

 Bufei e me virei para o piano, sentando na cadeira de madeira.

 - Júnior, júnior. Você pode se fingir de adulto revoltado das coisas, mas você é apenas um bebê. Entenda, olhe seu tamanho. Tem apenas oito anos. Não acha melhor esquecer e relaxar? Que tal dormir um pouco? - Ela disse, mansamente. Sua voz me causava imenso sono, mas eu não queria dormir de novo. Não outra vez.

 Pisquei e trinquei os dentes, resistindo ao sono que ela me trazia.

 - Não, eu não vou dormir de novo! Não agora, que tudo está tão mais perto... E eu não sou um bebê!!! - Berrei, a fazendo cambalear ligeiramente para trás. Ela sorriu hesitante e revelou um livro, cujo continha uma fada na capa.

 Cerrei os pulsos. Sempre era assim. Ela era mandada aqui, para me fazer dormir e assim, sias se passavam, e eu não conseguia fazer o que queria... De novo.

 Apertei os olhos, levando as mãos aos ouvidos, e berrei:

 - Não!!! Sai daqui, eu não quero dormir!! Não vou te ouvir - Exclamei. Por mais que eu estivesse com os ouvidos tapados, eu conseguia ouvir sua voz, que causava tremendo eco em minha cabeça.

 A cozinheira da escola gargalhou. E disse:

 - Não acha que criancinhas de sua idade, deveriam estar na cama? - E abriu o livro lentamente, começando a ler o livro americano:

 - Once upon a time, a baby girl... - Trinquei os dentes, e berrei:

 - NÃO! PARE COM... - Mas perdi a concentração quando ela continuou a contar.

 Aos poucos, com o decorrer da história, a pálpebra de meus olhos foram se tornando mais pesadas, e passei a piscar constantemente.

 Engoli em seco, e me senti tombando para o lado, lentamente, já com os olhos fechados. 

Tem alguém aí? - Volume 1 Where stories live. Discover now