Como realmente é

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A mãe de Lolla me encarava discretamente. Soltei o ar, com cara de tédio. Levei o garfo até a boca, engolindo o almoço, sem apetite. Lolla parecia estar do mesmo jeito. Arya ainda não havia voltado do hospital.
Já estava quase na hora de ir para a escola. E tudo parecia estranhamente normal.
Soltei o garfo, franzindo a testa. Não conseguia comer com a mãe da Lolla me lançando olhares de descriminação.
A parede fresca, suavemente pintada de um aconchegante lilás, a toalha da mesa delicadamente cinza, me dava náuseas.
- Sam, nós já vamos para a escola, ok? - Lolla disse, sonolenta. Aquela menina amava dormir.
Acenti, com a cabeça sem dizer nada.
Sai da mesa, levando o prato até a pia, e subindo para o quarto da Lolla, rapidamente.
- "Essa menina é perturbada. Os pais morreram, provavelmente a perturbam do além. Tome cuidado, se eu fosse você, mandaria ela embora daqui". - Ouvi a mãe dela cochichar. Apertei os olhos, me deixando cair na cama, cansada. É, eu já havia me conformado com a discriminação. Apenas porque eu era órfã agora.
- "Cala boca mãe, olha o que se fazendo, tenha mais respeito. Respeite a dor dela, os pais morreram mas ela não é assombrada por eles, para com isso! - Lolla respondeu, em tom de repreensão.
Suspirei, tampando a cara com o travesseiro.
Eu já estava pronta para ir para aquele inferno. Outra vez. Pronta pra perguntar para Logan porque ele tinha escrito meu nome naquela parede.
Droga... Tudo parecia ter se entendido quando eu vim para cá...
Mas tudo não passava de uma farsa. Alyce uma maníaca. Minha escola um cemitério. Meu antigo melhor amigo um idiota bad boy. A mãe da minha melhor amiga preconceituosa. E eu nunca mais vi a Jane...
Fiz uma careta, afastando o travesseiro do rosto, para respirar.
Pulei da cama quando ouvi uma voz.
- "Caramba, hen? Que energia negra". - A voz era fina, e familiar. Juntei as sobrancelhas, olhando para os lados. Deveria ser Kate. Era fato que seria ela. Qual outro fantasma viria falar comigo?
Dito e feito. No canto do quarto, uma silhueta fraquinha, se desenhava lentamente à minha frente.
Ela apareceu sentada, segurando os joelhos. Os olhos pregados em mim.
- Ah... Kate. - Sussurei, segurando a barra da blusa pólo, que batia levemente em minha cintura.
A garota pareceu decepcionada.
- Que chato. Não te dou mais susto. - Ela disse, ainda me encarando profundamente. Dei de ombros. Ela havia me assustado sim, mas acho que já acostumei com esses sustos.
- Porque ficou tão sumida esses dias? - Perguntei, a examinando.
Sua expressão era péssima. Um pequeno trapo marrom, sujo e esfarrapado, cobria seu corpo. Um filete de sangue seco marcava sua cabeça.
Seus pulsos estavam cortados. Mas não parecia ter sido ela a fazer aquilo. Hum... Fantasmas podem ser feridos?
- "Respondendo seu pensamento, sim, fantasmas podem ser feridos por outros. Por..."? - Ela disse, emburrada.
Passei a mão pelo pulso, olhando para o chão marrom de madeira.
- Por nada. Mas porque te machucaram então? Fantasmas como você, não deveriam estar no "céu"? - Perguntei, desviando os olhos.
- Deveriam... - Ela sussurou apenas, com o olhar perdido pelo quarto. A mesma parecia incomodada com alguma coisa. Inquieta. Assustada.
- "Sam, por acaso consegue ver ao seu redor"? - Ouvi ela balbuciar. Olhei para os lados, vendo o quarto abarrotado de livros, como sempre. O chão com algumas camisetas jogadas e tênis espalhados. O brinquedo do cachorro de Lolla jogado aos pequenos pés de Kate.
- Parece tudo normal. - Respondi.
- "Será..."? - Ela sussurrou, ainda com o olhar vidrado. Estranhei. Ela nunca era assim.
- Sim. - Falei, cautelosamente.
- "Posso te mostrar hoje, o lugar que você realmente estuda, Sam"? - Ela perguntou, soturna. Uma sombra se esgueirou pelos seus olhos.
- ...Pode. A escola? - Tentei decifrar. Ela balançou a cabeça lentamente.
- "Não... Não uma simples escola... Você realmente quer ver como ela é, no espiritual? Na matéria, ela consegue ser melhor..." - Kate olhou fundo nos meus olhos. Como se quisesse descobrir todos meus segredos mais sórdidos.
- Quero. Talvez me ajude a entender alguma coisa. - Disse, sorrindo. Kate parou, séria.
- "Não é brincadeira". - Ela falou, por fim. Estendi as mãos para o ar.
- Tá, ok. Eu não ligo. Acho que nada mais me abala nessa vida. - Eu falei, com um toque de ironia na voz. Agarrei a bolsa, a colocando em meu colo. Eu ia falar sobre o Logan... Mas porque eu ainda me importava com aquele trouxa?
Suspirei, balançando a cabeça.
A porta branca se abriu, e Lolla colocou a cabeça para dentro do quarto.
- Vem? Vamos para a escola. - Ela chamou. Sorri, vendo Kate sumindo, com um macabro "tchauzinho".
Engoli em seco, levantando da cama, seguindo Lolla para o andar de baixo.
- Até mais. Mãe. - Lolla se despediu friamente, colocando uma alça da bolsa em um dos ombros. Sorri para sua mãe, que não retribuiu o sorriso. Revirei os olhos, saindo com a outra.
- Não ligue para minha mãe. - Ela disse, fechando o portão, enquanto olhava para mim.
- Tudo bem. Eu até entendo. - Respondi, constrangida. Lolla sorriu, e começou a caminhar.
- Posso... Fazer uma pergunta um tanto indiscreta? - A mesma perguntou, cautelosamente. Dei de ombros, e falei:
- Vá em frente.
- Porque as vezes, eu chego em um lugar que você está sozinha, e ouço você falar com alguém? - Ela perguntou, hesitante.
Demorei um pouco para responder, tentando raciocinar as idéias.
- Hã... Ah, sei lá. Eu vivo falando sozinha. - Respondi, disfarçando meu incômodo. Ela curvou os lábios para o lado, segurando a alça da bolsa.
Notei que agora, havia pessoas estranhas pela rua em que passávamos...
Pessoas cambaleando, olhando para os lados, confusas. Um homem jogado no chão, com roupas de mendigo. Ele parecia bem machucado. Mas não havia sangue à vista. Franzi a testa, e vire para Lolla.
- Acho melhor trocarmos de caminho hoje. - Ela se voltou para mim.
- Porque?
- Por causa dessas... Pessoas. Parecem estranhas. - Eu balbuciei, de forma que apenas ela pudesse ouvir.
A mesma pareceu confusa. Juntou as sobrancelhas, olhando pata os lados, como se não visse nada.
Uma criança andava com um carrinho sendo puxado por uma cordinha. Pensei que provavelmente, os dois dairam um encontram.
Mas para quase meu infarto, a criança passou direto pela Lolla. Simplesmente a atravessou.
Abri a boca, com os olhos arregalados. A mesma se virou para mim, franzindo a testa.
- Sam...? Está tudo bem? - Ela perguntou. Continuei a à encarar, como se não fosse real aquilo que acabei de ver.
Se repararmos bem, aquelas pessoas eram muito brancas. Quase transparentes.
Continuei a andar, do lado de Lolla, desviando de algumas "pessoas".
Rapidamente, lembrei das palavras de Kate.
"Posso mostrar como realmente é...?"
Senti um nó na garganta. Ela estava me mostrando como era as ruas ali, todo dia.
Apenas de pensar que eu pudesse caminhar entre aquelas pessoas livremente, destruiu as únicas lembranças boas que eu tinha dali.
Fiz uma careta ao passar por um casal.
O rapaz jogado no meio da calçada, com um tiro sangrando na cabeça. A garota chorava compulsivamente, em cima do adolescente.
Engoli em seco, e continuei a caminhar. Era horrível!
- Sam... Quer parar para tomar algum ar? Você não me parece bem. - Lolla sussurou - Está muito pálida. Aconteceu alguma coisa? - Ela acrescentou.
Neguei com a cabeça, sentindo minhas pernas tremendo ao passar por aquelas pessoas.
Eu queria fechar os olhos, e sair correndo dali. Mas isso seria estranho para Lolla.
Respirei fundo, tentando me acalmar.
Apenas olhava para o chão. Acho que nada seria pior do que ver aquelas pessoas sofrendo por ai, vagando sem rumo.
Eu pensava que era pior.
Apenas pensava.
Senti meu corpo estremecer quando ouvi uma voz atrás de mim. Eu sabia muito bem de quem era aquela voz. Eu ouvi ela muitas vezes, mesmo sem querer.
Logan.
- Nossa, agora sim, encontrei as duas primas juntas. - Seu tom de voz era sarcástico.
Lolla se virou para trás.
Eu me virei, mesmo sem perceber. Talvez tudo seria melhor do que ficar vendo aquelas pessoas.
Logan vestia uma jaqueta de couro preta. Uma mão entrava en um dos bolsos, a outra ia na cintura de Arya.
Na cintura.
Levei a mão a boca, tentando não vomitar.
- Logan. Se divertiu bastante com minha prima? - Lolla perguntou, ironicamente.
- Claro não se divertir na presença de pessoa tão linda? - Ele disse, com a mesma forma irônica, sorrindo.
Lolla fez cara de quem não ta pouco se fodendo, e recomeçou a andar.
- Onde está a Agatha? - Perguntei secamente.
- Enternada. - Arya que respondeu. Suspirei, continuando a evitar olhar para as pessoas jogadas nas ruas.
O problema, é que elas pareceram perceber que eu conseguia ver elas.
Algumas se levantaram, murmurando coisas e apontando para mim.
" Tudo bem Kate, vi, não quero mais ver como realmente é". - Pensei aflita. Nada.
Eu continuava a ver aquelas coisas horríveis e torturantes.
Mas Rudo ficou pior quando eu finalmente avistei a escola ao longe.
Eu sabia que deveria ser feio.
Sabia que deveria ser perturbador a vista. E que vendo aquilo, do lado de Logan, era mil fezes pior.
A cena era de horror. Agora que eu sabia a verdadeira face da escola.
****
Bom gente, é isso. Acabei postando adiantado (Por isso digo que não tenho dia nem hora para postar XD)
ENTÃO...
Eu sei que deve estar chato, nada a ver, mas é o que temos para hoje ;)
Deixe seu voto ai, como esmola, por favor... E é isso.
(Verifique se não à ninguém no canto do seu quarto)
Beijos das trevas e sombras,
Sofie



















Tem alguém aí? - Volume 1 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora