VINTE E CINCO

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Enquanto Beth era arrastada para dentro da tenda de Bruno, eu me perguntava onde estaria Daryl e Kelly. Desespero tomou conta do meu ser ao mesmo tempo em que eu me debatia na vã tentativa de me soltar das poderosas amarras que me prendiam à árvore. Um grito foi contido em minha garganta. Beth! Não. Não poderia gritar. Isso só iria atiçar ainda mais Bruno.

- Você aí - ele falou da porta da tenda para um cara alto e magricela de cabelos pretos - fique de olho nas coisas aqui fora e não deixe esse infeliz fugir. - falou, se referindo a mim.

- Pode deixar, chefia. Não há nada com o que se preocupar. - o homem disse, sua voz fina doendo em meus ouvidos.

Bastou Bruno fechar a tenda que o homem caiu no chão. Em sua cabeça, uma flecha estava atravessada de um lado ao outro, quase atingindo a orelha direita. Pouco depois, silenciosamente, Daryl e Kelly saíram da floresta, marchando diretamente na minha direção.

- Pensei que vocês não iriam vir mais! - disparei a falar, e parei apenas quando o Senhor Dixon tapou minha boca com uma das mãos.

- É, super discreto. Por que você não vai logo lá dentro e diz para aqueles caras que tem alguém tentando te salvar? - Kelly falou aos sussurros, me olhando de cima.

- Pronto, está livre. Agora fique quieto. - Daryl tirou a mão de minha boca e me ajudou a levantar.

- Precisamos ajudar a Beth. Sabe se lá Deus o que aquele psicopata planeja fazer com ela lá dentro - passei a mão por meus pulsos, tentando amenizar a ardência deixada pelas cordas.

- Bem, detesto ser atrapalhado quando estou inspirado para fazer um trabalho bem feito. E aquela loirinha me deu uma tremenda inspiração. - Bruno falou, nos fazendo dar um salto e olhar para trás, para vê-lo em pé com seu último capanga ao lado: um garoto de no máximo 15 anos, lábios carnudos e corpo um pouco acima do peso. - Acho que vocês precisam aprender a ser um pouco mais discretos.

- Oh, Deus! - Kelly exclamou.

- O que aconteceu? - Daryl olhou para ela, fitando o pânico e a surpresa estampada em seu rosto.

- Ele... ele parece com meu irmão mais novo - ela ergueu o dedo indicador e apontou o garoto ao lado de Bruno. Pela expressão dela, aquilo foi um choque e tanto, e eu sabia o porque. Ela perdeu toda a família, de uma maneira muito trágica e ver alguém tão parecido com seu irmão, deve ter mexido com ela.

- Viu Tcharles? A esquisita ali acha você parecido com o irmão dela. Que fofo! Que tal matarmos ela primeiro?

O garoto começou a andar, empunhando uma espada nas mãos e um sorriso demente na face. Daryl partiu, procurando a flechas para usar em sua Besta, mas elas não estavam onde deveriam estar e ele acabou erguendo o arco como se fosse uma pesada barra de metal e partiu assim mesmo.

- Acho que não - Bruno falou e apertou o gatilho do que parecia ser uma pistola. Daryl passou a mão no pescoço e tirou de lá algo que se parecia com uma mini flecha com ponta de agulha e começou a cambalear. - Dardos tranquilizantes, altamente eficientes.

- Não! - Kelly gritou quando viu o seu amado cair no chão, desviando um pouco a atenção e dando a oportunidade para Tcharles se aproximar e prendê-la com uma chave de braço.

- E agora, Lauan? O que vai fazer? Está só, desarmado e desprotegido. Você não tem a menor chance de se proteger. Na verdade, você não consegue. Assim com não conseguiu proteger seu irmão anos atrás, agora não consegue também. - Bruno estava me provocando, o que me impulsionou a tentar acertar um pedaço de madeira que encontrei no chão nele.

Uma tentativa falha, pois no ultimo segundo ele puxou meu taco de detrás de si e me acertou no queixo, fazendo a pontas penetrarem minha pele superficialmente. Eu perdi o equilíbrio e cai, e ele continuou me atingindo, me fazendo arquear as costas a cada golpe executado.

- Você não compreende, não é? Lauan, você não pode me vencer, e eu vou te fazer aos pedaços e depois te remendar só para te despedaçar outra vez.

Ele me atingiu mais uma vez, me levando ao chão. Um jato de sangue pulou de minha boca, marchando o solo da floresta, e por baixo das pernas dele vi um par de pés pequenos, ao lado deles, um machado de bordas vermelhas. Uma chuva de sangue banhou meu corpo, e Bruno caiu de lado. Sua cabeça, dividida no meio, parecia um rio vermelho, jorrando sangue para todos os lados. Tcharles, devido ao susto, vacilou e afrouxou um pouco o aperto que segurava Kelly, dando a ela tempo suficiente para se desvencilhar e se solta, acabando por enfiar uma adaga pontuda na têmpora dele no segundo seguinte.

Ela correu e segurou Daryl em seu colo, beijando os lábios do desacordado. Ergui os olhos a tempo de ver Beth largar um machado de bordas vermelhas e se agachar ao meu lado, acariciando meus cabelos e me beijando no rosto. Então eu apaguei.

The Walking Dead - A Marcha dos MortosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora