Quebrando as regras

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– Chega dessa ladainha. Me diga o que devo fazer. Você já tem as perguntas prontas? Passe-as para mim, homem. Tenho que andar para tentar ter acesso ao estádio.

Ele me olha apreensivo. Seus cílios piscam rapidamente, denunciando sua insegurança. Solta, vai, Olavo. Eu sei que lá vem bomba.

– Realmente tem que ir, Kim. O jogo será esta tarde e os jogadores devem estar chegando a qualquer momento. Você... terá que se virar. A informação que precisamos basicamente é a confirmação ou não da sua partida para a Europa e, de preferência, todos os detalhes sobre a transação. O câmera que estará com você é Nelson, o melhor que nós temos.

– Quer dizer que eu não terei perguntas prontas? Eu não conheço nada sobre esse cara nem quais são os boatos que estão rolando. Que diabos vou perguntar a ele? Está louco, Olavo?

– Vá, Kimberly, apenas vá. Sei o quanto é competente e tenho certeza de que se sairá bem como sempre fez.

Então é isso. Eu estou entrando na cova dos leões sem qualquer proteção, sem saber o que vou fazer ou com o que posso me deparar. Não me leve a mal, não sou do tipo negativista, mas será que só eu estou vendo que essa entrevista será um fiasco?

Sou virginiana, ora essa, perfeccionismo está no meu sangue. Sempre me organizo antes de fazer qualquer coisa e sempre me preparo para o imprevisível. Desta vez, a regra do jogo é lidar com o inesperado.

Certo. Então, vamos lá.

Saio do escritório dele correndo para a minha mesa. Olho em volta e vejo como todos estão concentrados trabalhando como se o amanhã estivesse garantido. Sabem de nada, inocentes! Não têm ideia do que pode estar prestes a acontecer.

Pego meu celular de dentro da bolsa e paro alguns segundos apenas olhando para ele. Eu tenho que fazer uma ligação para o meu pai que vai deixá-lo esperançoso e feliz, mas a mim nem um pouco.

Sempre quis que eu trabalhasse com ele, mas eu sempre fugi desse destino como o diabo foge da cruz.

Apertei cada número como se a minha mão tivesse o peso de um piano. Eu sempre gostei de falar com meu pai. Temos a melhor relação que um pai e uma filha possam ter, porém essa será a primeira vez que ligo para pedir um favor. Principalmente um favor que tenha a ver com futebol.

– Alô! Oi, Kim. Como vai a minha princesinha?

Acredite. Sr. Eduardo Nóbrega ainda me chama desse jeito, é mole?

– Estou muito bem, pai. Como está sendo sua manhã?

– Bastante agitada, querida. Nós temos um jogo muito importante daqui a pouco contra o Atlético Gladiadores e preciso estar no pé desses caras ou vão fazer merda mais uma vez. A gente tem que ganhar esse jogo hoje, filha.

– Imagino como as coisas estão aí, mas não estou te ligando para ouvi-lo discorrer sobre futebol. O senhor sabe o quanto detesto tudo isso.

– Sei e não consigo entender até hoje. Esse clube é seu e de seu irmão. Você precisa estar à frente dele. Eu não quero viver preocupado com o futuro de um patrimônio que eu criei com tanto esforço para a minha família. Sonho com o dia que você vai pensar melhor sobre o assunto e decidir me ajudar na administração. Eu te criei para isso.

Eu te criei para isso. É a frase que mais ouvi na minha infância.

'Eu te criei para se tornar esposa de jogador de futebol', dizia a minha mãe.

'Eu te criei para se tornar uma grande administradora em um universo tão masculino como o futebol. Você é forte e sei que vai conseguir', dizia meu pai.

Apollo: Quando o Amor está em Jogo À venda na Saraiva e Qualis EditoraWhere stories live. Discover now