✳ 20 ✳

766 79 4
                                    

Estou às voltas na cama em busca do sono que nunca mais chega. Eu realmente estou cansada e não consigo adormecer.

Por volta das 5 da manhã decido que não vale a pena continuar a tentar dormir porque com a confusão que está na minha cabeça não vai deixar.

Aquele encontro com Kyle só piora as coisas. Faz me pensar mais nele. Faz me pensar nas possibilidades de um futuro com ele sem este laço de sangue. Será que continuaria comigo? Ou quando tudo se tornasse real ele me deixaria? E ao contrário? Será que os meus sentimentos seriam diferentes? Seria eu a deixá lo? Não sei a resposta a estas perguntas...

De repente, Kyle desaparece da minha mente para dar lugar a Chris. Um sentimento de culpa invade me. Deixei o pendurado na festa, tal como a Kate... Será que ele viu o beijo? E porque é que isso me incomoda?

Levanto me e dirijo me para a cozinha. Bebo o mesmo de sempre e vou fazer a minha higiene. Visto uma roupa confortável pois não estou a pensar sair daqui hoje, nem que a Kate me arraste. E todos sabemos que isso não é possível pois vampiro tem sempre mais força.

Fico na sala, vou almoçar, volto para a sala e isto é a minha rotina de hoje. Ver televisão o dia todo e ler. Até que a campainha toca acabando com o sossego e aborrecimento. A campainha toca sem paragens, sucessivamente e soube logo que era uma emergência. Corro até à porta e abro a deparando me com Kate. Está suada, despenteada e tem sangue a escorrer lhe pelo canto da boca e mais sangue nas mãos. Os seus olhos espelhavam o mesmo horror e pânico que senti quando matei o homem. Só espero que não lhe tenha acontecido o mesmo.

Puxo a para dentro e ela cai no sofá, em choque.

-Kate, o que é que aconteceu?

Responde me com barulhos tentando articular palavras mas sem sucesso.

Agarro a nos ombros e foco o meu olhar no dela.

-Kate, por favor, conta me o que aconteceu? De quem é este sangue?

-Eu sou um monstro, Mia! Eu não sei como é que isto aconteceu da noite para o dia, mas eu tornei me num monstro!

Fiquei calada para que ela continuasse.

-Depois de ires embora da festa, um rapaz aproximou se de mim e ficámos a conversar. Lembro me vagamente de nos beijarmos e depois só me recordo de acordar no meio daquela floresta perto do prado. Sentia a garganta muito seca, uma dor horrível no meu maxilar começou e depois senti um cheiro a sangue muito presente e eu desejava o. Olhei à minha volta e vi um coelho. Tão inocente e de repente estava a ataca lo. Eu bebi o seu sangue! Pior! Eu queria mais e mais! Não sei o que se passa comigo...

Infelizmente, eu sei.

Levanto me e vou até à cozinha e volto com uma caneca com sangue que tinha guardado. Ela pega na caneca e bebe tudo desesperadamente. Eu sei o que ela está a sentir. Depois de beber é que se apercebe do que é.

-Eu sou...

-Receio que sim, Kate. És vampira, tal como eu.

-Como faço para voltar a ser humana?

-Não há maneira...

Ela baixa a cabeça, visivelmente desiludida com a minha resposta. Ela suspira e começa a chorar em silêncio. Fico ao seu lado sem saber o que dizer ou fazer para a fazer sentir melhor.

Quando se acalma e pára de chorar, digo lhe para ir para o meu quarto descansar e ela vai.

Ligo à minha avó, ela sabe o que sou. Posso desabafar com ela e pedir lhe ajuda.

Ela atende e diz me que vem a caminho. Espero e salto do sofá quando oiço a campainha. Abro a porta e abraço logo a minha avó convidando a a sentar se no sofá comigo.

Contei lhe o que se passou com Kate e peço lhe ajuda.

Rapidamente levanta se e vamos até ao hospital e ela vai pedir a um funcionário vampiro que ela conhecia e pediu lhe duas garrafas de sangue e disse que era uma emergência. O rapaz foi muito compreensivo e deu nos o que nós pedimos.

Levámos para casa e guardámos no frigorífico para quando a Kate acordasse.

Sentámo nos no sofá e fechei um pouco os olhos. Quando os voltei a abrir a minha avó estava a olhar para mim e com o pequeno sorriso que me conforta sempre.

-Há mais qualquer coisa que te incomoda e que ainda não me contaste. Tem a ver com aquele rapaz? O Kyle?

Ela sempre percebeu quando eu precisava de falar.

Contei lhe que estávamos a ir bem, que ele se estava mesmo a esforçar para tudo correr bem mas que depois descobri que ele era o meu Progenitor e que nada era real.

Em vez de se mostrar preocupada deu uma pequena risadinha. Arqueio a sobrancelha surpreendida com a sua reação à notícia.

-Querida, o Kyle não é o teu Progenitor.

Alguém toca à campainha e eu vou abrir a porta enquanto falo.

-Como assim?

-O Kyle não é o teu Progenitor, Mia.

Atrás da porta estava Chris a sorrir.

A cara divertida da minha avó fica muito séria de repente quando vê o Chris.

-Ele é. Ele é o teu progenitor.

Mordida pelas SombrasWhere stories live. Discover now