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A Kate ja se foi embora.
O sangue que o Kyle me forneceu já está a acabar. Tenho de começar a poupá lo.
Depois de refletir durante três horas sobre a minha nova vida, decidi ir até ao prado.
Quando cheguei sentei me no chão e rezei para que ele aparecesse hoje.
Senti um cheiro a invadir me uns momentos depois. Sangue e...mentol?!
Olhei para trás e lá estava Kyle. Desta vez, a sorrir.
Atirou uma nova garrafa para os meus pés e eu guardei a na mochila.
Levantei me e aproximei me dele.
-Ensina me a caçar!
-Olá para ti também. Estava a ver que nunca mais pedias. - diz e fixa o seu olhar no meu sorrindo.
-Mas é só isso. Ensinas me a caçar, mais nada.
Ele levanta os braços em forma de rendição ainda a sorrir.
-Ninguém disse que haveria mais.
-Boa. Então, quando começamos?
-Que tal agora? - sugere ele.
-Amanhã.
Peguei na mochila e fui embora sem me despedir. O sorriso dele deixa me nervosa e eu não quero que ele perceba.

Cheguei a casa e encontrei a minha avó no sofá a ver televisão.
-Avó?
-Olá, querida! A tua mãe ligou me a dizer que estava de viagem e como o teu pai também está decidi vir ver se precisavas de alguma coisa e fazer te um pouco de companhia.
-Ah...okay.
Fui até à cozinha guardar a garrafa no frigorífico e reparei que a outra já lá não estava. Eu ía jurar que a tinha arrumado antes de sair de casa. Estava em cima do balcão da cozinha.
A minha avó estava encostada à ombreira da porta de braços cruzados a olhar para mim.
-Então és um deles?
-Avó...
-Não te preocupes, querida. Tiveste sorte que fui eu a encontrar a garrafa. Anda cá.
Fomos de novo para a sala e sentámo nos no sofá.
-Disseste "um deles". Como é que sabes da existência deles.
-Muita gente sabe. Eu descobri quando era muito nova. Tinha dez anos e eu e uma amiga, a Rose, fomos brincar para o prado e um deles apareceu de repente. Acho que era um iniciado, estava muito desorientado antes de... - fez uma pausa - ...de atacar a Rose. Vi tudo e não consegui fugir mas ele não me atacou. Deixou me ali com o cadáver dela. A partir desse dia reparei que muitos deles andavam na aldeia, na cidade, trabalhavam e estudavam. Mentalizei me de que nem todos eram maus. Foi um ato desesperado.
A imagem do homem que eu ataquei vem me à cabeça e sinto um arrepio.
-Quando é que foste transformada?
-Eu não tenho a certeza, mas acho que foi naqueles dias em que estive desaparecida.
-Desaparecida? A tua mãe não me disse nada. - diz ela um pouco chateada. - E sabes que foi?
-Não.
-Estás bem?
-Sim.
-Tenho de ir senão o teu avô fica rabugento por não ter o jantar a horas. Queres jantar lá em casa?
-Não, obrigada.
Deu me um beijo na testa.
-Está bem. Liga me se precisares de alguma coisa. E lembra te, querida, tu não és um monstro.

Mordida pelas SombrasWhere stories live. Discover now