Capítulo 08 - Solidão

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— Não. Quer dizer, não precisa ser agora. - assenti novamente, me sentindo deslocada. Não me lembrava qual foi a última vez que me senti deslocada na presença de Mariana. Talvez nunca. - Reunião de tutoria?

Ela assentiu com a cabeça, dando um sorriso tristonho.

— Vejo você mais tarde - disse para então virar de costas e caminhar para longe.

Eu fiquei esperando Caio na porta do colégio me convencendo de que não podia falar pra ele. Eu simplesmente não podia contar pra ele que, ao que tudo indicava, a irmã dele estava de caso com meu ex-namorado. Ao mesmo tempo, aquilo estava virando um nó tão grande na minha garganta que eu preferia que ela simplesmente confessasse de uma vez se fosse verdade. Caio piorou as coisas quando eu entrei no carro e ele começou falando:

— Acho ótimo que Mariana tenha se engajado nas atividades escolares que valem realmente a pena. Acho que essa história de ser tutora está ajudando bastante ela...

O nó se apertou e, para evitar que algo escapulisse, eu apertei os lábios e assenti com a cabeça. Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto eu tentava fazer o nó descer. Foi quando o celular de Caio começou a tocar algum rap e eu desci os olhos para o console do carro onde o aparelho estava, juntamente com garrafas vazias de água, moedas e chaves que provavelmente ninguém sabe de onde são. A tela estava virada para cima, então eu acidentalmente vi quem ligava. A foto e o nome brilhavam no meio de toda aquela desorganização.

Pri.

"Pri" era uma menina loira e peituda.

No visor do Caio só apareciam seus lábios, cabelos loiros, pescoço desnudo e seios fartos. Era isso. Não dava para ver nem o rosto completo da menina.

Levantei os olhos do celular para Caio, que estava olhando para mim com certa expressão de desespero.

— Não vai atender? - perguntei, com certo grunhido. Fiquei em dúvida se era pela dificuldade de engolir o nó da Mariana ou porque tinha acabado de surgir um novo chamado "Pri".

— Não, eu vou retornar depois - ele respondeu em um tom semelhante ao meu, desviando os olhos novamente para a rua.

Desviei os olhos para a janela ao meu lado enquanto ouvia o celular tocar mais uma vez e depois outra. Só na quarta tentativa "Pri" desistiu de falar com Caio. Quer dizer, pode ser que ela tenha até ligado de novo, mas nós finalmente chegamos ao meu trabalho e eu pude sair do carro e me livrar da carona mais esquisita de todos os tempos.

— Obrigada - disse, tocando a maçaneta para abri-la. - Você não precisava ter ido só me buscar. Eu poderia ter vindo de ônibus.

— Eu sei - foi o que ele respondeu, me olhando daquele jeito indagador de sempre. Como se estivesse tentando entender o que eu estava pensando.

Ele sabia no que eu estava pensando. Eu estava pensando em "Pri".

Pensei em "Pri" durante todo final de semana, alternando entre ela e Mariana-Roberto. Como você pode ver, meu grau de divertimento neste final de semana foi praticamente o mesmo do anterior, que passei fazendo o ENEM. Para ser mais correta, fazer o ENEM foi mais divertido. O tempo fechou e choveu durante todo o tempo. Caio não deu sinal de vida e Mariana mandou uma mensagem no final do sábado que dizia: "Quer fazer maratona de filmes? Bjks" ao que eu respondi "Estou ocupada ajudando minha mãe numa coisa, pode ser semana que vem?".

Claro que era mentira. Minha mãe passou o final de semana fazendo maratona de Criminal Minds no Netflix e eu passei o final de semana trancada no quarto pensando na vida. Eu não queria ficar com Mariana porque eu não queria ter que lidar com a situação Roberto no momento. Eu precisava ficar um pouco quieta e pensar. Era justo que eu ficasse olhando Mariana cometer o mesmo erro que eu? Ela ia mesmo cometer o mesmo erro que eu? Ela tinha quase 18 anos, e eu tinha só 14. Talvez Roberto estivesse mesmo mudando para melhor. Talvez Mariana fosse exatamente o que ele precisava... Mas tinha tudo aquilo que ele tinha me dito no aniversário do Caio, há pouco mais de um mês.

Eu superei tudo que ele fez comigo, ainda que doa de vez em quando. Só que eu nunca superaria se ele fizesse minha melhor amiga sofrer, ainda que ela parecesse estar se entregando de boa vontade na mão do criminoso. Como pode? Foi ela que secou todas as minhas lágrimas. Foi para ela que contei todas as minhas angústias... Eu queria estar por perto para orientá-la e protegê-la se fosse mesmo isso. Eu queria que ela pudesse me contar sobre seu novo "relacionamento" como melhores amigas fazem. Eu queria que ela me assumisse a verdade.

E eu queria desesperadamente saber quem era "Pri".

Era isso. Eu tinha uma vida amorosa muito conturbada. Eu tinha um ex-namorado descompensado, que diz que me ama em um mês e no mês seguinte está roubando a presença da minha melhor amiga de minha vida. Eu tinha um melhor amigo com quem eu ficava esporadicamente, normalmente quando ele estava alcoolizado (aliás, sempre) e de quem não poderia ter ciúmes quando via alguma piriguete de peitos maiores que minha cabeça ligando para ele incessantemente. Era a vida amorosa que toda garota gostaria de ter! Que maravilha...

Só que no final eu não tinha vida amorosa. Minha vida amorosa não era conturbada pelo simples fato de que ela era inexistente. Beto não era nada meu e tinha toda a liberdade para mudar de ideia sobre seus sentimentos no momento que bem entendesse. Na verdade, sempre torci para que ele mudasse. No entanto, não sabia que ele iria resolver gostar de Mariana. A ideia dele gostar de Mariana era melhor, todavia, do que a ideia dele estar usando Mariana para me atingir. Ou para qualquer outra finalidade. Caio também não era nada meu. Nós não tínhamos um relacionamento, na verdade, estávamos bem longe de ter. Nós éramos muito diferentes e eu tinha certeza de que nós faríamos um péssimo casal. Nunca tive motivos para acreditar que tínhamos qualquer tipo de pacto de fidelidade, porque isso é um absurdo. Ele tinha direito de ficar com quantas Pris, Patis, Gigis, Bibis e etc que ele quisesse (ainda que eu tivesse um pequeno desejo oculto que elas não fossem tão peitudas!).

Encolhi-me em minha cama, segurando minhas lágrimas. A pior parte de ter uma vida amorosa inexistente era às vezes me sentir tão sozinha.


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GENTE, TÔ NO CHÃO.

Esse foi o capítulo que atingiu 100 estrelas MAIS RÁPIDO NA HISTÓRIA DE TIETE!!!!!

Sério. Eu fui dormir ontem e já tinham 90 ESTRELAS. Vocês já tinham batido a meta de 80. Tô passada. Achei que Tiete! não estivesse sendo tão lida, porque 99.9% das notificações que recebo daqui são de Acampamento. MAS ESTAVA ERRADA. MAIS DE 100 PESSOAS ESTÃO LENDO! BEIJOS GENTE, OBRIGADA!

Como promessa é dívida: TAÍ O CAPÍTULO EXTRA!

Mas agora só terça, tá? A escritora precisa viver.
Tá chegando a Bienal e eu tô passando VÁRIAS HORAS DO DIA arrumando tudo... E as outras horas tentando revisar Acampamento para arrumar uma editora pra ele :P

OBRIGAADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

BEIJOS MIL

Tiete!On viuen les histories. Descobreix ara