Vinte e nove

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Como quase todo sábado, venho arrastada para a casa do meu pai. Rafa, mesmo de "férias" graças a greve da faculdade, nem ousa botar os pés aqui. Foi surfar na Prainha, me deixando cheia de inveja e meu pai irado.

Sem muito o que fazer além de ficar aguentando o Samuca, passo o dia vendo séries e esperando uma ligação do Bernardo, mas não recebo nada. Nem mesmo uma mensagem.

À noite decido ligar pra ele. Depois da iniciativa do beijo, isso é até pouco e digo a mim mesma que não vai me matar. Não estou nem mais preocupada com a possibilidade dele ter se arrependido do que aconteceu. Agora só quero me certificar se ele está bem depois de toda aquela discussão entre seus pais.

Apreenssiva ouço o telefone chamar algumas vezes e acabar caindo na caixa postal. Sério, alguém ainda usa isso? Resolvo então ligar para a casa dele. Talvez estivesse longe do celular, não é mesmo?

Nada. Ninguém atende. Como último recurso mando mensagem.

Silêncio.

Para não pensar besteiras começo a conversar com minhas amigas no grupo. Não conto sobre o beijo que dei no Bernardo porque já sei a reação delas.

Bruna vai dizer "É isso aí, garota!", enquanto Pri vai mandar vários coraçõezinhos e Tathi com certeza iniciar uma palestra sobre como pessoas que se beijam acabam compartilhando os mesmo tipos de bactérias. Sim, isso é a cara dela. Muito romântica. Se bem que a Priscilinha ainda não faz ideia que eu não gosto mais do primo dela. Acho que quando eu contar a novidade ela vai ter um choque.

No domingo o silêncio continua, por isso desisto de ligar e me dedico aos estudos. A preocupação, no entanto, não sai de mim.

Recebo uma mensagem inusitada de Clara Melo dizendo que vai me colocar no grupo que criou para falarmos sobre a arrecadação do dinheiro das bandeiras. Ela é simpática comigo, o que só me faz acreditar o quanto é falsa.

Quase no finalzinho da tarde, depois de eu ter dormido pelo menos umas duas horas, vejo no celular que tinha recebido uma mensagem do Bernardo. Meu coração quase para.

Bernardo: Oi, vi sua mensagem, mas não te ignorei não. É que as coisas aqui em casa estão péssimas.Depois da discussão de ontem meu pai saiu de casa sem dizer pra onde ia e só voltou hoje à tarde.

Como minha mãe tem pressão um pouco alta, ela teve uma crise durante a noite e eu tive que a levar sozinho pro hospital. Foi assustador. Eu não sabia o que fazer direito e meu pai não atendia ao telefone.

Mas está tudo melhor agora. Foi só um susto mesmo.

Beijo

Fico aliviada pelo silêncio do Bernardo não ter a ver comigo, mas também triste pelo que aconteceu. Por isso mando uma mensagem em resposta.

Cléo: poxa, que coisa horrível. Ao menos que bom que ela melhorou e ele já voltou pra casa. Espero que você esteja bem também. Não gosto de te ver triste ou sofrendo. Fico com pena porque também já passei por isso.

Beijo. Estou com saudades.

Ele não responde, o que não me incomoda tanto, pois sei por experiência própria que mesmo depois da briga ter passado o clima ainda deve estar meio tenso em sua casa.

À noite, meu pai me leva de volta para Ipanema.

Quando chego, esbarro com a mãe de Bernardo no hall do prédio esperando pelo elevador.

A cumprimento e pergunto se está tudo bem sem dar bandeira que sei da história toda. Ela a firma que sim e que foi apenas comprar pão para o lanche de noite.

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