Trinta e cinco (sim, adiantei o cap)

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   Se na última semana eu havia derrotado velhos medos e me aberto mais para as pessoas como no caso de minha mãe, da psicóloga e do Bernardo, isso ainda não se aplica à minha relação com meu pai.

Não sei colocar em palavras o que acontece, mas sempre quando tento mostar meu ponto de vista a ele, meu pai cresce, se desfigura, e logo em seguida surge diante de mim um dragão com asas de fogo e dois metros de altura que irá me aniquilar caso eu imita qualquer som.

Por isso, quando ele me perguntou sobre Bernado me ative às informações básicas:disse que era um amigo da escola que havia se mudado a alguns meses de São Paulo e só.

Na verdade, nem sei onde encontrei voz para dizer essas últimas palavras. O olhar do meu pai parecia que iria me engolir viva a qualquer minuto. Óbvio que isso me fez gaguejar e tudo soar como se fosse mentira.

Como resultado ele não pareceu muito convencido da história, claro. Apenas disse que vai ficar de olho em mim e nesse Bernardo, me lembrando antes de sair do quarto da regra de que eu não posso namorar até ter dezoito anos.

Depois disso pegou sua espada, montou em seu cavalo e foi procurar onde tinha deixado sua máquina do tempo. Porque, sinceramente, eu não consigo conceber como em pleno século XXI alguém ainda tenha esse tipo de mentalidade.

Ao menos a liberdade chegou no final do domingo e voltei a respirar em paz na casa da minha mãe.

Não vi Bernardo nesse dia e nem na segunda, pois faltei a aula para ir a uma consulta no ginecologista. Na verdade, mamãe havia feito a marcação pra ela há muito tempo, mas como eu havia dado aquele surto de cólica quando geralmente só tenho umas dorezinhas, ela achou por bem que eu fosse em seu lugar.

Não vou negar que fiquei vermelha ao falar sobre virgindade e outras coisas, sem mencionar o frio na barriga de imaginar que outra pessoa além de minha mãe me veria pelada. Mas a consulta acabou sendo boa, na medida do possível, e eu saí com alguns pedidos de exames, ainda que a doutora Márcia tivesse me garantido que crises de cólicas assim são muito comuns.

Sério. O nosso útero se retorce feito roupa, sangra durante cinco dias e o que a evolução dá para os homens? Uma "torneirinha" que facilita na hora de ir ao banheiro. Claro, natureza. Isso faz todo o sentido!

Na terça espero ver Bernardo na escola, mas ele não vem. Fico preocupada, por isso mando uma mensagem que acaba não sendo respondida. Pergunto a Lucas sobre ele, que desconversa me deixando ainda mais encucada.

Bru então me chama para o banheiro enquanto Tathi e Priscilinha estão na fila da cantina e, falando baixo, naquele tom de segredo me explica a coisa toda.

-Olha, não briga comigo tá. Eu sou assim. Pé na porta mesmo. Você já me conhece.

-Do que você está falando, Bruna?- me sento em um dos bancos do banheiro.

-Na segunda que você faltou o Bernardo estava o tempo inteiro digitando no celular na aula. Quase que o professor pegou o aparelho dele, por sinal. Até aí tudo bem, ele podia estar falando com você. Só que eu vi que a Caramelo líder estava mexendo muito no dela também e rindo. Aí achei que eles podiam estar mandando mensagens um pro outro. Claro que eu não gostei nada da história. Quem aquelazinha pensa que é pra roubar o homem da Cléo?

-Bom, ele não é meu nem nada. –reajo ficando vermelha- Mas tudo bem, continue.

-Aí, na hora em que ele foi beber água eu "acidentalmente" bati nas coisas da carteira dele que acabaram caindo no chão e troquei nosso celulares já que são de mesma marca. Depois vim pra cá pra pro banheiro ver o que tanto ele escrevia naquele bendito aparelho.

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