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Park Jimin

A manhã seguinte não chegou com um raio de sol, mas com uma ressaca seca de humilhação e o sabor amargo da derrota. Eu não tinha dormido. Ficara deitado na cama, encarando o teto, revivendo cada segundo da noite anterior, a euforia idiota da festa, o gelo repentino no sangue ao ver as notificações, a expressão impassível de Jungkook no saguão iluminado. Suas palavras ecoavam na minha mente, uma sentença gravada a fogo.

Consequências tangíveis.

O que isso significava? Ele ia me trancar no quarto? Cortar toda a comunicação? Me mandar de volta para a Coreia em desgraça total?

Às 6h30, o despertador tocou. Meu corpo doía de tensão. Levantei-me, me vesti com roupas semelhantes às de ontem, um uniforme de prisioneiro não dito. A casa estava silenciosa, mas era um silêncio diferente. Carregado.

Expectante.

Desci as escadas, cada degrau um ato de força de vontade. O cheiro de café era o mesmo, mas hoje me fez sentir enjoado.
Jungkook já estava na cozinha. Não estava de terno. Vestia calças de jogger pretas e uma camiseta cinza, justa o suficiente para mostrar que aquele controle que ele tanto prezava se estendia ao próprio corpo. Ele estava de costas para mim, mexendo uma panela no fogão. A cena era quase doméstica, se não fosse pela postura rígida e pela aura glacial que emanava dele.

A tigela que eu tinha deixado na pia estava lavada e seca, guardada. A tampa da garrafa de água tinha desaparecido. Ele tinha arrumado minha bagunça, apagado meus pequenos sinais de rebeldia, restaurando a ordem perfeita sem sequer comentar. Foi mais efetivo do que um grito.

Ele se virou. Seus olhos me encontraram, e não havia surpresa, nem raiva explícita. Apena uma avaliação fria.

— Sente-se. — disse ele, não um convite, uma ordem.

Sentei-me à mesa de mármore. Ele se aproximou e colocou um prato na minha frente. Era uma omelete perfeita, dourada, sem uma mancha, ao lado de duas fatias de torrada integral e metade de um abacate fatiado com precisão. Era uma refeição nutritiva, balanceada e insultantemente controlada.

Ele pegou sua caneca de café e se apoiou no balcão, observando-me. Ele não tinha um prato para si. Aquilo era só para mim. Um ato de… cuidado? Ou de pura demonstração de poder? "Eu decido o que você come, quando come, e como você se alimenta."

— Coma. — ordenou, tomando um gole de café. — Você vai precisar da energia.

A frase soou sinistra. Peguei o garfo, minhas mãos levemente trêmulas. A omelete estava boa. É claro que estava. Tudo que ele fazia era perfeito.
O silêncio se esticou, quebrado apenas pelo tinir do meu garfo no prato. Ele esperou até que eu tivesse comido quase tudo antes de falar.

— A partir de hoje — começou, sua voz calma e clara como vidro, — seu horário sofrerá ajustes. O motorista te buscará na escola às 15h45, como de costume. Você virá diretamente para cá. Não haverá desvios. Você terá uma hora para descansar ou fazer o que bem entender dentro do seu quarto. Às 17h em ponto, você se apresentará aqui na cozinha.

Ele fez uma pausa, garantindo que eu estava ouvindo, que cada palavra estava sendo absorvida.

— Você terá tarefas. Manutenção básica da casa. Aprenderá a valorizar a ordem que parece tão determinado a perturbar.

Eu olhei para ele, incapaz de disfarçar completamente o choque. Tarefas? Servidão doméstica?

— Você não pode esta falando serio... — a frase escapou dos meus lábios antes que eu pudesse impedi-la.

Ele inclinou a cabeça, um movimento quase predatório.

— Oh, eu sou completamente sério. Acredite, Jimin, existiam opções muito mais severas sobre a mesa. Esta é… educacional. Você quebrou a truste. Violou as regras. Agora, você vai reparar. Não com palavras, mas com ação. Com suor.

Ele se aproximou da mesa e colocou as mãos na superfície de mármore, inclinando-se sobre mim. Seu olhar era intenso, implacável.

— Você vai aprender a aspirar um piso. Vai aprender a limpar vidros sem deixar marcas. Vai aprender a organizar uma despensa de forma lógica e eficiente. Vai lavar, passar e dobrar sua própria roupa. Vai entender o trabalho que custa manter tudo isso... — ele fez um gesto amplo com a mão, indicando a casa perfeita. — funcionando. E talvez, apenas talvez, você desenvolva um pingo de respeito por isso.

Eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Não era justo. Era humilhante. Era genius. Ele não ia me punir com violência ou privação. Ele ia me punir com tédio, com repetição, com a esmagadora realidade do trabalho doméstico mais mundano. Ele ia me transformar em… dele. Ordenado, controlado, metódico.

— E se eu me recusar? — desafiei, minha voz mais fraca do que eu gostaria.
Ele sorriu, um levantar curto dos lábios que não alcançou os olhos.

— Então as consequências se tornarão progressivamente mais restritivas. Primeiro, o confisco do seu Celular e de qualquer forma de comunicação. Depois, a proibição de sair do terreno desta casa, incluindo para a escola, arranjarei tutores particulares que serão muito menos indulgentes. E por fim… — ele fez uma pausa dramática, — … uma conversa com nossos pais sobre o seu retorno imediato à Coreia, o de será mandado para um internato para garotos como você.

Ele tinha me encurralado. Com uma precisão cirúrgica, ele tinha identificado cada um dos meus medos e os usou como arma. A perda da liberdade. A decepção final dos meus pais. O fracasso total.

Ele endireitou-se.

— Estamos entendidos?

O prato vazio diante de mim parecia uma lápide da minha rebeldia. Minha boca estava seca. Eu não tinha escolha. Nenhum poder. Nenhum controle.

— Estamos. — sussurrei, olhando para a mesa.
— Não te ouvi.

Levantei a cabeça, forçando-me a encarar aqueles olhos escuros que não mostravam nenhum traço de empatia, apenas a fria satisfação de uma vitória completa.

— Estamos entendidos.

— Bom. — Ele pegou o meu prato vazio e o levou até a pia. — O motorista te espera. Tenha um bom dia na escola. — A frase soou como a mais amarga das zombarias.

A viagem de carro foi um blur. A escola foi uma jaula mais opressiva. As vozes, as risadas, tudo soava distante, abafado pelo peso da minha sentença. Matt tentou falar comigo no almoço, perguntando sobre a festa, mas eu apenas ignorei-o, meu estômago embrulhado. A rebeldia que parecia tão doce horas antes agora tinha o gosto de cinzas.

Às 15h45 em ponto, o SUV preto estava lá. Às 16h02, eu estava de volta ao meu quarto. Olhei pela janela para o oceano, que agora parecia um vasto campo de prisão azul. Às 17h em ponto, desci as escadas. Jungkook já estava na cozinha. Ao seu lado, encostado na parede, estava um aspirador de pó industrial, prateado e imponente.

Ele não sorriu. Apenas indicou o aparelho com a cabeça.

— A lição de hoje: aspirar um piso de madeira dura corretamente. Sem deixar marcas, sem perder cantos. Comece pela sala de estar. Eu supervisionarei.

Ele puxou um banco da ilha da cozinha e sentou-se, cruzando os braços. Ele não ia ajudar. Ele ia assistir. Ele ia me observar falhar, me corrigir, me microgerenciar até que cada movimento fosse perfeito. Até que sua ordem fosse imposta em mim, camada por camada.

Peguei o aspirador de pó, minhas mãos se apertando around do cabo frio. Era mais pesado do que parecia.
A guerra fria não tinha acabado. Ela tinha apenas entrado em uma nova e horrível fase. E eu, de armas e bagunça, estava completamente desarmado. A única coisa que me restava era a raiva, um caroço quente e impotente no meu peito, enquanto ligava o aspirador de pó e começava a minha punição.

Você vai pagar por isso Jungkook.

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⏰ Last updated: Dec 06 ⏰

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Love Language (Jikook) [Repostando]Where stories live. Discover now