Companhia do Além

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Poderia alguém que já partiu desse mundo permanecer vagando como se estivesse procurando companhia, talvez devido à uma solidão "eterna"?

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O que aconteceu comigo foi estranho, e até hoje tudo me pareceu uma brincadeira de mau gosto...
Mesmo assim, eu preciso compartilhar...

Eu tinha uns 15 anos quando isso aconteceu.
Eu estava num ônibus que cruzava quase toda a minha cidade (eu tinha esse hábito de andar de ônibus o dia inteiro quando não tinha o que fazer, e sempre achei que ônibus e bancos são ótimos laboratórios de pessoas), então uma menina sentou do meu lado.
Ela era bem comum, cabelo castanho amarrado num rabo de cavalo, jeans e camiseta.

Mas ela tinha expressão esquisita.
Era uma mistura de vergonha com vontade de rir, sei lá.
Bom, acontece que ela começou a puxar assunto, e nós começamos a conversar.
Falamos de vários assuntos, ela era uma pessoa que sabia conversar, entende?
As opiniões dela tinham fundamento, você podia notar que ela tinha personalidade própria, até aquela expressão esquisita mudou, ela adquiriu um novo brilho e até a sua voz ganhou mais força.

Eu sei que depois de mais ou menos 2 horas de viagem ela disse que tinha que descer, daí nós trocamos números de telefone e ela desceu.
Ela não parou em nenhuma encruzilhada ou cemitério nem nada do gênero, ela simplesmente entrou numa rua e quando o ônibus deu a partida, ela acenou da rua onde ela estava e seu rosto tinha a mesma expressão esquisita.
Aí eu terminei meu "passeio" e fui pra casa.

No sábado seguinte resolvi sair e liguei pra Renata (Renata era o nome dela), aí veio a coisa desagradável.
Bem, vou narrar como foi minha ligação:

- Alô!

- Oi, boa tarde! Meu nome é Thais, eu gostaria de falar com a Renata.

- Pára de ligar!

Aí a pessoa que atendeu desligou na minha cara. Eu achei que foi engano e liguei de novo!

- O quê? (a mulher já estava em prantos)

- Desculpe, mas é da casa da Renata?

- Era sim...

- Era?

- Quem te deu esse número? (raiva)

- Ahn... Eu conheci uma garota, e ela me deu esse telefone e pediu que eu ligasse, mas se ela não estiver eu ligo outro hora.

- Ah! Então ela fez de novo (a tristeza já parecia sarcasmo).

- Acho melhor eu ligar outra hora, né?

Daí, ela perguntou de onde eu era e eu disse o bairro.
Aí ela me contou que a Renata não tinha como ter se encontrado comigo porque a Renata estava morta há 1 ano e 3 meses.
Quando ela me falou eu achei que ela era louca e resolvi desligar, até que ela começou a descrever a Renata.
Desde a forma física até a roupa, e por incrível que pareça, era idêntica à garota que eu conheci no ônibus.

Daí ela disse que um dia a Renata (filha dela) saiu e foi atropelada por um ônibus.
Desde então ela já recebeu ligações de várias pessoas de lugares diferentes do Estado de São Paulo, afirmando ter encontrado com a Renata e conversado com ela.
Na hora que ela me contou isso, eu achei que era mentira sabe?!
Mas aí ela repetiu várias coisas que a Renata tinha me contado.
Achei meio bizarro.

O mais esquisito é que a mãe da Renata, afirmou já ter trocado o número do telefone duas vezes, mas as pessoas continuam ligando.
Antes de eu desligar, a mãe dela me perguntou se a Renata estava feliz, aí eu lembrei dela conversando comigo, e o sorriso dela antes de dar tchau, e eu disse que sim.

Nunca mais liguei para a casa dela.
Fiquei me perguntando se foi uma brincadeira de mau gosto, mas acho que eu nunca vou saber, só se encontrar com a Renata de novo, coisa que eu não gostaria.

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