Capítulo 17: Visito o calabouço lá de baixo

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      O lugar era frio; a temperatura daquele salão era tão baixa que fazia com que Halley tremesse e batesse seus dentes inferiores com os superiores continuamente, além de sentir que suas juntas poderiam estar congelando. Aquele lugar era exatamente o oposto do salão de Lilith, que a propósito era muito quente; o calabouço do inferno era tão frio que chegava a queimar a pele da pobre alma que ousasse ser jogada lá.

— Que lugar é esse? — Perguntou ela sussurrando para si mesma.

— Esse lugar é o calabouço — respondeu uma voz masculina ao seu lado — o lar dos nefilins, das mulheres que geraram os nefilins e dos anjos sentinelas que, após serem descobertos como pais dos nefilins, não juraram lealdade ao inferno e, por isso foram precipitados aqui.

Ao olhar para o seu lado, Halley assustou-se ao ver que quem falava com ela era, na verdade, um pobre anjo acorrentado. Aparentemente, ele havia sido torturado milhares de vezes e suas asas depenadas uma por uma por pura maldade, além de ter diversos cortes profundos sobre sua pele e furos do que parecia ter sido um tridente por todo o corpo. O pobre anjo não levantava mais sua cabeça, talvez por vergonha, talvez por medo, mas, após responder Halley, voltou a chorar lágrimas douradas; eram lágrimas de icor. Uma mulher, então, ergueu os olhos para cima e gritou:

— Deus, por favor, ouça-me! — Sua voz rouca indicava uma garganta seca que jamais ingeriu água enquanto estivera ali no inferno —  Perdoa-me e tira-me daqui.

Mas nada acontecia; Deus não a escutaria, não de onde ela estava. Todos ali estavam presos às mesmas correntes douradas de Halley e presos aos seus próprios arrependimentos e aquela era a maior tortura do inferno; o maior sofrimento do inferno não era o fogo, mas sim o remorso. Então, repentinamente, um som como o barulho de um enxame de abelhas zunindo começou a ecoar do buraco por onde todos haviam caído ao entrar no calabouço e chegava a eles pelo eco causado pelo espaço do calabouço.

— Puriel está vindo! — Gritou o anjo que chorava ao lado de Halley.

E, ao ouvirem o som do que parecia ser um enxame de abelhas, imediatamente todos começaram a entrar em pânico, gritando e clamando aos céus por misericórdia. Halley, porém, não sabia o porquê deles estarem tão desesperados; "Quem será Puriel?" Pensou a nefilim, perguntando a si mesma em sua mente, mas não demorou muito até que uma figura sombria de anjo com duas asas feitas de fogo e um longo tridente de bronze na mão direita aparecesse com um sorriso cínico e maldoso estampado no rosto, descendo do buraco que cobria todo o teto do calabouço. 

— Este é Puriel — sussurrou o anjo ao lado de Halley — ele é um hashmalim, um anjo da punição. Puriel aparece no calabouço três vezes ao dia para nos atormentar. 

      O anjo Puriel, com suas asas de fogo, iluminava um pouco aquela escuridão que cobria todo o calabouço como se fosse uma vela e isso permitia que Halley pudesse ver melhor e com mais clareza as outras pessoas que estavam presas assim como ela. O número de anjos e humanos presos ali era dez vezes maior do que o número que ela imaginava; alguns ainda conseguiam permanecer em pé, como Halley, mas outros estavam em estados tão deploráveis que seus corpos estavam jogados ao chão, como se estivessem desacordados, e mal conseguiam respirar de tão torturados que foram. O anjo da punição caminhava entre os prisioneiros, tocando em cada um deles com seu tridente de bronze, como se cantasse: "Minha mãe mandou eu escolher esse daqui..." e quisesse escolher a sua vítima do dia por meio de um sorteio. Puriel sorria com os olhos, como se se divertisse vendo-os naquele estado e, ao ver aquilo, Halley sabia que precisava fazer alguma coisa, ela tinha que fazer alguma coisa.

— Quem será meu brinquedinho de hoje? — Perguntou Puriel com a voz em um tom grave, mas ainda assim sínico — alguém se oferece ou terei que escolher quem mais me agrada?

A Última Nefilim - Livro I (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now