1. Uma xícara de café

Start from the beginning
                                    

-Vou ficar com você, meu anjo. Não vou mais deixá-la.

Dora retribuiu o abraço:

-Eu senti muito a sua falta!

Após um longo abraço, Dora o convidou para um café. Miguel sorriu de lado charmosamente, daquele jeito que costumava sorrir quando ainda era feliz, e aceitou o convite. Miguel sabia que sua volta dizia tudo. Mais nada precisava ser dito. Ainda assim, após o primeiro gole de café, Miguel quis se explicar:

-Dora, eu pensei muito nesse tempo em que me afastei. Eu voltei porque eu te amo. Tenho certeza que há alguém por trás disso tudo. Não consigo acreditar que possa ser uma assombração. Você me conhece, isso para mim é impossível. Eu realmente não acredito nisso. E... Dora o interrompeu acariciando seu rosto.

-Guel, eu também pensei muito e não fui totalmente sincera com você. Eu quero lhe contar tudo.

Miguel que estava pronto para continuar seu discurso, subitamente parou para ouvir o que Dora lhe escondera. Miguel tinha o rosto sério, aguardava que, enfim, fosse revelado o motivo de todas aquelas feridas que ele socorrera.

-Guel, há mais. Além disso tudo -disse Dora apontando para suas feridas -, eu estou sendo ameaçada de morte.

-Eu sabia que tinha alguém por trás disso! - disse Miguel quase triunfante.

-Não. Eu não estou sendo ameaçada dessa forma. Eu não queria contar para você antes porque eu tinha medo que você me achasse louca. Ainda tenho medo, mas agora você voltou. Bem, o que realmente interessa é que eu quero compartilhar tudo com você. E eu também preciso desabafar. Eu não estou louca, Guel. Você tem que acreditar em mim.

-Eu mesmo tratei das suas lesões. Eu sei que você não está louca. Agora, me conte tudo.

-Eu realmente não sei quem está me ameaçando, mas há muito mais acontecendo, coisas realmente apavorantes -Dora olhava para Miguel assustada.

-Você podia ter confiado em mim... Eu teria ficado do seu lado para te apoiar. Você sabe disso.

-Eu queria, mas é tão louco tudo isso que eu não tinha coragem de dizer em voz alta. É como se tornasse tudo verdadeiro e eu quero acreditar que é um pesadelo, sabe?

-Dora, me conte tudo.

Miguel olhava para Dora desolado. É como se o que tivesse escutado fosse pior do que qualquer outra coisa. Miguel sempre se orgulhou de seu ceticismo. Ele não acreditava em assombrações, demônios, espíritos ou o que quer que seja. Nunca imaginou que um dia o amor de sua vida estaria convicta da existência dessas entidades e que lhe pediria para acreditar que estava sendo perseguida por uma. Ele tinha desconfiado disso só pelo início do discurso de Dora.

-Tudo? -quis saber Dora.

-Tudo! Não esconda mais nada, meu anjo.

-Bom, acho que tenho mesmo que compartilhar tudo com você. Você se lembra daquele primeiro machucado horroroso que apareceu nas minhas costas?

-Lembro, era enorme. Você disse que não sabia o que tinha acontecido.

-Pois é, eu não sei mesmo como aconteceu. Mas eu não te contei que na manhã que acordei com ele. Estava escrito no espelho do meu banheiro na cor de um vermelho sanguíneo: obedeça ou morrerá.

Miguel suspirou fundo. Sua desconfiança tinha se confirmado: o anjo de sua vida era uma daquelas pessoas que abandonou a razão e passou a acreditar em coisas que não tinham sentido ou prova de existência, mas tudo que conseguiu dizer foi:

-Você tinha que ter me contado, Dora.

-Lembra aquele corte fundo no meu tornozelo?

-Claro! Fui eu que dei os pontos!

Café ForteWhere stories live. Discover now