21. Eu vi

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Lara deixou o carro com o manobrista e saiu correndo em disparada. Em poucos instantes estava ao lado do elevador apertando o botão repetidamente. Foi, então, que viu Miguel no café do hospital e gritou:

-Guel!!!

Miguel abriu um largo sorriso tanto de alegria por ver sua amiga, como pela cena engraçada que ela armava sem se importar nem um pouco com isso.

Lara saiu correndo em direção a Miguel. Um ex-colega, Edmundo Saivola, interrompeu sua concentração ao chamá-la entusiasmado:

-Lara? É você?

Ainda correndo Lara olhou para ver quem a chamava. Edmundo? Não acredito. Não vou cumprimentá-lo. Não agora. Droga de Edmundo! Ele que pense que eu não o reconheci.

Lara alcançou Miguel e disse já sem nenhum fôlego, pois não era nem um pouco chegada a esportes e aquilo para ela tinha sido uma maratona:

-Guel, precisamos conversar é urgente.

Lara viu o chato do Edmundo indo em sua direção.

-Vamos rápido, Guel, antes que ele nos alcance.

Miguel sempre achou graça de Lara com Edmundo. Ele foi, desde o primeiro ano da faculdade, apaixonado por Lara. Vivia trazendo pequenos mimos a Lara que sabia que ela apreciava, como chocolates dos mais variados tipos, tortas, balas entre outros doces. Lara fingia que aquilo não era nada demais. Dizia sem nem olhar direito nos olhos do pobre coitado frases nada estimulantes como "Obrigada Edmundo. Estava com fome mesmo" ou "O que você quer? Me transformar em uma baleia?". Pior ainda é quando Lara via que Edmundo segurava um chocolate embrulhado para presente na mão e ela sabia, como de praxe, que ela era a destinatária e dizia: "Me dá logo esse chocolate, Edmundo. Estou morrendo de fome" ou "Você vai me dar esse doce ou não?". O coitado do Edmundo estendia as mãos e lhe entregava o embrulho sem jeito. Lara batia em suas costas com entusiasmo: "Valeu, Edmundo!".

Ainda que estivesse claro para a faculdade inteira que Lara não dava a mínima para Edmundo, ele não desistia, foi assim até o final. Ele nunca teve a coragem de se declarar para Lara, também nunca precisou. Lara tinha pena de Edmundo, mas tinha a consciência tranquila de que nunca deu margens ou esperança para Edmundo achar que tivesse chance de qualquer coisa a mais da amizade.

Miguel gostava de brincar com Lara, por isso a provocava: "Lara, o Edmundo quer te dar um presente? Que lindo embrulho! Olhe para cá, Lara! Veja que mimo". Edmundo sorria para Miguel orgulhoso de seu presente. Também às vezes dizia à Lara quando ela propunha ao Miguel formarem uma dupla para algum trabalho: "Outra vez nós fazemos o trabalho juntos, Lara. Acho que Edmundo quer fazer dupla com você". Edmundo sorria agradecido a Miguel e Lara só faltava pular em seu pescoço de tão irritada que ficava. Miguel simplesmente abria um sorriso e a braveza de Lara desaparecia, mas ela não deixava de sussurrar para Miguel: "Vai ter troco, Guel!". Miguel, então, gargalhava. Foi lembrando desses tempos que Miguel disse para Lara:

-Vamos dar uma chance ao pobre coitado!

Lara imediatamente murmurou:

-Vai ter troco, Guel!

Edmundo, então, se aproximou dos dois, eufórico:

-Quanto tempo que eu não vejo vocês. Vocês trabalham aqui?

Miguel respondeu animado:

-Quanto tempo, Edmundo! Eu trabalho aqui na parte de ortopedia. Lara? -respondeu Miguel, sorrindo para Edmundo e cutucando a Lara.

-Quanto tempo! Eu só vim fazer uma visita ao Miguel.

-Você está muito bem- disse Edmundo para Lara corando.

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