23. Cartas na mesa

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Clarice e Geraldo estavam saboreando uma limonada em uma das mesas do Casa Grande Hotel no Guarujá. Quem não os conhecesse, imaginaria que formavam um casal. Clarice estava como sempre elegante, um lindo vestido branco com flores azuis, que modulava perfeitamente seu corpo magro, quem não visse seu rosto, imaginaria que não tinha sequer trinta anos. Geraldo Roberto estava irreconhecível. Ele parecia um autêntico playboy, vestia o Ralph Lauren da cabeça aos pés e os óculos escuros, modelo aviador, davam o toque final.

Clarice abriu um sorriso discreto para Geraldo Roberto.

-Meu querido Pedrinho, você está perfeito.

-Obrigado, madame Clarice -disse em voz baixa.

-Pedrinho me chama de Cáli, fique à vontade para me chamar assim, Geraldo -sussurou.

-Está bem, Cáli. Que horas são? Nossos amigos estão atrasados?

-Ainda não. Faltam cinco minutos para as duas.

Geraldo Roberto suspirou e voltou a sentar-se.

-Acho que vou me degustar mais uma refrescante limonada. Você me acompanha, Cáli?

-Sim, Pedrinho.

-Uma casquinha de siri?

-Não, obrigada.

Mais duas limonadas chegaram acompanhadas de uma casquinha de siri. Clarice gostaria de falar abertamente com Geraldo Roberto, mas ele tinha recomendado que encenassem o tempo todo. Há testemunhas ocultas o tempo todo, madame Clarice, foi a recomendação que dera.

-Finalmente! -exclamou Clarice. -São eles!

Pela varanda caminhavam Miguel e Lara. Miguel assim como Geraldo Roberto vestia uma bermuda elegante com um cinto, uma camiseta pólo e um óculos aviador. Geraldo Roberto olhou para Miguel e sorriu para si mesmo satisfeito. Acertei em cheio no figurino. Não conseguiu conter uma pequena risadinha de satisfação. A moda tinha muitas vantagens. Era quase que um código para identificar a pessoa. Muitas vezes só olhando a roupa era possível descobrir a classe social, personalidade e até a ideologia.

Lara vestia uma calça jeans antiga, uma camiseta branca folgada e uma sapatilha despojada. Lara carregava uma bolsa grande marrom e não usava nenhum acessório, a não ser uma corrente dourada com um pequeno coração, que tinha sido dada de presente por seu avô. Lara vestia-se propositalmente de um jeito mais desleixado. Ela não gostava que pensassem que se importava com a aparência. Isso geralmente tinha um efeito muito positivo em seus pacientes. E a verdade é que Lara não se importava mesmo. Bom, não muito.

Os quatro se cumprimentaram, enquanto Clarice fazia as apresentações ao seu primo, Pedrinho.

-Espero que entendam que depois de ter perdido meus filhos, sinto-me muito só, Pedrinho foi muito gentil em se oferecer para me acompanhar nessa viagem.

-Claro. Vocês estão hospedados aqui? -quis saber Miguel.

-Não, estamos no Fasano.

-Quiseram passar o dia na praia? -aventou Lara.

-Não-foi o que respondeu Clarice sem maiores explicações.

Geraldo Roberto gentilmente puxou a cadeira para que Lara sentasse com um largo sorriso no rosto. Lara, que nem sequer tinha sido submetida ao bote filhote de Geraldo Roberto, derreteu-se.

-Permita-me fazer uma pergunta de natureza prática, Lara.

-Claro -respondeu àquele baixinho simpático e educado.

-O que quer beber?

-Uma coca-cola bem gelada.

-Ótima escolha para um dia quente. Aceita comer alguma coisa? -perguntou solicitamente.

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