Estou respondendo Jeff pelo celular, sozinha na sala de literatura, esperando que alguém vá aparecer. Vince tem ensaio hoje e me disse que não viria e digo que aproveite e depois me mande fotos. Acabamos criando um laço que nos fizera ser amigos e partilhar coisas e parece que nos conhecemos há tempos. Talvez seja essa a magia de ser jovem: fazer amizades quase sempre é um negócio fácil e leve. É preciso se deixar levar.
Confesso que não me importo tanto com a ausência de pessoas ali: há uma satisfação em ter um compromisso com as letras algumas horas por semana, um momento só para elas, mesmo que não haja com quem compartilhá-las; eu as crio e as faço reais, lhes dando vida com um pouco de imaginação e esperança.
Abro meu livro sobre Virginia Woolf, uma pequena biografia sobre sua vida e seus amores, curiosa por suas aventuras. O silêncio ali é confortante e me pego absorta por detalhes que nunca imaginei, ainda que saiba seu fim trágico. Ponho-me a ler e me perco por algum tempo indefinido até que ouço alguém já próximo demais.
– Você parece bem concentrada. – Tenho um leve sobressalto ao notar Jullie à minha frente. – Desculpe, não queria atrapalhar.
– Não; é que eu estava lendo – mexo o livro para que veja o que estou fazendo. – Sem problemas.
Então ficamos em silêncio, até que ela se senta próxima de mim. – Cheguei tarde para a aula?
– Não, eu só estava esperando vocês. No caso, quem precisasse de mim. – Estou um pouco sem graça, em partes porque flertamos, em parte porque gostaria que fosse Talia.
– Que bom. Aberdeen passou alguns deveres para o trabalho de fim de semestre. Queria saber se você poderia me ajudar com alguns conceitos e obras.
Assinto como se nunca tivéssemos nos visto antes, mas afinal de contas, gosto de saber que ela está me olhando como quem quer algo mais.
– Claro, por onde quer começar? Aliás, me deixe ver o que estão estudando com ela.
Vou até a mesa que ela escolheu e me aproximo. Sinto uma leve tensão entre nossos corpos e começo a leitura do que ela precisará fazer, me atentando a definições chaves e autores que podem complementar a pesquisa. Ela não faz qualquer comentário até que eu tenha terminado, esperando que eu me pronuncie.
– Vai ser fácil. Tem uns livros muito bons aqui na biblioteca, mas tenho algumas ideias legais do que pode fazer.
Então sento ao seu lado e começo a falar sobre o período histórico, alguns eventos importantes, autores que foram relevantes para o processo de fixação do Simbolismo e que países realmente foram parte disso. Ela me escuta com atenção e se mantém quieta até que lhe pergunto se está tudo bem até ali.
– Você é muito boa nisso; agora entendo porque a Aberdeen te colocou aqui.
Minha risada é curta, mas me deixa mais leve.
– Um pouco de prática e muita leitura. Não é tão difícil. Eu só sou a pessoa que ela percebeu que tem aptidão para as letras.
– E ainda é humilde. – Ela se recosta na cadeira e arqueia uma das sobrancelhas e confesso que me sinto quente por dentro. Torço para não ter corado.
Vou até minhas coisas e pego alguns nomes que tenho disponíveis e me viro para entregar a ela.
– Tenho algumas referências que vão te ajud... – e ela está bem na minha frente, nossos corpos muito próximos reverberando uma tensão que até então desconhecia da vida real. Ela não se afasta ou faz qualquer menção para isso e eu fico paralisada sem saber o que fazer. Ficamos ali por alguns segundos, tenho certeza, mas não falamos nada. E o que se faz em uma situação dessas? Eu não sabia. Eu havia lido livros a vida inteira, mas ali, no momento de ter alguma reação, não fui capaz de dizer nada. A minha respiração estava intensa e pesada e eu a encarava, pensando que horas haviam se passado.
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TALIA
Romance"Talia surgiu um dia pelos corredores de uma cidade qualquer sem nome. Quando Harper se depara com sua presença, algo muda dentro de si. Para além da paixão em rompante e dos olhares intrínsecos da garota, Harper redescobre também os horizontes dos...