CAPÍTULO XI

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Estou respondendo Jeff pelo celular, sozinha na sala de literatura, esperando que alguém vá aparecer. Vince tem ensaio hoje e me disse que não viria e digo que aproveite e depois me mande fotos. Acabamos criando um laço que nos fizera ser amigos e partilhar coisas e parece que nos conhecemos há tempos. Talvez seja essa a magia de ser jovem: fazer amizades quase sempre é um negócio fácil e leve. É preciso se deixar levar.

Confesso que não me importo tanto com a ausência de pessoas ali: há uma satisfação em ter um compromisso com as letras algumas horas por semana, um momento só para elas, mesmo que não haja com quem compartilhá-las; eu as crio e as faço reais, lhes dando vida com um pouco de imaginação e esperança.

Abro meu livro sobre Virginia Woolf, uma pequena biografia sobre sua vida e seus amores, curiosa por suas aventuras. O silêncio ali é confortante e me pego absorta por detalhes que nunca imaginei, ainda que saiba seu fim trágico. Ponho-me a ler e me perco por algum tempo indefinido até que ouço alguém já próximo demais.

– Você parece bem concentrada. – Tenho um leve sobressalto ao notar Jullie à minha frente. – Desculpe, não queria atrapalhar.

– Não; é que eu estava lendo – mexo o livro para que veja o que estou fazendo. – Sem problemas.

Então ficamos em silêncio, até que ela se senta próxima de mim. – Cheguei tarde para a aula?

– Não, eu só estava esperando vocês. No caso, quem precisasse de mim. – Estou um pouco sem graça, em partes porque flertamos, em parte porque gostaria que fosse Talia.

– Que bom. Aberdeen passou alguns deveres para o trabalho de fim de semestre. Queria saber se você poderia me ajudar com alguns conceitos e obras.

Assinto como se nunca tivéssemos nos visto antes, mas afinal de contas, gosto de saber que ela está me olhando como quem quer algo mais.

– Claro, por onde quer começar? Aliás, me deixe ver o que estão estudando com ela.

Vou até a mesa que ela escolheu e me aproximo. Sinto uma leve tensão entre nossos corpos e começo a leitura do que ela precisará fazer, me atentando a definições chaves e autores que podem complementar a pesquisa. Ela não faz qualquer comentário até que eu tenha terminado, esperando que eu me pronuncie.

– Vai ser fácil. Tem uns livros muito bons aqui na biblioteca, mas tenho algumas ideias legais do que pode fazer.

Então sento ao seu lado e começo a falar sobre o período histórico, alguns eventos importantes, autores que foram relevantes para o processo de fixação do Simbolismo e que países realmente foram parte disso. Ela me escuta com atenção e se mantém quieta até que lhe pergunto se está tudo bem até ali.

– Você é muito boa nisso; agora entendo porque a Aberdeen te colocou aqui.

Minha risada é curta, mas me deixa mais leve.

– Um pouco de prática e muita leitura. Não é tão difícil. Eu só sou a pessoa que ela percebeu que tem aptidão para as letras.

– E ainda é humilde. – Ela se recosta na cadeira e arqueia uma das sobrancelhas e confesso que me sinto quente por dentro. Torço para não ter corado.

Vou até minhas coisas e pego alguns nomes que tenho disponíveis e me viro para entregar a ela.

– Tenho algumas referências que vão te ajud... – e ela está bem na minha frente, nossos corpos muito próximos reverberando uma tensão que até então desconhecia da vida real. Ela não se afasta ou faz qualquer menção para isso e eu fico paralisada sem saber o que fazer. Ficamos ali por alguns segundos, tenho certeza, mas não falamos nada. E o que se faz em uma situação dessas? Eu não sabia. Eu havia lido livros a vida inteira, mas ali, no momento de ter alguma reação, não fui capaz de dizer nada. A minha respiração estava intensa e pesada e eu a encarava, pensando que horas haviam se passado.

TALIAWhere stories live. Discover now