PRÓLOGO

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Se a visse, você entenderia o que estou dizendo.

Ela caminhava com majestade e um toque bravio de rebeldia. Os cabelos eram curtos e raspados e balançavam, repicados sobre, em seu jeito indômito, enquanto os óculos escuros adornavam o rosto tão suave. Seus lábios carregavam um cigarro apagado e ela caminhava como que dona de seu mundo, enquanto o meu desmoronava ao fitá-la. Eu prendera o fôlego e não conseguiria explicar o que se passava em mim, ao passo que ela continuava sua caminhada sem se preocupar com o mundo à sua volta. Ela tem esse tipo de beleza que te faz parar por um minuto eterno e repensar toda a sua vida e todos os seus amores. As botas negras batendo firme contra o chão duro que suportavam seu caminhar, os lábios se movendo em silêncio, quase como se lhe hipnotizassem, o corpo delineado pelas roupas que ninguém ousava usar, mas ela tinha a coragem de vestir. Os suspensórios sobre a camisa, cada qual em seu charme, a pulseira marrom sobre os pulsos cobertos.

Ela é aquela pessoa que faz você olhar uma vez e manter fixos os olhos, porque é difícil demais abandonar sua visão depois que a experimenta uma vez. Eu não sabia o que estava me acontecendo, mas ali, naquele instante, eu perdera a razão, contemplando sua imagem passar diante de mim. A pele pálida repassava em mim e me fazia pensar em sua maciez, na tez que implora um beijo. Seria difícil defini-la em uma palavra, mas eu adoraria tentar, ainda que soubesse que isso não funcionaria. Não para ela. Então eu deixo que ela passe, mas permito que sua imagem continue viva em minha mente. Ela caminha em câmera lenta diante de minhas câmeras e eu sou apenas mais uma transeunte em seu sistema tão aleatoriamente sagaz.

Ela não me percebe, mas como eu reagiria se ela se aproximasse? Será que saberia meu nome? Ou será que não notaria como eu ficaria corada com sua aproximação? Ela passa e seu passo certeiro é tão demasiado rápido que sequer me sinto abandonada por sua presença que permanece mesmo minutos depois de sua partida. Sorrio e sei que o estou fazendo, mesmo parecendo tão tola por aqueles lábios loucos que se movem e se mostram para o mundo com essa satisfação sem nome, mas com cara e um provável endereço.

Ainda assim, ela vai, mas permanece aqui um algo inominável que remexe em meu peito, brinca lá e cá, mas não me abandona. E por alguns minutos, tenho a impressão de que o mundo pulsa todo dentro de mim.

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