Joaninha

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Mesmo olhando pela janela do carro eu não podia acreditar. Ele estava ali, na lateral da Universidade onde o Jay disse que ele estacionava todas as segundas. Ele segurava o cantil que eu dei de presente no aniversário dele e eu não conseguia entender o porquê. Eu não conseguia parar de chorar e mesmo com a mão do Jay subindo e descendo pelas minhas costas, sabia que aquilo não seria suficiente. Havia mais dor no meu peito do que ele jamais poderia imaginar e nesse momento estava transbordando de uma maneira que eu não sabia como controlar.

– Ele é seu pai? – O Jay perguntou e eu neguei com a cabeça.

– Não! – Respondi rápido, mas suavizei a voz ao me lembrar. – Mas por muito tempo eu quis que fosse. – Explico e o Jay me encara em silêncio, erguendo suas sobrancelhas em sinal de confusão. – A quanto tempo você o vê aqui? – Pergunto e o Jay dá de ombros.

– Uns dois anos. – O Jay afirma e me dói saber que ele ficou todo esse tempo perto, mas nunca teve a coragem de falar comigo.

Eu signifiquei tão pouco assim para ele? Durante muito tempo Owen foi meu único refúgio e ele prometeu que nunca me deixaria sozinha. Prometeu que ficaria com a minha mãe para sempre, mas no fim, foi embora como todos os outros. Na época eu a culpei, como costumo culpá-la por tudo. Mas pensei que ele ao menos continuaria me visitando, que iria a minha escola nas apresentações do dia dos pais, como foi nos dois anos que passou na minha vida, mas nem ao menos isso ele fez.

Eu não era sua filha, por mais que sonhasse ser e com o tempo entendi que por eu ser criança, me apeguei muito mais a ele, do que ele a mim, mas então o que ele estava fazendo aqui? Porque estava me vigiando como um espírito obsessor? Onde mais ele ia para me encontrar? Até quando ele continuaria fazendo isso se o Jay não tivesse visto aquela foto? Várias perguntas enchiam minha mente, e eu estava cansada disso. Precisava de respostas e precisava rápido!

Abri a porta do carro do Jay que tinha estacionado a uma quadra de distância dele, propositalmente para que eu pudesse observá-lo e o Jay se assustou com minha atitude, me seguindo enquanto eu caminhava decidida até aquele homem. Meu desejo era nunca mais vê-lo, mas se ele veio atrás de mim, então ele ouviria tudo que eu quis dizer a ele quando era criança e nunca tive a oportunidade. Se eu era uma dinamite como o Jay sempre diz, esse homem estava prestes a descobrir isso da pior forma.

– O que diabos você está fazendo aqui? – Perguntei, indignada, descansando minhas mãos na cintura.

Ele estava de costas para mim, encostado em um carro esportivo vermelho, como nunca o vi antes? Vi os músculos das costas dele contraírem ao ouvir minha voz e quando ele se virou lentamente, seus olhos verdes estavam cheios d’água.

– Joaninha? – Ele chamou e fechei os olhos cerrando os punhos, sentindo um tremor percorrer o meu corpo.

– Joaninha, raposinha, você e minha mãe têm isso em comum. Adoram me dar apelidos carinhosos enquanto me tratam como lixo! – Debocho sentindo meus olhos arderem e ele nega com a cabeça, visivelmente abalado pelas minhas palavras. – O quê você está fazendo aqui? – Grito, exigindo uma resposta e o vejo hesitar, abaixando a cabeça.

– Nunca te tratei como lixo Joaninha, você sempre foi minha garotinha e é por isso que estou aqui. Para te ver, falar com você, mas eu nunca tive coragem, nunca me senti merecedor. – Ele explicou e eu gargalhei.

– Ainda bem que você sabe. Você não merece! Então pode voltar para o inferno de onde você saiu e me deixa em paz! Nunca mais volte aqui ou em qualquer lugar em que eu esteja! – Exijo e ele abaixa a cabeça deixando algumas lágrimas caírem, pingando sobre seu casaco de couro.

– As coisas não aconteceram como você imagina, joaninha. Tem muita coisa que você não sabe, e que eu tenho tentado criar coragem para te contar, mas tive medo que você nunca fosse me perdoar! – Ele explicou e eu dei uma risada debochada.

Brincando com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora