Flagrados

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É incrível como uma pequena frase pode mudar tudo em que você acredita e te tirar completamente do eixo. Existem coisas que jamais deveriam ser reveladas e essa certamente era uma delas. Eu não conseguia me virar para encará-lo ou raciocinar algum xingamento por ele estar mentindo. Ele não era meu pai, não podia ser. Meus olhos vagueiam pelo ambiente sem conseguir focar em nada. Não havia objeto ou rosto no qual eu me fixasse que pudesse devolver meu equilíbrio e por mais que eu odiasse admitir, esse tinha sido um golpe certeiro e fui nocauteada.

– Eu sei que esse pode não ser o melhor momento para contar, mas eu tinha medo de morrer sem que você soubesse. – Owen afirma e suspira.

– Porque? Está com alguma doença terminal ou algo assim? – Retruco rapidamente e me odeio por deixar transparecer a preocupação em meu tom de voz.

– Não, são só medos bobos que todo mundo que passou dos quarenta e tantos tem. – Ele explicou e meus músculos antes tensos pareceram relaxar um pouco.

Eu não queria cutucar esse vespeiro, não queria cavar o meu passado, sabia que não havia nada de bom para mim lá.

– É uma pena, eu fico ótima de preto. – Zombo sentindo uma lágrima rolar pelo meu rosto e a enxugo antes que ele possa ver.

O Jay pressiona minha mão com seus dedos tentando me confortar, mas no momento só quero fugir.

– Sinto muito te decepcionar. – Ele disse e pude ouvir uma pequena risada.

Ele pensava que eu estava brincando, que meu coração estava amolecendo com essa revelação falsa, mas isso nunca aconteceria.

– Bem, você é especialista nisso. – Afirmo e ele fica em silêncio.

– Será que podemos conversar? – Ele insiste e eu nego com a cabeça.

– Não quero ouvir mentiras ou qualquer coisa que venha de você! – O interrompo e tento sair dali, mas sua voz me para.

– Não estou mentindo, eu realmente sou seu pai! Você pode por favor acreditar em mim e me dar uma chance? – Ele perguntou, aumentando o tom de voz e me virei lentamente, como quem carrega bombas atômicas, a diferença é que a bomba sou eu.

– Não! Não posso. – Digo simplesmente ele se aproxima parecendo desesperado ao puxar seus fios negros.

– E porque não? – Ele pergunta e o fato dele não saber, dói ainda mais.

– Porque se eu escolher acreditar nisso, tudo será ainda pior. – Explico e ele me encara, confuso.

– Pior? Porque? – Ele pergunta e suspiro olhando para cima, tentando impedir que as lágrimas rolem pelo meu rosto.

– Porque quando você era só um cara que namorou a minha mãe e se apegou a mim, o que tínhamos ainda era especial, mas se você for meu pai. – Tento dizer, mas minha voz falha devido ao choro e não consigo mais controlar minhas lágrimas quando continuo. – Então você seria só um covarde que não foi homem o suficiente para me contar a verdade. – Concluo e ele abaixa a cabeça.

– As coisas não são simples como você imagina. – Ele tenta explicar e nego com a cabeça.

– Sabe o que não foi simples? Ter que me virar sozinha desde os meus oito anos de idade. Sabe o que não foi simples? Me mudar para uma cidade diferente e ter que me dividir em cinco para poder trabalhar, estudar e trabalhar em diversos empregos pois nunca tive apoio de ninguém enquanto meu suposto pai desfila por aí de carro esportivo e jaqueta da Gucci! – Gritei disfarçando minha frustração com uma risada que não engana ninguém. – Não foram simples os aniversários que passei sozinha assoprando velas e desejando ter uma família. – Continuei e ele me interrompeu.

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