Assombrada

23 4 2
                                    

As ruas da cidade onde nasci, nunca foram acolhedoras. Eu estava vivendo meu pior pesadelo e não sabia como fugir dele. Sempre soube que o momento em que eu teria que voltar para cuidar da minha mãe voltaria, mas não imaginei que fosse assim. Agora eu estava no olho do furacão sentindo meu corpo sendo levado pelo vento e não havia nada em que eu pudesse me segurar. Eu apenas observava de longe meu corpo se chocando contra cada novo obstáculo que surgia, me perguntando o que sobraria de mim quando tudo isso acabasse.

– Você acha que eu realmente posso ser presa? – Pergunto a Viola que dá de ombros e franze os lábios.

– Não tenho a menor ideia, sendo sincera nunca pensei que isso pudesse chegar tão longe. – Ela afirmou e olhou para os papéis sobre a mesa como se procurasse uma brecha, sabia que ela devia estar irritada por não poder fazer nada.

O Jay saiu da sala e após andar por alguns minutos de um lado para o outro no corredor, agora estava do lado de fora do prédio e eu podia vê-lo pela janela. Ele parecia estar falando com o irmão, pois podia vê-lo enxugando algumas lágrimas e isso cortava o meu coração. Por mais que eu tentasse não conseguia imaginar sobre o que eles estavam falando e mesmo vivendo meu terror pessoal, queria saber como ele está se sentindo. Ele não falava com o irmão desde que ele foi expulso de casa e sabia que o Jay estava quebrando mais uma regra do seu pai. Olho para a porta e suspiro, será que ele realmente viria depois do Jay ter virado as costas para ele?

– Como ela está? – Pergunto, finalmente, mas não encaro Viola.

– Está bem, na medida do possível. Parece estar reagindo bem à troca dos remédios. – Ela explica e suspiro, sentindo meu corpo relaxar.

– Desculpa se não lidei bem quando você disse que precisávamos fazer essa troca. Não é fácil cuidar de tudo sozinha e conseguir dinheiro para todas essas mudanças sendo uma estudante em Nova York não é uma tarefa fácil. – Justifico minha atitude e ela concorda com a cabeça, fazendo um pequeno bico.

– Você está sendo egoísta ao dizer que está sozinha Rachel. – Ela afirma e aponta para a porta por onde o Jay saiu.

– É mais complicado do que parece. – Explico e seus olhos castanhos me analisam.

– Não foi o que pareceu. Na verdade parece que ele está tentando de tudo para facilitar as coisas para você! Ele é complicado, ou você está complicando as coisas porque acha que não merece ser feliz? – Ela retruca e abaixo a cabeça, pensativa, mas suspiro afastando esse pensamento.

– Não estou com cabeça para pensar sobre isso agora. - Afirmo e ela suspira, parecendo desistir do assunto, mas me atinge com um tópico ainda mais sensível.

– Você quer vê-la? – Viola pergunta e estremeço.

– Eu não sei se consigo. – Confesso, sentindo o peso daquelas palavras pairando no ar.
– Você sabe que nada disso é culpa sua, não é? – A mais velha pergunta e tento concordar, mas o choro sobe pela minha garganta como um vulcão em erupção e desabo.

– Então porque eu não consigo esquecer o que ela me disse quando a deixei aqui? – Pergunto, com a visão embaçada pelas lágrimas que se acumulam em meus olhos.

– Ninguém aceita que precisa de ajuda Rachel, se você tivesse a deixado viver como queria, ela certamente não estaria mais aqui. – A mais velha afirma e concordo com a cabeça, mas mal consigo respirar.

– Ela disse que eu acabei com a vida dela, me culpou e disse que sou egoísta. Não sei se consigo ouvir tudo isso novamente e seguir em frente como se não tivesse a abandonado. – Explico, brincando com meus dedos e ela suspira.

– Que outra escolha você tinha? Você fez o que era necessário para seguir em frente. E tem uma coisa que as pessoas não te dizem sobre seguir em frente, muitas pessoas vão ficar para trás e mesmo que ela seja sua mãe, nós duas sabemos que é só no sangue e no papel. – Ela argumenta, justificando minha decisão, mas eu não conseguia convencer a mim mesma de que isso era o melhor.

Brincando com FogoWhere stories live. Discover now