19. WHERE IS GOD?

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Passado.

— Não! Você não vai mais me usar para aquele culto doentio, já chega! Eu te odeio, odeio o teu Deus e odeio a tua igreja!

O adolescente Tomlinson de quatorze anos lança no chão uma taça de vinho e sangue, olhando no rosto do pai com fúria e desprezo.

Apenas os dois estão presentes num compartimento atrás da igreja, onde Norton levava Louis uma vez por semana para orarem e se purificarem sozinhos, entre pai e filho.
Bebiam vinho com sangue e oravam ajoelhados sobre cacos de vidro (algo que, posteriormente, Harry não compreendia; ele sempre perguntava ao namorado de onde eram aqueles machucados, mas Louis só respondia como sendo acidentes cotidianos).

O garoto lançou a máscara branca no chão e arrancou o terno cor-de-rosa claro do corpo com rispidez, lançando no chão onde havia quebrado a taça de vinho.

— Está indo contra o propósito de Deus, está violando o propósito sagrado além da nossa relação entre pai e filho! — Norton segura no braço dele com força, balançando-o ao aumentar o tom de voz.

— Me solta! Você é completamente louco.. Deus? Onde está Deus quando eu preciso ser salvo de.. de você?! — Louis puxa seu braço de volta, empurrando o pai pelo peito.
Em todos os anos em que foi introduzido e induzido naquela Seita contra a própria vontade, vivenciando acontecimentos traumáticos e pesados que perturbavam-no e tiravam dele o sono, Louis nunca tinha ido contra seu pai com ira e contradição. Mas ele estava chegando ao limite, ele havia chegado ao limite. Ultrapassado todos eles.

Ele chegou ao limite quando acidentalmente viu alguém sendo sacrificado na cruz.
Louis nunca participara dos sacrifícios anuais, Norton nunca permitiu; somente quando ele completasse dezoito anos.

— Eu nunca mais vou voltar aqui, isso acabou, já deu. Fodam-se você e os seus seguidores delinquentes, eu espero que queimem no inferno!

— Louis! Não repita isso outra vez! — O Pastor levanta a voz, dando um violento passo na direção do filho.

— Escuta aqui, eu sei o que acontece aqui de ano em ano, eu sei que algum desses doentes se oferecem para morrer e que vocês fazem sacrifícios... Se você for atrás de mim de novo, se me colocar ajoelhado sobre vidros e caroços outra vez ou se me fizer comer páginas da bíblia com sangue mais uma vez, se você ousar tentar me arrastar pra cá... — Ele não recuou, apesar do medo; deu um passo também para frente, encarando o pai frente a frente. Olho no olho. — ... O Policial Rory Styles vai estacionar a viatura na porta dessa tua igreja fodida do caralho e algemar um por um, você e os seus fiéis. E não ouse encostar em mim, tentar me machucar, eu conheço alguém que cortaria a tua garganta e todos os seus pedaços sem hesitar caso me encostasse um dedo, "pai".

Ele então vira o rosto para cuspir na direção do blazer jogado no chão e passa as costas da mão sobre os lábios, dando as costas para sair dali o mais rápido possível.
Norton perde as palavras, engolindo o que quer que fosse que estivesse tentando dizer.

— ... Um dia você vai voltar, filho. Um dia você vai voltar para cumprir o seu propósito divino comigo. Eu tenho fé.

— A fé é falsa e Deus também. — Bate a porta, não esperando para escutar qualquer frase ou reação.

Louis saiu com mais desprezo e raiva do que nunca teve antes. Quebrado, mentalmente destroçado. E nutrir tais sentimentos pelo próprio pai o fazia sentir-se confuso e imparcial consigo mesmo.

-

2024.

No Culto, quando Louis de repente entra pela porta do salão de reunião com seu pai ao lado - o qual está com uma das mãos nas costas dele, guiando-o -, todos os mascarados reunidos parecem deslumbrados por trás das máscaras. Nenhum deles pode ser reconhecido até então.
É somente quando eles começam a falar e caírem de joelhos no chão, que Louis se assusta; mas se mantém firme.

Behind the Red Lake | l.sWhere stories live. Discover now