6. LA NOSTRA NAPOLI

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Inverno de 2010.

Dedos, mãos, braços ensanguentados. Ele não teve tempo de se cobrir com uma capa ou um avental, nem mesmo luvas. Não havia como correr para buscar.
Todo o seu torso e pescoço estavam cobertos, haviam poucos vestígios de pele branca, mas nada estava livre de sangue. Seu rosto estava quase inteiramente coberto, e um ferimento semi seco no lado esquerdo da cabeça - na testa -, dava a ele uma aparência ainda mais macabra.

Desceu do barco onde estava sentado quando este parou ao chegar perto do solo. Ele caminhava ereto, travado, havia pavor em seus olhos e ele só não se permitiu perder-se pela confusão porque precisava estar são para continuar e escapar.

Os pés descalços sangravam, cacos de vidro estavam fincados em seus dedos e sola, mas ele sequer sentia nada mais. As mãos trêmulas buscaram pelo celular no bolso de trás da calça suja, havia sangue preenchendo embaixo das unhas, havia sangue preenchendo tudo; ele discou algo e pôs sob o ouvido, encarando o lago sem piscar por um segundo sequer.

- Pai...? Se lembra quando... Quando me disse que às vezes um Policial precisa se proteger... - Ele respira fundo, engolindo um nó preso na garganta. - E agir por conta própria porque nem todas as injustiças são levadas a sério para serem resolvidas? Se lembra quando.. Quando me disse que eu deveria cuidar de quem amo como um Detetive?

Um silêncio pairou por um momento. Rory, do outro lado da linha, fechou os olhos com força e suspirou, contando mentalmente até três.

Rory sabia que ninguém além dele mesmo era responsável pela criação do Lobo que, assim como ele um dia fez, devorou como uma besta os ursos que ameaçaram a segurança de sua alcatéia.

- ... Vou te colocar num voo para Nápoles amanhã bem cedo. Se livre de tudo, como te ensinei, e depois venha para casa. Limpe-se, Harry.

-

2024.

- Pegamos esse aí, sobre o esquema de transporte ilegal de drogas através dos barcos que saem com os pescados para a cidade. Estava com uma bolsa de dinheiro, e três quilos de cocaína. O parceiro dele ainda está foragido e ele não quer falar onde o cara está.

Na sala de interrogatório na delegacia, Carter explica ao Oficial Styles a situação. Há um homem magro de cabelos loiros espetados e barba mal feita sentado algemado na cadeira de frente para a mesa. Ele encara os oficiais com olhar de fúria e desprezo.

- Fala. Vai abrindo a boca. Sua pena pode ser menor que a do teu parceiro se você colaborar. - Styles pontua, direto, de braços cruzados enquanto observa o sujeito.

- Eu quero liberação em troca da informação... Senão, sem chance.

Harry suspira pesadamente e olha para Carter, sinalizando com a cabeça para que ele saísse da sala. Quando o policial sai, o Detetive saca o cassetete.

O que veio depois não foi muito agradável aos ouvidos de Carter e Newt do lado de fora. Há anos é que nenhum Oficial Chefe agia de forma tão brusca.
Ele era frio, intimidador. Impiedoso, de fato. Possuía um forte senso de justiça e não importava quais medidas precisava tomar. Ele apenas tomava.

Quando Harry sai da sala, os outros dois desviam a atenção para ele. Newt não parece engolir muito bem a personalidade forte de seu superior.

- Precisava disso? Olha, Chefe, desculpe, mas eu não concordo..

- Nas pedreiras atrás do Farol do segundo porto, vão até lá com reforços. Esse aí pode ir para o hospital e depois direto para atrás das grades.

[...]

Behind the Red Lake | l.sWhere stories live. Discover now