Capítulo 31

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"Nunca nada será como antes, mas, podemos tentar e deixar que tudo seja melhor..."

- Vocês estão aqui a- A mulher loira, de cabelos encaracolados, encarou o relógio sobre o pulso- A quinze minutos, e vocês ainda não disseram nada.

Suspirei, olhei o ambiente em volta, era simples e sofisticado, paredes em tom pastel, um sofá marrom, uma poltrona em frente ao mesmo, as flores vermelhas coloriram o ambiente.

- Quem deseja começar?- Murmurou- Que tal começarmos com você- Ela me olhou- Me conte como se conheceram?

- Ahãm- Acariciei meu ventre, que já continha um leve volume- Ele era amigo da minha irmã- Observei Alejandro que desviou o olhar, constrangido- Eu ainda estava terminando o ensino médio.

- Foi amor a primeira vista?- Perguntou com um sorriso discreto.

- Talvez- Fechei meus olhos relembrando a cena- Alejandro era encantador, acredita que ele me levou em um concerto de bailarinas?- Gargalhei- Ele estava tão nervoso, que quase pisou nos pés de uma delas.

- Com quantos anos de namoram vocês se casaram?

- Depois da faculdade, eu tinha acabado de me formar- Suspirei melancólica.

- Estava no auge da juventude, acredito que o trabalho tenha atrapalhado vocês?

- Eu mal exerci a profissão- Levantei- Eu perdi os melhor anos da minha vida.

- Perdeu?- Arqueou a sobrancelha.

- Eu tinha tantos sonhos- Observei o quadro que continha a imagem de pássaros refletida- Mas o fogão passou a ser o meu piloto de corrida, a televisão passou a ser a minha companhia- Desabafei.

- E Alejandro?

- Ele não ficava em casa, achava tedioso a minha companhia.

- O primeiro ano sempre é pior- Gesticulou- Até ambos se acostumarem a rotina um do outro.

- Foram três anos- Meu olhos arderam lagrimejados- Três anos sofrendo com a solidão, o desprezo.

- A pior briga que tiveram?- Disse.

- Nossa lua de mel- Relembrei- Eu estava tão nervosa, era minha primeira vez. Demorei horas escolhendo a camisola perfeita, arrumando os lençóis com dobraduras lisas e ajeitas.

- Não foi como imaginou?

- Ele apareceu bêbado, e...- Me calei, deixando um soluço escapar- Foi a primeira vez, eu me lembro de acordar no dia seguinte, meu corpo doía, eu desejei que tudo não passasse de um pesadelo... Um maldito pesadelo.

- Sempre foi agressivo?- Ela questionou.

E foi naquele momento que eu lembrei, lembrei que Alejandro também estava escutando todas as coisas ao qual eu estava dizendo.

- Eu- Ele estava com a cabeça baixa- Eu estava bêbado, na maioria das vezes eu bebia.

- Tem problemas com álcool?- Perguntou.

- Não, eu bem... Eu não sei- Balançou a cabeça- Nunca quis machuca-la, eu a amo.

- Como todo esse ciclo se iniciou?

- Quando eu vi as fotos, eu pensei que havia perdido a única pessoa ao qual eu amava. Eu me arrependo, eu me arrependo a cada segundo ao qual eu respiro. Eu tentei procurar ajuda, eu tentei me afastar, mas...- Ele se calou- Droga- Ele levantou exaltado- Eu não consigo fazer isso.

- Senhor Alejandro- A terapeuta levantou o acalmando- Não estou aqui para julga-lo, estou aqui para ajudar ambos.

- Acha que eu estou feliz com tudo isso?- Ele se virou de frente a mim- Como acha que eu vou olhar para nosso filho, e dizer a ele que eu fiz a mãe dele sofrer? Eu tenho medo e sou cauteloso com tudo que falo a você, eu tenho receio de toca-la, eu me sinto mal em estar afastado de você. Eu queria poder beija-la, poder fazer amor, sem pensar que está sentindo nojo de mim.

- Eu não tenho nojo de você- Suspirei surpresa.

- Mas sente medo, eu sei que sente- Afirmou- Eu escuto você falando enquanto dorme, em algumas noites você me chama, me pede para não bater em você, me pede para não te tocar. Eu não sou dramático, longe disso- Enxugou algumas lágrimas que caiam sobre sua face- Eu só quero que um dia, você me olhe da mesma forma.

Meu coração acelerou, eu Recuei, abracei meu próprio corpo, buscando que toda aquela sensação passasse.

- Preciso que os dois se acalmem- A terapeuta se colocou entre nós- Posso imaginar o quão difícil está sendo para os dois estarem aqui, dizer todas essas coisas...

- Quero ir embora...- Interrompi.

- Espere- Pediu- Se os dois estão aqui, é porque ambos buscam se acertar e resolver essa situação, se quisessem ir para o caminho mas fácil, já tinham se divorciado. O primeiro passo já foi dado, eu sei com que estão lidando e posso tentar ajudar, preciso saber se estão dispostos a isso?

- Eu estou- Ele respondeu e me olhou esperando a minha resposta.

- Tudo bem.

- Não sera fácil, mas o amor é mas forte que tudo.
Vamos recomeçar, vamos tentar com que ambos se  conheçam novamente, um primeiro encontro seria um início perfeito.

- Claro- Alejandro concordou- Vou começar a planejar.

Ele estava animado, pelo menos parecia estar.

- Eu preciso ir- Peguei a bolsa no canto do sofá- Tenho alguns assuntos importantes.

Ela deu alguns passos em minha direção.

- Preciso que acredite- Sussurrou- É importante, precisa perdoar.

- Obrigada- Recuei lentamente, sendo acompanhada por Alejandro.

Seguimos em silêncio para o estacionamento, ele caminhou em direção ao carro.

- Vou pedir um táxi- Murmurei.

- Levo você para casa.

- Não vou para casa- Neguei- Vou para a empresa.

- Não precisa trabalhar, não hoje- Disse.

- Preciso ficar um pouco sozinha- Me afastei.

- Ana, eu estou tentando. Mas, você me afasta- Ele abaixou a cabeça.

- Tenho alguns assuntos importantes- Apertei a bolsa sobre o corpo- Eu tenho uma consulta.

- Vou com você- Afirmou.

- É só uma consulta de rotina.

- É o meu filho também- Sussurrou.

Não queria discutir, apenas aceitei.
Alejandro me levou direto ao consultório, ele se sentou ao meu lado. Algumas mulheres gestantes estavam aguardando serem chamadas, as barrigas visíveis, dentre elas, lá estava ela.

Luna.

O semblante abatido, os cabelos loiros desanimados, ela não estava animada, não estava feliz.

- Não precisamos ficar aqui- Murmurou Alejandro.

Ele sempre temia o pior.

- Pode ir embora, se quiser- Me sentei em uma das cadeiras, Luna me olhou, um sorriso diabólico sobre os lábios, ela se levantou e veio até nós.

- Irmãzinha- Debochou- Não achei que a traria junto Alejandro- Ela se virou para o meu esposo, que a olhou com indignação- Disse a ela, sobre o nosso bebê. Já escolhemos o nome- Murmurou.

- Ae- Analisei a expressão de ambos- E qual seria?

- Miguel- Acariciou o ventre- É um menino, o futuro Levy. Alejandro escolheu esse nome, estava ansiosa para lhe contar. Estávamos juntos semana passada, ele me pediu segredo, mas eu não gosto de esconder as coisas de você.

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⏰ Last updated: May 12 ⏰

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