Capítulo 17 | Março de 2021

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“O homem prudente vê o perigo e evita-o; os insensatos seguem em frente e sofrem os danos.”
— Provérbios 22: 3

— Você os leva, por favor, filho? — o pastor perguntou ao primogênito, que prontamente assentiu em concordância e tomou as chaves do carro das mãos do pai para cumprir com o que lhe foi pedido

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— Você os leva, por favor, filho? — o pastor perguntou ao primogênito, que prontamente assentiu em concordância e tomou as chaves do carro das mãos do pai para cumprir com o que lhe foi pedido.

Timóteo tinha planos de permanecer na congregação para resolver pendências, entre elas suas próprias com Deus, afinal um ministro não pode cuidar das ovelhas em detrimento de si mesmo. Queria um tempo em seu escritório para ler a Bíblia e orar.

O pastor subia os degraus da escada que ligava a nave da igreja ao segundo andar, onde o gabinete do pastor e outros pequenos espaços se faziam presentes. Quando pisou no segundo andar, percebeu que estava sendo seguido e por isso virou para trás.

— Pai, quer ajuda na organização? — Ed perguntou.

— Organização de quê? — Timóteo franziu as sobrancelhas, preocupado em ter esquecido de algum evento importante.

— Do gabinete.

Timóteo se virou e continuou a pequena caminhada até o próprio escritório e o abriu com sua chave. Depois, adentrou o cômodo para abrir as duas janelas e, com a luz, entendeu o porquê de Ed estar oferecendo ajuda. Aquele ambiente estava imerso num verdadeiro furdunço de Bíblias, papéis e pastas; até roupas e um prato vazio havia espalhado.

— Não lembrava que tinha deixado desse jeito — falou com o filho.

Ed riu e balançou a cabeça.

— O senhor sempre deixa desse jeito. Vou te ajudar.

— Obrigado, filho. — Timóteo sorriu, contente com a atitude do outro, apesar da voz de Alice em sua cabeça alertá-lo de que ele era bagunceiro demais para um homem tão metódico com todo o resto.

A questão era que ele podia muito bem achar-se na própria bagunça. Mas, tentando lembrar-se de onde havia surgido aquele prato e não conseguindo, sua certeza foi abalada.

— Planeja passar o dia aqui hoje, pai? — Ed puxou conversa enquanto colocava as inúmeras Bíblias do pai no local próprio, na estante à esquerda.

— Sim. O irmão Renato vem daqui a pouco para analisarmos os recursos da igreja. Uma família pediu um socorro e ele e eu vamos correr atrás de montar uma cesta básica. Os mantimentos trazidos na Santa Ceia já acabaram.

— Entendi. — Ed agora recolhia da poltrona azul ali presente um casaco preto. Lembrou-se da mãe perguntando ao pai recentemente sobre o paradeiro de tal peça de roupa. — Não é esse o casaco que sumiu?

Timóteo o olhou.

— Céus. Deve estar aí há semanas.

— Se passasse mais tempo aqui dentro, com certeza repararia — gracejou Ed. Um pensamento lhe ocorreu, como vinha acontecendo há alguns dias. Meditou por alguns segundos e decidiu que queria expô-lo ao pai, adiando por mais um instante a intenção que o levou até ali. — Pai, acho que Tim está pronto para assumir a Milchdie — disse. Timóteo o olhou novamente, agora com o prato misterioso nas mãos. — Ele está diferente e tenho certeza de que o senhor tem observado isso.

Lago de Algodão | releitura de Mansfield Park, de Jane AustenWhere stories live. Discover now