"Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus."
— Eclesiastes 5:7Faní teve um sono pesado e sem sonhos — graças a Deus, afinal, sempre que sonhava, era com pesadelo. Despertou lentamente e se remexeu na cama, envolvida pelo lençol leve. Não lembrava de mais nada depois de tia Alice encostar panos gelados em suas nuca e testa.
Ela virou para o lado oposto à parede e sentiu algo em seus pés. Empertigou o tronco para tentar enxergar, mas a janela e a cortina estavam fechadas. Levantou-se e as abriu. Quando a luz do sol entrou no quarto e ela apertou os olhos, percebeu: não estava mais sentindo dor de cabeça! Que surpreendente! Agradeceu ao Senhor em seu coração por tão grande graça, contente pelos sons dos pássaros cantando e das folhas batendo umas nas outras não incomodá-la e sim animá-la.
Virou-se para dentro do próprio quarto e aquilo que seus pés tocaram antes capturou seu olhar. Ela se aproximou da cama e pegou os chapéus nas mãos, confusa. Eram três, todos grandes e de palha, possuindo laços rodeando-os como decoração, um de cor vermelha, o segundo azul com flores brancas e o terceiro, preto. Ela os achou lindos, mas não entendeu o que estavam fazendo ali.
Desviando os olhos para a superfície da cama, Faní encontrou o papel dobrado. Ela o pegou e abriu.
"Bom dia, Faní. Quando acordar, me mande uma mensagem para me dizer se melhorou ou não, por favor.
Comprei esses chapéus para você, a proíbo de sair no sol sem usar algum deles a partir de hoje, tudo bem? E a irmã Angélica recomendou que você tomasse apenas o sol da manhã. Se cuide, Faní. E coma bem (com "bem" quero dizer "mais").
Seu primo favorito, Ed."
De início, Faní ficou ainda mais confusa. Como Ed tinha comprado chapéus para ela? Eram apenas oito e meia da manhã.
Buscou o celular e escreveu as mensagens solicitadas.
Bom dia, Ed.
Obrigada pelos chapéus, são lindos.
E eu vou me cuidar, pode deixar. ✔✔Acabou não perguntando onde o rapaz comprou os acessórios, não queria parecer ingrata. Seus olhos repousaram sobre o de laço vermelho e ela sorriu. Era sua cor favorita e Ed sabia.
O celular apitou com a chegada de uma mensagem.
Ed❤: Está melhor?
Estou, sim. Nem parece que senti dor ontem.✔✔
Ed❤: Glória a Deus! Eu estava orando por você. Ontem a Mary me disse: "amanhã ela acordará como se nada tivesse acontecido". Sabia que era o Senhor falando comigo.
Faní sorriu. Ele ainda estava digitando.
Ed❤: E, Faní, sinto muito por ontem. Espero que a tia peça desculpas.
YOU ARE READING
Lago de Algodão | releitura de Mansfield Park, de Jane Austen
RomanceApós terminar o ensino médio, sem perspectivas de fazer uma faculdade, Stefaní Prado é convidada pela tia para passar um tempo em sua casa, no vilarejo de Laguinhos, onde mora seu querido amigo, Edmundo Bernardo. Faní é uma moça de mente e ambições...