Capítulo 01 | Fevereiro de 2021

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“Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.”
— João 15:15

Fevereiro de 2021

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Fevereiro de 2021. Laguinhos, Minas Gerais.

Na casa Prado nunca havia silêncio. Na infância de Stefaní, eram comuns os sons de um bebê chorando, de algum de seus irmãos fazendo birra, outros correndo pela casa, a mãe brigando e pedindo que parassem, o pai irritado por tudo isso. Quando queria reaver um pouco de paz e sossego, ela aproveitava o restante da propriedade dos Bernardo. Por isso, ao ser convidada pela tia Alice para voltar e passar um tempo no vilarejo de Laguinhos, a moça aceitou sem pestanejar.

Faní era a segunda dentre sete filhos, nessa ordem: Liam, Stefaní, Roberta, Scarlet, Fabrício, Riel e Bernadete. Ela havia acabado de finalizar o seu Ensino Médio, um ano depois de Liam, e não tinha perspectiva alguma de fazer uma faculdade. A ideia de adentrar uma instituição de ensino superior privada ou mesmo pública era inconcebível. A pública mais próxima ficava em Belo Horizonte e Faní não teria condições de se mudar para lá, seus pais possuíam outros quatro filhos em suas dependências. Apenas Liam trabalhava e grande parte de seu salário ajudava nas despesas da casa.

E, para ser sincera, Faní não se sentia triste por não poder conhecer o ensino superior. Ela nunca se identificou muito com qualquer graduação. Sua única preocupação era não possuir algo ao qual dedicar a vida; se nenhuma faculdade a agradava, o que deveria fazer? De qual forma poderia agradecer ao seu Pai e Senhor com seu cotidiano? Eram questões apresentadas constantemente em oração, o que ela fazia neste exato momento, enquanto seus olhos passeavam por aquela linda paisagem campestre. O lago da propriedade dos Bernardo era o seu lugar favorito no mundo.

Faní gostava da história de como o incomum sobrenome se ligou aos Prado.

Os avós maternos de Faní tiveram três filhas: Alice, Norberta e Tânia. As três se casaram num período de dois anos.

A última filha, mãe de Faní, escolheu se casar com o senhor Ivan. Os sete frutos do casamento já foram nomeados.

A segunda filha, Norberta, se casou com um homem debilitado de saúde que, após sete anos de matrimônio, faleceu. Eles não tiveram filhos.

A primogênita, última a se casar, fez a escolha mais surpreendente das três: além de se converter ao Evangelho, em pouco tempo se casou com um presbítero viúvo, pai de dois filhos. Alice Prado se tornou Alice Bernardo, casada com Timóteo e madrasta de Timóteo Júnior e Edmundo, de sete e seis anos, respectivamente. Junto do esposo, teve duas filhas, Maria e July, com um ano de diferença entre elas.

Por conta da enorme propriedade de Timóteo e as dificuldades financeiras pelas quais o casal Prado estava passando em meio à primeira gestação deles, as famílias uniram o útil ao agradável: Tânia e Ivan foram morar no campo. Anos depois, com o falecimento do senhor Honório, esposo de Norberta, a mulher também se instalou no mesmo pedaço de terra que as irmãs.

Lago de Algodão | releitura de Mansfield Park, de Jane AustenWhere stories live. Discover now