Capítulo 15 | Março de 2021

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“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
— Mateus 11:15

Negar estar apaixonado por Mary Crow seria uma burrice

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Negar estar apaixonado por Mary Crow seria uma burrice. Edmundo não sabia qual aspecto, qualidade ou atividade dela o encantava mais.

Seu sorriso era tão bonito. Cheio de simpatia, meiguice e gentileza, exalava uma feminilidade que o atraía cada vez mais. Seus gestos e sua personalidade eram tão delicados. Seus julgamentos eram sagazes, justos e verdadeiros. Ela era divertida. A cada duas palavras suas, três referiam-se à fé no Senhor Jesus e os conduziam a debates teológicos.

E agora, ele tinha mais um motivo para suspirar durante o dia e sonhar durante a noite: a visão dela tocando harpa.

Quão graciosas foram as suas apresentações. Ed se deleitava mais com a primeira, a qual estava recheada das novas sensações e visões que o instrumento lhe proporcionou. As notas suaves, os dedos bailando por entre as cordas verticais, os cabelos castanhos e ondulados caindo para esconder parcialmente o rosto e o ombro da musicista, tocando o vestido amarelo de estampa florida. Foi lindo! Ed esteve a ponto de emocionar-se.

Não acreditava ter-se envolvido romanticamente tão rápido, e isso só podia ser resposta das suas orações. Sempre orou para que o Senhor guardasse o seu coração para se apaixonar, amar e se sacrificar por somente uma mulher em toda a sua vida. E agora, com tantas novas sensações, num contexto em que poderia casar-se com uma mulher piedosa e liderar e sustentar sua casa, sentia-se como se nas nuvens.

No entanto, ainda não estava completamente seguro.

Haviam leves traços nos comportamentos e falas de Mary que o deixavam um tanto indeciso, principalmente em relação à pauta chamado. Ela afirmou certa vez que não se via casada com um ministro do Evangelho por conta do cargo acarretar responsabilidades das quais ela tinha certeza que não daria conta. Isso inibiu Ed de comunicar à ela o seu chamado pastoral; ainda não tinha encontrado a hora certa para tal coisa. Talvez, se aguardasse com paciência, ela aceitaria, respeitaria e concordaria com o chamado dele, caso correspondesse aos seus sentimentos.

E Ed acreditava que ela correspondia. Ele só precisava, em oração, esperar pelo momento certo das coisas acontecerem.

Ed dirigiu pelas ruas de Laguinhos a 30km/h para não atropelar um morador desavisado do trânsito inexistente. Camila já estava do lado de fora de casa, acompanhada por um homem que Ed não reconheceu de imediato. Pelas feições da moça, estavam discutindo. Ed estacionou bem ao lado dos dois, mas antes mesmo de abaixar a janela do acompanhante para falar com eles, o rapaz deu as costas à Camila e se afastou. A Ambrósio tinha o rosto vermelho, o cenho franzido e o peito subindo e descendo com maior velocidade que o normal.

Ela pareceu ser despertada de uma hipnose com a voz de Ed lhe perguntando se estava tudo bem. Ela explicou brevemente que se desentendera com o rapaz.

— Ele é daqui? — Ed perguntou ainda, sem conseguir se lembrar da onde conhecia aquelas feições.

Lago de Algodão | releitura de Mansfield Park, de Jane AustenWhere stories live. Discover now