Capítulo 25

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SE tinha uma coisa que todos nós sabíamos era que Hyemin tinha um problemão. Certo, eu sabia que a família de Hyemin era conservadora, apesar do filho mais velho, Heeseung ser o maior mulherengo que eu já conheci. Era óbvio que os pais de Hyemin não eram exatamente a favor da comunidade LGBT e imaginei o sufoco que seria ser lésbica tendo pais assim. Hyemin estava sentada no chão do corredor, soluçando baixinho enquanto Bokyung alisava seu cabelo e Sunghoon usava pedaços de papel que se usa para secar as mãos para enxugar as lágrimas dela. Eu me mantive em pé, neutro, eu não sabia como reagir a essa situação.

—Meu Deus! Hyemin!— Ouvi Chaeyeon atrás de mim.

Olhei para trás, Chaeyeon e Jake estavam indo em direção a nós, o sorriso estúpido de Jake sumiu enquanto Chaeyeon ia rapidamente até Hyemin. O australiano foi até mim, me olhando como quem perguntava o que estava acontecendo.

—A mãe dela descobriu que ela gosta de garotas.— Falei baixinho.

—Que merda.— Ele murmurou em resposta.

Hyemin foi lentamente se acalmando e Sunghoon se ofereceu para levar ela para casa, já que eles vão juntos de toda a forma, o clima entre os que ficaram acabou ficando bem estranho então fomos rapidamente para fora da escola. Como eu peguei Bokyung em casa, decidi que seria uma boa ideia deixar ela de volta.

—Chaeyeon, você também não quer uma carona?— Perguntei.

—Eu vou ter tutorias de física com Jake.

De fato, Jake era ótimo em física, então apenas dei de ombros aceitando a resposta dela. Ele em sua normalidade faria um comentário estúpido, mas ele só ficou completamente calado, acho que qualquer coisa que fosse possível sair da boca de Jake seria inadequado quando se avalia o pesar do clima entre nós quatro. Bokyung rapidamente puxou a manga do meu blazer, me puxando para a bicicleta, que estava amarrada a um poste. Desamarrei a bicicleta desajeitadamente, deixando a corrente dela cair, a qual eu peguei e enfiei na bolsa.

Subi na bicicleta e Bokyung subiu na garupa, abraçando meu corpo mais forte do que o comum, eu decidi não reclamar e comecei a pedalar em direção a casa dela. Eu me sentia tão preocupado por Hyemin, mas ao mesmo tempo, o abraço de Bokyung me fazia tão confortável e calmo, parecia que todas as minhas preocupações estavam desaparecendo. Pedalei até a casa dela, descendo da bicicleta primeiro e ajudando-a a descer como se costume, Bokyung parecia estar mais para baixo desde que soube sobre a situação com Hyemin. Ela olhou para mim fungando seu nariz enquanto a pontinha dele ficava vermelha como se ela estivesse prestes a chorar, senti meu coração afundar em meu peito enquanto ouvia sua respiração ficar mais curta e me aproximei, enxugando pequenas lágrimas que se formavam abaixo de seus olhos.

Você acha que ela vai ficar bem? Bokyung sinalizou. Eu suspirei.

—Vai dar tudo certo, eu prometo.— Falei, movendo minhas mãos para seus ombros, olhando para os olhos dela. —Não se preocupe com isso, é seu aniversário hoje, posso te levar naquele campo amanhã.

As lágrimas haviam se cessado rapidamente mas ela ainda fungava seu nariz avermelhado. Eu acariciei os ombros dela, lentamente e gentilmente tentando confortar ela da melhor forma possível, finalizei deixando um selar em sua testa, enquanto eu ouvia sua respiração suavizar, ela virou sua cabeça para cima, olhando diretamente para mim, ainda com os olhos um pouco chorosos.

Obrigada.

—Eu só fiz o mínimo que eu deveria fazer.— Dei de ombros.

Não só por isso, pela a letra que você compôs pra mim, por ter sido legal e falado comigo, por ter me levado pra a casa de praia, pro restaurante chique, pro campo... Obrigada por tudo. Ela sinalizou antes de me dar um abraço apertado. Senti o calor do seu corpo contra o meu, passei os meus braços ao redor de sua cintura, sentindo seu queixo descansar em meu ombro.

Passei minha mão por todo o seu cabelo até chegar nas pontas e deixar minha mão no meio de suas costas, eu não queria que aquele momento acabasse nunca, eu sentia que aquele abraço tinha todas as palavras que Bokyung nunca foi capaz de dizer a mim, senti toda a sinceridade naquele abraço. Fechei meus olhos, apenas aproveitando o momento até que senti os braços dela pouco a pouco se afastando do meu corpo enquanto eu abria meus olhos. Suas bochechas estavam vermelhas e ela tinha uma atitude um pouco tímida, eu apenas sorri, dando um beijo em sua bochecha antes de acenar para ela em despedida, ela sorriu de leve, antes de caminhar até a porta da frente, acenando para mim e então entrando em casa.

(...)

—Vamos tocar essa música.— Hyemin disse com uma determinação estranha até para ela. —Hold On Till May, eu vou cantar.

Eu tinha muitas perguntas que iam entre o que os pais dela haviam feito sobre a sua sexualidade e o porquê de um praticamente "não vou cantar nem se me pagarem" simplesmente virar um "vamos tocar essa música", era bizarro, os olhos dela pareciam queimar em determinação, fazendo um contraste com a expressão sem muita emoção de Sunghoon. Jake parecia não se importar muito, pois estava concentrado demais em olhar algo no celular.

—Então podemos começar a ensaiar hoje mais tarde.— Falei, escondendo meus questionamentos.

—Não, vamos ensaiar agora mesmo, o professor de inglês deixou a gente dar uma escapada da aula dele porque aparentemente tocar músicas em inglês já é uma boa prática.— Ela se levantou de sua cadeira, colocando o seu baixo que estava coberto pela a capa nas costas. —Vamos, agora.

—O que?— Jake guardou o celular confuso.

—Vamos, nenhum de vocês dois precisa de aula de inglês, é a língua nativa de vocês.— Ela insistiu, sua voz era mais afobada e insistente. —E quanto ao Sunghoon, eu mesma ensino a ele.

Eu e Jake nos entreolhamos, Sunghoon parecia bem neutro nessa situação, se levantando em silêncio. Nós nos levantamos, seguindo Hyemin, que caminhava em passos rápidos e apressados, muito incomum para ela. Nós entramos na sala de prática e Hyemin não nos deu muito tempo de se preparar antes de pedir que nós começássemos a tocar. Minha sorte era que eu já tinha a letra decorada e era fácil perceber que o instrumental era em grande parte uma repetição de quatro notas: sol, lá mi bemol e si bemol. Jake era ótimo em improvisar e Sunghoon provavelmente já havia procurado as notas da música.

—Um, dois, três, quatro.— Jake bateu as baquetas uma contra a outra.

Comecei a introdução, Sunghoon tocou as mesmas notas no teclado e então o primeiro verso começou, os instrumentos de Hyemin e Jake se juntaram aos nossos. Os primeiros versos correram bem, então chegou na parte que eu tinha medo: a parte de Hyemin. Eu terminei a minha parte que vinha antes da dela, então ela começou a cantar, tudo saiu melhor do que eu pensei. Consegui ouvir Sunghoon parando de tocar com uma das mãos, olhei para trás e o vi segurar a mão de Hyemin com sua mão direita enquanto tocava com a mão esquerda. Fiquei confuso, parecia que eles dois eram um casal, ou quase isso, então uma pergunta surgiu na minha cabeça:

Ela não gostava de meninas?

Hear my heart Where stories live. Discover now