Capítulo 13 | Março de 2021

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No inverno dos seus 12 anos, Faní protagonizou uma acalorada discussão com o pai em casa. Não se lembrava mais do motivo, mas apenas que caminhou pisando duro até Ed, na casa principal, e desabafou por 15 minutos sobre como seu pai era um homem terrível, não merecia seu amor e muito menos o respeito que tanto exigia. Ed a escutou pacientemente, no entanto, ao final do relato, pegou a Bíblia e apresentou o versículo em Êxodo 20:12 para a prima — “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá” — e a repreendeu em amor. A honra aos pais não deve ser condicional, mas infindável e sem reservas, disse ele; somente assim Faní poderia demonstrar o amor de Cristo ao tio Ivan e cumprir seu dever para com o Salvador.

E um dos conselhos de Edmundo à mocinha foi: policie suas palavras acerca daqueles a quem você deve honra. Ele a instruiu a não falar mal do pai ou da mãe para ninguém, ainda que eles realmente tivessem qualidades ruins. Caso precisasse desabafar, que ela procurasse alguém de extrema confiança, como seu pastor ou uma mulher piedosa, para pedir orientação e ajuda em oração.

Naquela noite, muito envergonhada, Faní pediu perdão ao pai e nunca mais ousou dar mal testemunho sobre a pessoa dele. Claro que não saía mentindo, mas, quando era necessário falar dos pais, honrava-os exaltando aquilo que havia de bom neles. Por exemplo, Ivan nunca escondeu quando desgostava de alguém que se aproximava da filha, e em todas as vezes tinha motivos plausíveis para proibi-la de ver essa pessoa. Tânia nunca deixava os filhos vestirem roupas sujas ou amassadas, ela sempre fazia questão de mantê-las cheirosas e alinhadas para eles usarem, ainda que não gostasse de fazer nenhum outro trabalho doméstico.

Ivan e Tânia eram cuidadosos em seus modos peculiares. Assim, com o passar dos anos, Faní aprendeu, verdadeiramente, a amar  seus pais como o Senhor ordenou. Talvez eles nunca conhecessem a Cristo, era uma possibilidade; mas Faní sabia que estava fazendo a sua parte, tanto consigo mesma como com as pessoas ao seu redor.

Ela estava contente com isso, no entanto, o fato de ela e Ed estarem analisando uma moça de forma tão aberta denunciava à Faní que algo estava acontecendo bem diante dos olhos dela.

— O mérito é todo de Cristo, Ed — respondeu, por fim.

— Eu sei disso. — Ed continuava a sorrir. — E sei também que Ele pode usar a sua vida para auxiliar a da Mary. Tente se aproximar mais dela.

— Ed, eu... Não sei. — Faní foi sincera, acuada diante das expectativas dele. — Não temos muitos assuntos em comum. Sempre que me pergunta algo e eu respondo, ela se volta à outra pessoa, como se eu não tivesse... respondido certo, algo assim.

— É uma impressão sua, eu garanto — Ed disse e esticou a mão. Pegou uma de Faní e a acomodou entre seus dedos com carinho e delicadeza. — Você seria uma benção nessa área da vida dela, Faní, assim como é em tantas outras nas vidas de tantas outras pessoas, inclusive na minha. O que seria de mim nos momentos de indecisão se você não estivesse aqui?

— Deus enviaria outra pessoa — ela pontuou.

— Sou grato a Ele por ter enviado você — insistiu, cheio de amor em suas palavras.

Faní não conseguiria recusar ao pedido, ainda que seu coração estivesse pesado. Ela assentiu e o rapaz pressionou levemente sua mão, satisfeito.

Ed se sentia leve por ter a mesma opinião que Faní sobre Mary Crow — a estrangeira tinha, sim, as qualidades que vinha vendo —, e se alegrava pela prima comprometer-se a aproximar-se dela. Estava particularmente desejoso por ver uma amizade florescer entre as duas.

— Me perdoe por ter atrapalhado a leitura — Ed pediu, sentindo-se culpado. — Deve estar ansiosa para mais momentos protagonizados por Isaque Martins.⁸

Faní arregalou os olhos e imediatamente sentiu o rosto queimar.

— Por que diz isso?

— Porque você sorri a cada mínima menção ao nome dele. — Faní cobriu o rosto com o livro, causando o sorriso travesso de Ed. — Ele é um mocinho cristão desejável, pelo visto.

— Ed — Faní repreendeu, morrendo de vergonha.

O Bernardo riu e ela sentiu um toque na cabeça. O rapaz bagunçou os cachos da franja dela e voltou a deitar na rede. Faní o olhou.

— Estou apenas te provocando, minha doce e querida Faní — disse, sorrindo. — Seus padrões têm de ser altos, eu jamais te deixaria casar com um pé-rapado. E agora nós podemos ler, eu prometo que ficarei quieto. — Ele passou os dedos na boca, como que fechando um zíper.

Faní começou a leitura, mas o modo carinhoso com o qual Ed a tratou fê-la ter que reler na mente algumas frases várias vezes até recobrar a própria concentração.

Naquele momento, não deixou seus pensamentos meditarem a cerca da nova informação que recebeu, no entanto, quando estivesse sozinha em seu quarto para dormir, ela a perturbaria.

Ed estava interessado em Mary.

⁸ Personagem de “Amor com Propósito”, de Daiane Antonio

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⁸ Personagem de “Amor com Propósito”, de Daiane Antonio.

Gente, a cada capítulo que passa, mais eu admiro o caráter cristão da Faní e mais me preocupo com Ed

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Gente, a cada capítulo que passa, mais eu admiro o caráter cristão da Faní e mais me preocupo com Ed... vocês também? 🤡

Ai, ai, vamos ver onde isso vai dar.

Até breve!

Com amor, Nathaly.

Lago de Algodão | releitura de Mansfield Park, de Jane AustenWhere stories live. Discover now