14 - O Rapto

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- Tudo está devidamente preparado, como combinamos, até já consegui o dinheiro para pagar um taxi até o esconderijo. - disse Luan, como um soldado responde ao seu comandante.

- Vamos! Não há mais espaço para hesitação - ordenou Natã, cujas instruções agora eram rígidas, sem espaço para negociações como antes.

A aparência de Natã permanecia horrenda e intimidadora. Desde o momento em que revelou sua verdadeira face a Luan, sempre se manifestava com sua forma grotesca, como um lembrete constante do domínio implacável que exercia sobre o pupilo, ainda mais agora que conseguia aparecer quando quisesse sem a necessidade do álcool como porta de entrada.

Submisso, então, Luan se levantou roboticamente, movido pela força invisível que o aprisionava. Logo, despistou Luke e foi seguindo pelas ruas vazias em direção à casa de Ian. O peso da submissão era devastador, mas foi andando, apenas seguindo as ordens de seu algoz, sem qualquer controle sobre seu próprio destino.

Como era esperado, a criança brincava no quintal após a aula, alheia aos perigos que rondavam o seu mundo colorido. Luan se aproximou cautelosamente, segurando o doce envenenado em sua mão trêmula.

- Você é o Ian, certo? - disse Luan tentando ganhar a confiança do garoto e continuou: - Isto é para você.

A criança olhou com desejo para o docinho confeitado com granulado colorido, mas uma expressão de desconfiança apareceu em seu rosto inocente, seguido por um gesto negativo com a cabeça.

- Não posso pegar nada de estranhos. - confidenciou.

Luan sentiu o coração apertar, ele sabia que tinha que agir rápido antes que alguém percebesse sua presença.

- Você tem razão, sabia? Você é muito esperto, Ian! - respondeu Luan ardiloso e prosseguiu: - Mas eu não sou um estranho, sou amigo da sua família, foi sua mãe que me pediu para te entregar.

Ian olhou para Luan tentando lembrar de onde conhecia aquele rosto familiar, mas sem se recordar apenas perguntou: - Qual das minhas mães me mandou o doce?

- A Jasmim, você sabia que nós somos grandes amigos? - perguntou sem demonstrar que estava cada vez mais aflito, e se sentindo terrível por enganar aquele menininho inocente.

- Verdade? Mas ela não gosta que eu coma doces, é sempre a mãe Belle quem me deixa comer. - Ian em sua fase de questionador, não deixava de tentar entender tudo o que ouvia.

Luan pensou rápido em uma desculpa plausível: - Eu sei disso, mas como ela vai chegar um pouco mais tarde hoje, ela quis te agradar com um docinho.

- Ela vai demorar muito? - perguntou prolongando a conversa, e Luan, à beira de um ataque de pânico, continuou tentando ganhar a confiança de sua vítima, dizendo: - Não muito, só um pouquinho... Ah! Você sabia que também sou amigo da sua irmã, a Dandá?

- Verdade? E do papai? - perguntou Ian realmente interessado.

- O Elohim, sim, claro, é um amigo antigo. Eu até já fui na casa dele na praia. - afirmou Luan, já colocando o doce na mão de Ian. - Mas o titio está com pressa, preciso ir. Até mais, Ian!

- Ei moço, como é o seu nome? - gritou enquanto Luan se afastava. Luan fingiu não ouvir e apertou o passo até sair da vista do garoto.

- Excelente trabalho, Luan. A primeira parte do trabalho foi realizada com sucesso! - celebrou Natã, colocando suas mãos no ombro de Luan. E prosseguiu: - Estou orgulhoso de você!

Luan fechou o semblante amargurado, sem ter motivos para comemorar.

Ao ouvir essas palavras, uma lembrança o atormentou no fundo da alma: relembrou vividamente o dia em que sua mãe lhe disse exatamente essas palavras: "Estou orgulhosa de você!". Mas isso foi em uma circunstância bem diferente, quando conseguiu o seu primeiro emprego.

Muitas outras lembranças inundaram sua mente em decorrência desta, fazendo-o dar um leve sorriso, e levando Natã a pensar que ele também havia gostado de cumprir aquela impiedosa missão. Mas isso apenas causava em Luan a sensação desoladora de perder a alma.

- Depois da tarefa cumprida, você sentirá o gostinho do poder e sempre vai querer mais! - disse Natã e ordenou energicamente: - Vá ver se o menino já está sonolento o suficiente.

- Está começando a fazer efeito! - afirmou Luan, recebendo uma bronca em resposta. - Eu disse que era para colocar mais sonífero! - respondeu Natã, zangado e impaciente, fazendo Luan estremecer.

Casulo - Os ReencarnadosWhere stories live. Discover now