8 - O Acordo

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Luke lambia o rosto de Luan quando este recobrou a consciência com sua cabeça latejando. O desafortunado abriu os olhos e virou para o outro lado em posição fetal, sem dar atenção ao cão insistente. Pela primeira vez, chorou sem estar sob o efeito da bebida, mas somente das palavras de Natanael que eram certeiras e destrutivas.

Após horas de uma atônita entrega à amargura, Luan notou novamente o cão com seu olhar protetor e acolhedor. Puxou-o para perto de si e correspondeu com carinho, fazendo com que Luke se deitasse para receber mais agrados na barriga. Ao mesmo tempo, com os olhos inchados e vermelhos, refletia com palavras de baixo calão sobre como havia se tornado essa figura decadente.

- Desisto! - exclamou ao cão com a voz entrecortada, começando a puxar seus próprios cabelos enfurecidamente. - Ou eu cometo essa insanidade que Natanael deseja, ou acabo comigo de vez!

O olhar vidrado e decidido mirava o que restava de bebida na garrafa, e com a respiração ofegante, buscava a coragem de abrir o "portal" e se render a Natanael. Suas mãos chegavam a encostar no vidro, mas voltavam em direção ao próprio rosto, como se pudesse se esconder atrás delas, e às vezes voltavam-se para Luke, que insistia em ganhar mais atenção e abanava o rabo, sem entender a inquietação do dono.

Após várias tentativas, num rompante agarrou a garrafa e colocou-a na boca frenéticamente, absorvendo os goles que lhe queimavam a garganta e a alma. Não demorou muito para a risada sarcástica de Natanael ser ouvida e o ar se transformar na costumeira bruma desalmada.

Luan travava a luta pela sanidade e se contorcia dentro do próprio corpo, com suas unhas cravadas nas palmas das mãos já tão machucadas, e os dentes se contraindo dolorosamente.

- Me chamou, caro amigo Luan? - finalmente disse Natanael com os olhos fixos em direção à sua presa.

Cada vez mais à vontade, Natanael por vezes se levantava, caminhava pelo ambiente, observava tudo e voltava à sua posição habitual com os braços cruzados ao lado do infeliz.

- Chamei sim! - finalmente Luan respondeu. - O que você quer que eu faça?
- Mal posso acreditar no que ouço! - gargalhou Natanael.
- O que você deseja? - insistiu Luan.
- Acalme-se, amigo! Certo, vou dizer finalmente! Primeiro, assuma que é você quem quer!
- A única coisa que quero é que você vá embora, fantasma maldito!
- Por que você reprime seus instintos? Faça a sua vontade e isso te libertará!
- Minha vontade é acabar com você! - disse Luan, partindo para cima do invisível para apertar seu pescoço, mas o atravessou e caiu no chão após bater a cabeça contra a parede.

Natanael se aproximou e estendeu sua mão em ajuda para levantá-lo, mas Luan ignorou e, cambaleante, voltou ao sofá, mantendo as mãos na testa machucada.

- Eu gosto de você, Luan, só não sei por que se tornou esse miserável assustado e frágil, nem parece aquele ao qual me simpatizei! Mas posso te ajudar a voltar aos bons tempos. - Natanael declarou, enquanto Luan explodia em fúria, respondendo:

- Não quero sua ajuda, quero que desapareça!
- Assim você me confunde, não foi você quem me chamou? - Natanael concluiu com o olhar de caçador, provocando Luan, que gritou:

- O que você quer, Natanael?
- Para que tanta formalidade? Me chame de Natã. - Natanael disse, provocando ainda mais impaciência em Luan, que respirou fundo e o encarou com fúria.

- O que você quer? - disse enfaticamente, como se separasse as sílabas.

"Natã" foi de um lado ao outro com uma mão no queixo de forma pensativa, e após um silêncio perturbador disse:

- Primeiro, você precisa voltar para perto da família da Jasmim e descobrir quando Elohim vem para cá, depois, é simples: ACABE com ELE! - finalizou com uma voz sinistra, e argumentou: - Aquele miserável tem que pagar pelo que fez com a Ísis, não tem?

Antes, Natã era apenas uma sombra enigmática, murmurando frases escassas no vácuo da escuridão, mas sem diálogos complexos. No entanto, agora, sua presença se tornava cada vez mais densa e real. E naquele instante crucial, Luan sentiu cada gota de insanidade que a conversa com Natã transmitia, a ponto de ser aniquilado no sofá, atônito e desorientado.

Casulo - Os ReencarnadosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora