11 - Conexões

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As semelhanças entre Ian e Elohim eram notáveis, destacando claramente a filiação do pequeno. Cada traço do rosto, gestos e até a forma peculiar de falar eram reflexos do pai, como se o tempo tivesse esculpido neles a mesma essência. Era uma herança genética profunda, conectando-os além do acaso.

- Como eu não percebi isso antes? Você já sabia, não é, Natã?

- Como eu poderia saber se estou sempre ao seu lado, meu amigo? - disse o companheiro invisível com um tom dissimulado.

- Parece que não somos tão amigos assim; você está me manipulando e cheio de mistérios! - afirmou Luan contrariado.

- Nem tudo precisa ser dito, querido Luan, mas posso garantir que eles escondem histórias que você adoraria ouvir. - respondeu Natã com um sorriso intrigante.

- Por que você não conta de uma vez e para de fazer mistério? - questionou Luan já sem paciência.

- Você precisa ouvir deles, especialmente do menino, para ser mais exato.

Luan sabia que não adiantaria insistir naquela conversa, então apenas questionou: - Já que estamos juntos neste propósito, posso pelo menos, saber por que você odeia tanto o Elohim?

- Não odeio meu papai. - Natã falou, com um sorriso irônico e um olhar impiedoso.

- Lembro de te ouvir chamando ele de pai lá no hospital, mas ele não tem nem idade para ser seu pai, deve ter pouco mais de quarenta anos, como eu.

- Agora ele tem essa idade, mas ele já teve outras idades, aparências e nomes, assim como nós. - respondeu Natã se comprazendo da confusão que causava em Luan.

- Do que você está falando? - perguntou Luan com seus pensamentos embaralhados, mas sem tirar os olhos da movimentação que via na casa vigiada.

Natã, hesitante, quebrou finalmente o silêncio, incentivando o pupilo a beber mais uns goles para manter aberto o portal de comunicação entre eles.

- Elohim já foi meu pai sim, mas isso foi há muitas décadas ou séculos, em vidas que ficaram esquecidas no tempo. - Natã fez uma pausa e puxou o ar com peso, antes de prosseguir: - O desalmado me vendeu como se eu fosse um mero objeto, sem considerar os horrores que eu passaria nas mãos daqueles que me compraram e escravizaram. Mesmo conhecendo bem a desumanidade a que éramos submetidos, já que ele mesmo já tinha sido escravo e não fazia muito tempo que havia ganhado a liberdade.

Luan se viu em completo silêncio diante de tamanha crueldade, afinal o que dizer sobre alguém que teve coragem de vender o próprio filho?

- Elohim tinha motivos obscuros e extremamente egoístas para me vender. Estava obcecado pelo poder e pela busca da imortalidade, disposto a sacrificar tudo em seu caminho. Fui apenas um peão descartável em seu jogo de ambição desmedida.

Luan, dirigiu um olhar carregado de compaixão para Natã, coisa nunca antes vista. Em meio ao silêncio, buscou palavras de consolo, mas suas expressões faciais revelavam a dificuldade em encontrá-las. Por fim, expressou apenas um questionamento: - Só não entendo uma coisa, de certa forma, você fez Elohim matar a Ísis. Por que isso? Por que ela?

- Eu não estava contra a minha irmãzinha. - disse com ironia, sabendo que Luan ficaria boquiaberto com a revelação, e continuou: Apesar de nunca ter entendido o porquê que ele a protegia e não a vendeu também como fez comigo.

- Isso significa que Elohim era pai dela também?! - finalmente Luan comentou impactado

- Mundo pequeno, não é mesmo? E eu até gostava dela naquela época, meus problemas sempre foram somente com esse maldito! - vociferou colérico, Natã sabia que as fatalidades entre ele e o Elohim precediam esse fato da escrivadão, mas já havia confidenciado além do que deveria.

Casulo - Os ReencarnadosWhere stories live. Discover now